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Abaixo a censura nas escolas catarinenses

No dia 7 de novembro, os educadores catarinenses foram surpreendidos por um ofício da Coordenadoria Regional de Florianópolis determinando a censura de livros na rede estadual. Na lista se encontram nove obras, entre as quais best-sellers juvenis e até algumas já consagradas da literatura, como o célebre Laranja Mecânica, do conservador britânico Anthony Burgess. Um ataque brutal não só aos educadores, mas ao conjunto da classe trabalhadora e da juventude que está sendo cerceada do acesso ao conhecimento que a humanidade acumulou.

O que chama atenção é que entre estes livros não há qualquer apologia direta ao ideário de esquerda, muito menos comunista, como talvez se poderia esperar do estado que vem instaurando políticas de perseguição e mordaça à moda Escola Sem Partido1. A lista censurada é uma mistura de narrativas de terror e livros de divulgação científica com outras obras que, em um cenário otimista, poderiam servir como gatilhos para o avanço da consciência crítica2. Talvez o item mais deslocado na lista seja “O diário do diabo: os segredos de Alfred Rosenberg, o maior intelectual do nazismo”, título que nos deixa em dúvida se os censores da Secretaria de Educação de Santa Catarina (SED-SC) o incluíram em seu Index Prohibitorum por imaginarem ser um livro de terror ou por ser de fato uma denúncia da doutrina eugenista por trás do nazismo.

Seja qual for o confuso filtro dos censores que querem mostrar trabalho ao chefe Jorginho Mello, não devemos subestimar a censura. Muito em breve, ela poderá recair com força ainda maior sobre o lombo dos educadores e jovens, em especial dos que se atrevem a denunciar a irracionalidade do capitalismo, como já ocorreu inúmeras vezes em nossa história. Cabe a nós, classe trabalhadora organizada, denunciar firmemente a censura em todas as suas formas, bem como esclarecer a função dessa última jogada da SED-SC em particular.

Seja qual for o confuso filtro dos censores que querem mostrar trabalho ao chefe Jorginho Mello, não devemos subestimar a censura – Imagem: SED/Reprodução

Em primeiro lugar, denunciamos o completo abandono das bibliotecas escolares e exigimos a realização de um grande concurso para a função de bibliotecário. Hoje, o estado se aproveita do adoecimento da categoria para cobrir essa função com os chamados professores readaptados, que por quaisquer razões de saúde já não podem mais ocupar suas funções originais e acabam sendo improvisados em bibliotecas muito precárias. Em outros casos, esse buraco é tapado até mesmo com os jovens estagiários, que recebem uma bolsa miserável para substituir profissionais realmente capazes de gerir uma biblioteca viva e orientar a comunidade escolar sobre o seu acervo, dando direito de acesso ao conhecimento.

Dessa maneira, o estado implanta sua austeridade na educação ao custo de desestimular violentamente o letramento da juventude logo no ambiente que deveria ser o mais propício à leitura. Por outro lado, é claro, não há austeridade para os burgueses, cujas dívidas bilionárias contraídas junto ao estado catarinense são generosamente perdoadas pelo governo Jorginho. Resta claro, portanto, que não há por trás dessa censura qualquer preocupação real com a educação catarinense.

Em segundo lugar, de modo mais amplo, devemos notar que o movimento de censura de Jorginho Mello e de seu secretário da educação, Aristides Cimadon, é coerente com a política geral de seu governo. Trata-se de alimentar a fogueira da assim chamada “guerra cultural” a fim de reagregar sua base de apoio na pequena burguesia e no lumpemproletariado catarinense, setores que ainda estão escaldados pela derrota de Bolsonaro, mas tentam se articular para as eleições municipais de 2024.

Ao mesmo tempo, a censura é uma clara tática de ataque para acuar o magistério catarinense, que se encontra em condições degradantes de trabalho e diante de uma direção sindical de atuações medíocres no Sindicato dos Trabalhadores em Educação (Sinte). Essa direção burocrata dedica todas as suas forças para desmobilizar a luta da categoria, deixando-nos desguarnecidos frente à sanha privatista de Jorginho Mello e seus cupinchas burgueses, o que impediu uma greve histórica e de pauta justíssima de ocorrer ainda na primeira metade de 2023. Por outro lado, é uma tentativa de limitar o acesso da juventude por meio de um “controle” social dos jovens que a cada dia mais procuram uma saída para o vergonhoso estado da educação catarinense. Tal como os trabalhadores em educação, os estudantes também não dispõem de uma direção estudantil que minimamente coloque a UNE, a Ubes, a Uces e demais entidades a serviço dos estudantes em combate.

Assim, de ataque em ataque, Jorginho vai enchendo seu gordo papo e ensaiando ofensivas ainda mais robustas – mas não nos enganemos, os professores seguem como as toupeiras que escavam até as profundezas, prontas a surgir na superfície com todas as suas forças assim que necessário, reconquistando seus instrumentos históricos de luta e catalisando-os em defesa da classe trabalhadora.

Em 2024, um grande número de professores estará novamente adentrando a categoria através do processo seletivo (diga-se de passagem, horroroso) que está em andamento. Devemos estar preparados para recebê-los, em especial a ampla juventude que chegará a esses cargos temporários com disposição de luta para exigir um concurso público que faça jus à demanda real dos educadores, que há muito tempo são em sua maioria sujeitados aos contratos temporários e têm seus direitos negados sistematicamente.

De ataque em ataque, Jorginho vai enchendo seu gordo papo e ensaiando ofensivas ainda mais robustas – Imagem: Edilson Rodrigues/Agência Senado

A nossa luta em defesa da educação só poderá avançar com a organização política dos trabalhadores da educação, tomando em nossas mãos o Sinte e trazendo esta categoria, que é a mais expressiva do funcionalismo público no estado, de volta ao prumo de suas grandes lutas históricas!

Por isso, exigimos que o Sinte e a Uces organizem imediatamente uma campanha de denúncia à censura do governo Jorginho Mello e pela exoneração do Supervisor e da Integradora de Educação da Coordenadoria Regional de Educação de Florianópolis!

Se você é comunista e luta pela educação, organize-se! Junte-se à Organização Comunista Internacionalista (Esquerda Marxista)!

  • Abaixo a censura do governo Jorginho Mello!
  • Exoneração imediata dos responsáveis pela censura em SC!
  • Em defesa de um amplo concurso público para o magistério catarinense!
  • Concursos públicos para bibliotecários já!

1 A mais emblemática dessas políticas é a Lei nº 18.637/2023, que institui a “Semana Escolar Estadual de Combate à Violência Institucional Contra a Criança e o Adolescente”, um nome pomposo que mascara o propósito exclusivo de censurar e perseguir profissionais que manifestem qualquer tipo de crítica à ideologia burguesa.

2 A lista é completada por “A química entre nós”, de Larry Young e Brian Alexander; “Coração satânico”, de William Hjortsberg; “Donnie Darko”, de Richard Kelly; “Ed Lorraine Warren: demonologistas – arquivos sobrenaturais”, de Gerald Brittle; “Exorcismo”. de Thomas B. Allen; “It: a coisa”, de Stephen King; “Os 13 porquês”, de Jay Ascher; e “O diário do diabo: os segredos de Alfred Rosenberg, o maior intelectual do nazismo”, de Robert K. Wittman e David Kinney.