De um lado o PCC. Traficantes. Violentos. Mandam nas prisões. De outro a ROTA. Matam. Torturam. De um lado os bandidos. Do outro a polícia. E às vezes, vítimas colaterais da “guerra” morrem os civis, no dizer dos jornais. Mas, isto é a verdade? De onde surge esta onda de violência que se abate e atinge todos?
De um lado o PCC. Traficantes. Violentos. Mandam nas prisões. De outro a ROTA. Matam. Torturam. De um lado os bandidos. Do outro a polícia. E às vezes, vítimas colaterais da “guerra” morrem os civis, no dizer dos jornais. Mas, isto é a verdade? De onde surge esta onda de violência que se abate e atinge todos?
A existência de um lumpemproletariado, de desclassados que vivem fora do processo de produção e saqueiam proletários e, de vez em quando, um burguês ou pequeno burguês para viver, é uma consequência trágica do capitalismo que não consegue prover empregos para todos e mantém bilhões de pessoas em situação de exploração brutal e opressão enlouquecedora.
O desgraçado que cai nesta vida, dificilmente escapa de suas consequências. Para ele, é matar ou morrer, é explorar o outro como forma de vida, é ser mais forte e mais rápido até chegar alguém mais forte, mais rápido, melhor armado, ou melhor, organizado e tirar sua vida. E os bandidos se organizam, em bandos, quadrilhas. E quando se trata do tráfico de drogas, “negócio” altamente rentável, a ordem de cima, do grande capital que movimenta este tráfico reúne todos, em prisões e fora dela em grandes organizações: os carteis da Colômbia, os cartéis de Sinaloa ou os Zetas, e outros bandos do México, o PCC em São Paulo. Armados para defender o seu “negócio” eles rapidamente dominam e organizam uma boa parte do resto da bandidagem. Em alguns casos, impõe uma nova “ordem” no bairro. Matam e torturam quem não segue as regras.
Para os trabalhadores que moram nos bairros populares, é a tragédia: é o traficante que seduz teu filho, teu irmão para o caminho “fácil” da droga e do banditismo, é o cara que te aponta o revolver na cara e leva teu salário, teu celular ou teu carro. É o cara que estupro tua irmã ou tua mulher, que bate na tua cara se você se revolta. A vida não é fácil para o trabalhador que mora em um bairro popular, seja este apelidado de “favela” ou “comunidade”. E a polícia? Quando vem, chega atirando ou batendo em todo mundo, arrebenta a porta da tua casa com o coturno e bate em todo mundo como se lá todo mundo fosse bandido.
Lembremos: Engels já explicou que o Estado é uma classe organizada, a violência organizada, para impor a sua ordem a sociedade (origem da família, da propriedade privada e do Estado). E numa sociedade em que “faltam” coisas, é necessário alguma “ordem” para que a lei do mais forte não valha sempre. Trotsky (A revolução traída) explicou que quando temos uma fila, se não temos um guarda do lado, alguma hora alguém “mais forte” vai empurrar os velhos e mulheres e entrar na frente. E frente aos bandidos, aos roubos do dia a dia, a única saída que trabalhadores, que o povo vê, é uma polícia que seja “educada” com os trabalhadores, mas maltrate os bandidos. Assim é que a coisa é apresentada nos programas de TV.
Espalha-se pelo dia a dia, nos programas de TV que exploram este filão, nos programas de rádio o mantra: bandido bom é bandido morto. Se antes se comentava em jornais que pingavam sangue, agora temos um novo tipo de reportagem, que teleporta rios de sangue casa adentro das pessoas.
E os governantes, esses representantes da burguesia que morrem de medo de tudo e de todos, encolhem-se e ordenam a repressão. Às vezes, bem pior que os bandidos.
A ROTA em ação
ROTA, BOPE, Polícia de Choque. O nome muda. Mas a função é a mesma. Trata-se de uma polícia especializada, treinada para a repressão, seja aos movimentos de massa, seja aos criminosos em ocasiões especiais.
Notícia de jornal: Rota mata bandidos que se organizavam para matar policiais. E o governador Alckmin declara em jornal “quem não reagiu está vivo”. Os jornalistas, infelizmente para o governador e sua polícia, pergunta daqui, pergunta dali chegaram a uma história um pouco diferente: tratava-se de um tribunal que julgava um homem acusado de estupro em um bairro popular, tribunal montado pelo PCC. O “tribunal” acabava de decidir pela inocência do acusado quando chegou a ROTA. Atirando. E matou todos: os acusados, os acusadores, juízes e carrascos deste singular tribunal. Sim. Bandido bom é bandido morto e quem conversa com bandido, bandido é, ainda que no caso se tratasse inclusive de alguém que tinha sido acusado e sequestrado e nada tinha a ver com a história!
Mas é só isso? Lembremos que em Pinheirinhos, para desocupar um bairro popular que há anos era ocupado por trabalhadores sem moradia, a violência também foi indiscriminada. E ela é assim em qualquer bairro popular. E todo mundo que morre, sempre foi um “auto de resistência”, em que com a vítima sempre é encontrado um pacote de maconha ou cocaína e um revolver. Nunca, nunca, a polícia mata alguém que não esteja armado e traficando drogas. E quando os parentes reclamam que era um rapaz trabalhador, que estava no seu primeiro ou terceiro emprego, que nunca tinha se envolvido com droga, que era um professor, que era um motorista, um office-boy ou um motoqueiro, é sempre o mesmo: choro de família que não quer ver a realidade. É mais uma família que chora desesperada, frente à violência. A repressão um dia mata um trabalhador para pegar o seu salário e outro dia mata um trabalhador que vira traficante e porta arma (e não adiantam as testemunhas da família, de vizinhos quando aparece um corajoso, de um padre ou pastor que seja mais honesto, eles estavam apenas… enganados, segundo a polícia.
A crise e a violência
As crises econômicas aumentam brutalmente a violência. A época das maiores guerras de gangues nos EUA, a época em que a “Cosa Nostra” se transferiu da Itália para os EUA foi na década de 1930-1940, quando ficaram famosos bandidos como Al Capone, em que Chicago ficou conhecida (ainda hoje nos cinemas) pelas guerras de gangues. Agora, com a nova crise, as guerras de gangues espalham-se pelo mundo: Colômbia, México, Guatemala. Mas no Brasil isto também acontece. De onde nasce isso? Nasce do fato que o tráfico de drogas, que mantém e embala esta guerra, funciona como todo negócio: ele nasce com um lucro estupendo, aonde se vende o produto acima do seu valor de produção se obtém um lucro extraordinário. Depois a concorrência capitalista baixa o preço (o preço da maconha e da cocaína baixaram, nascem novos produtos mais baratos, como o crack, etc.) e entram novos produtos na concorrência: as drogas sintéticas. Resultado, num mercado totalmente “livre”, fora dos esquadros do estado burguês, a concorrência se resolve aos tiros. Um minuto, mas e o Estado? E a violência que é monopólio do Estado? O problema é que para fazer isso ou se consegue concorrer com o Estado ou, o que é mais frequente, se corrompe uma parte do aparelho de estado para que “lute” ao seu lado. Dai que as batidas, as “incursões” têm endereço marcado: favorecem alguns e prejudicam outros.
No Rio de Janeiro, resolveram o caso da maneira mais simples: ocupação sistemática de todos os bairros populares (o que vai abrir espaço para uma imensa especulação imobiliária, com valores maiores que os envolvidos no tráfico de drogas) e, ao mesmo tempo, a “permissão” implícita para o “tráfico não violento”. Em São Paulo, enquanto não se chega a um acordo deste tipo, a violência campeia e impera.
A decomposição da sociedade capitalista prossegue sua marcha rumo ao caos. Todos os tecidos sociais se degradam e se rompem. O capitalismo, baseado na exploração e opressão de uma massa imensa de homens e mulheres que nada ou pouco têm, é cada dia mais incapaz de manter sua própria ordem social. Seu Comitê Central, o Estado burguês, se desagrega e se corrompe, e entra em guerra com suas próprias criaturas, a bandidagem, os bandos apodrecidos da sociedade em decadência.
Nesta situação extrema o anseio por ordem e segurança se confunde entre os proletários por anseio com empregos decentes e a possibilidade de “melhorar a vida” e na verdade estes anseios são a forma deformada, confusa, e nublada de uma revolução social que termine de vez com o sofrimento e inicie a construção de uma sociedade digna de todas as capacidades criadoras da Humanidade.