Aaron Bushnell, membro do ativo da Força Aérea dos Estados Unidos, ateou fogo a si mesmo, no dia 26 de fevereiro, em frente à embaixada israelense em Washington, protestando contra a cumplicidade do imperialismo norte-americano com a guerra em Gaza. A notícia deste corajoso ato de autossacrifício cometido solitariamente por um homem ecoou poderosamente nos corações de centenas de milhares de pessoas.
Essas mesmas pessoas sentem um profundo desespero ante as cenas do genocídio cometido em Gaza e impotência à medida que o poderio militar coletivo do imperialismo ocidental é usado para esmagar e assassinar um povo pequeno e oprimido. Sentem também a mesma raiva sufocante contra os nossos políticos capitalistas sedentos de sangue aqui no Ocidente que permitiram esta matança.
Na manhã de quinta-feira (22/02), Aaron Bushnell, 25, engenheiro de cibersegurança e de TI da Força Aérea dos EUA, entrou em contato com vários jornais declarando sua intenção de dar a vida em protesto:
“Meu nome é Aaron Bushnell, sou membro ativo da Força Aérea dos Estados Unidos e não serei mais cúmplice do genocídio. Estou prestes a realizar, em um ato extremo de protesto, algo que, comparado com o que as pessoas estão vivendo na Palestina às mãos dos seus colonizadores, não é nada extremo. Isto é o que a classe dominante decidiu que será normal.”
Confrontado à hipocrisia evidente dos imperialistas, que pregam a “democracia” e os “direitos humanos” enquanto armam ao máximo o regime assassino de Netanyahu, Bushnell, que era um anarquista, colocou corretamente a culpa onde ela deve estar: na classe dominante.
O vídeo dos momentos finais de Bushnell, quando se aproximava dos portões da embaixada israelense, é angustiante. Visto inicialmente na Twitch por apenas algumas dezenas de espectadores, os uploads subsequentes das imagens foram vistos por milhões de pessoas. Enquanto as chamas envolviam seu corpo, Bushnell gritou: “Libertem a Palestina! Palestina livre!”. Essas foram suas palavras finais.
Ao lado dessa cena de um jovem no auge da sua vida desistindo de tudo para chamar a atenção para o sofrimento do povo palestino, o vídeo também capturou o momento em que um policial ou membro da segurança da embaixada, que estava à paisana, apontou uma arma para o moribundo, exigindo que ele “se deitasse no chão”.
Insinuações da mídia
Imediatamente, as autoridades e os meios de comunicação procuraram vergonhosamente turvar as águas, usando a típica linguagem Orwelliana, à qual nos habituamos desde que eclodiu a guerra contra Gaza.
A ABC News referiu-se a um “aparente ‘protesto político’”, sendo inteiramente de sua responsabilidade as notas assustadoras. Outros notaram que nenhum funcionário da embaixada israelense foi ferido e que uma equipe de eliminação de bombas foi chamada para verificar um “veículo suspeito” na área – insinuações que sugerem que a segurança da embaixada, e do seu pessoal, estava de alguma forma ameaçada.
Enquanto isso, antes da autoimolação de Bushnell, a Polícia Metropolitana de Washington divulgou um relatório do incidente falando sobre um homem em “sofrimento mental” saindo da embaixada. O Serviço Secreto dos Estados Unidos informou que recebeu relatos sobre alguém que passava por uma possível emergência médica, de saúde mental. Muitos na imprensa acolheram obedientemente esta narrativa, em uma tentativa asquerosa de minar o protesto de Bushnell, sugerindo que se tratava das ações de um homem que não tinha a mente sã.
Estas ações não foram o resultado de alguma enfermidade mental, mas de uma profunda frustração e raiva, o mesmo sentimento pelo qual ardem os corações de milhões de trabalhadores e jovens. Estamos fartos do assassinato em massa e das mentiras provenientes dos meios de comunicação social e dos políticos capitalistas, nos EUA e em todo o mundo, que tentam denegrir a reputação daqueles que estão ao lado da Palestina, ao mesmo tempo em que justificam o massacre de Israel.
Mas a mensagem de Bushnell para o mundo não foi simplesmente de raiva, também mostrou a necessidade desesperada e fervilhante de fazer algo diante a toda essa injustiça. Em palavras poderosas, ele escreveu em sua última postagem nas redes sociais:
“Muitos de nós nos perguntamos: ‘O que faríamos se estivéssemos vivos durante a escravidão? Ou sob o Jim Crow no Sul? Ou sob o apartheid? O que eu faria se o meu país estivesse cometendo genocídio?’ A resposta é: você está vivendo isso. Agora mesmo.”
Diante os horrores do imperialismo, milhares de pessoas sentem a necessidade de agir. Mas, como indivíduos, parecemos impotentes para deter o poder esmagador do rolo compressor imperialista.
Não se pode imaginar um exemplo mais poderoso de protesto individual do que o de Aaron Bushnell, que será lembrado para sempre. O que é necessário agora é a construção de uma expressão organizada que reúna toda essa raiva em uma força poderosa e invencível: um partido revolucionário que possa desafiar e derrubar este sistema capitalista podre, e todo o bando de criminosos de guerra imperialistas, de Biden a Sunak, Macron, Scholz, Trudeau. Todos eles.
“Uma revolução vulcânica”
O impacto da morte de Bushnell se revela na imensa manifestação de simpatia e apoio nas suas redes sociais. Mensagens de solidariedade de milhares de comentários revelaram quão profundamente as suas ações foram sentidas:
“Senti como você se sente, ninguém parece estar ouvindo ou se importando o suficiente para impedir este genocídio.”
“Que vergonha, Joe Biden. Que vergonha, Blinken. Seus assassinos!”
“As chamas em seu corpo saudável serão o início de uma revolução vulcânica para acabar com a injustiça e apoiar os oprimidos.”
Este é o estado de ânimo de milhões de pessoas. Os gritos de Bushnell de “Palestina livre” ecoarão muito depois da sua morte. O que é necessário é precisamente o que o comentário acima citado aponta, uma “revolução vulcânica”, canalizando a justa raiva dessas pessoas que se opõem à opressão incessante gerada pelo capitalismo e pelo imperialismo no país e no exterior.
O protesto de Bushnell é o mais recente em uma longa história de autoimolações contra guerras e a opressão imperialistas. Protestos semelhantes foram realizados durante a Guerra do Vietnã, tanto por manifestantes norte-americanos quanto vietnamitas.
Mais recentemente, a autoimolação do vendedor ambulante tunisiano Mohamed Bouazizi, em 2010, contra a pobreza e a humilhação sofrida por ele e outros milhões de cidadãos nas mãos do regime, funcionou como a gota d’água para o movimento revolucionário que eclodiu na Tunísia, inaugurando a Primavera Árabe e a queda de ditadores.
Hoje, a destruição de Gaza está radicalizando milhões de pessoas no Oriente Médio. Os regimes em toda a região estão pendurados por um fio. A possibilidade de uma nova Primavera Árabe está no ar, aterrorizando os imperialistas.
Desenvolvimentos revolucionários semelhantes estão na ordem do dia em todo o mundo. A questão de Gaza tornou-se um fator-chave na radicalização de centenas de milhões de pessoas. O mesmo estado de ânimo está crescendo em todos os lugares. O que se necessita é de organização e de um programa revolucionário claro para expropriar os capitalistas e realizar uma revolução comunista. Só isso pode transformar a raiva e o desespero em uma esperança revolucionária, uma força que mudará a sociedade.
- Palestina livre!
- Intifada até a vitória! Revolução até a vitória!
TRADUÇÃO DE FABIANO LEITE.