Ano Lênin: por que lê-lo?

“Nós nos chamamos de comunistas. Mas o que é um comunista? Comunista é uma palavra latina. Communis significa comum. A sociedade comunista significa que tudo é comum: a terra, as fábricas, o trabalho de todos – eis o que é o comunismo. O trabalho comum não se cria de repente. Isso é impossível. Não cai do céu. É preciso ganhá-lo, obtê-lo com sacrifícios, criá-lo. E cria-se durante a luta. Não se trata aqui de um velho livro, livro em que ninguém acreditaria. Trata-se da própria experiência da vida,” (Lênin ao 3° Congresso de Toda a Rússia da União Comunista da Juventude da Rússia, em 02 de Outubro de 1920)

100 anos após sua morte, Vladimir Ilyitch Ulianov, o Lênin, dirigente do Partido Bolchevique e da Revolução de Outubro de 1917, segue com sua obra candente, disputada e urgente. Enquanto os reacionários os detratam de todas as formas e os acadêmicos os chamam de “datado”, a juventude e os trabalhadores de todo o mundo, conscientes e em revolta contra a exploração do humano pelo humano, despertam ávidos por conhecer as ideias e o partido de Lênin, responsáveis por serem guias para a ação comunista internacionalista.

Essa vontade brota da atual conjuntura de “horror sem fim”, como o próprio caracterizou o capitalismo imperialista. O período de guerras e revoluções impulsionam nossa necessidade de lê-lo, colocando Lênin na ordem do dia. Isto se expressa por sua capacidade de traduzir e sintetizar, sob o calor de seus acontecimentos, a filosofia hegeliana à materialista; as partes constitutivas do marxismo; a transformação imperialista do sistema; a formulação do centralismo democrático para organizar a classe trabalhadora; o combate ao Estado; a análise revolucionária sobre as opressões geradas pela propriedade privada e todo o complexo da sociedade burguesa.

Lênin obliterou o idealismo com ciência proletária, não por ser um gênio predestinado, mas por cumprir seu papel de indivíduo na história. Este dirigente foi fruto de um tempo convulsivo na Rússia, um país semifeudal que, com sua direção dada aos trabalhadores, saiu desta condição para colocar o primeiro ser vivo no espaço.

Sua dedicação comunista proporcionou uma obra fundamentada no materialismo histórico-dialético, sem jamais tratar o proletário que o lê como uma criança que precisa ter desenhado o funcionamento da ditadura do capital para entendê-lo. “Falem sobre coisas sérias de uma maneira séria”, exigia Lênin contra os demagogos, aos economicistas e aos vulgares que julgavam ser os pedagogos da classe trabalhadora e da juventude.

Devoto à leitura, aos rascunhos e à produção da escrita, Lênin nos evidencia em cada linha os motivos pelos quais devemos lê-lo: aprender! Esta é a tarefa nuclear que Lênin determina a todos os comunistas e é o processo conquistado por todos que passam atentamente seus olhos e boca sobre as páginas bolcheviques. Assim como a História, o leninismo nos serve para compreender o passado, entender nossos dias, mas, essencialmente, revolucionar o futuro da humanidade.

É certo que, a partir da década 1880, foi Lênin quem aprendeu com Gueorgui Plekhanov o marxismo no Grupo de Emancipação do Trabalho. Porém, na virada para o século XX, Lênin ensinou o “pai” do marxismo na Rússia e toda a camada pequeno-burguesa do movimento operário de seu país que a ciência revolucionária não deve ser restrita a círculos de discussões e grupos políticos indisciplinados. Este foi o combate de “O Que Fazer?” (1902), obra-mestra para entendermos que a teoria só se torna revolucionária com o objetivo de organizar um partido centralizado e proletário para golpear o capital.

Entretanto, estejamos atentos ao que declarou Nadezhda Krupskaya, dirigente bolchevique e companheira de Lênin, sobre àqueles que reivindicam o leninismo, mas que distorcem suas ideias: “Os homens fazem dele ícone inofensivo e, enquanto honram seu nome, amaldiçoam o aspecto revolucionário de seus ensinamentos”.

O mausoléu de Lênin não carrega sua obra, a sepulta. Suas estátuas, essencialmente estáticas, congelam a revolução nos marcos nacionais e burocratas. O revisionismo stalinista não visita Lênin, mas o parafraseia para suas ações contrarrevolucionárias.

Ao invés do “socialismo num só país”, da burocracia estatal, das perseguições aos revolucionários e da organização de derrotas, o leninismo orienta o internacionalismo proletário; o direito à autodeterminação dos povos; o direito à revogação de mandatos de todos os representantes; a igualdade social entre os humanos; o controle da produção pelos operários; a luta pelo definhamento absoluto do Estado.

Assim, encontramos uma resposta para a pergunta inicial: por que ler Lênin? Porque Lênin nos possibilita e proporciona elevar o nosso nível de consciência por um movimento proletário organizado sob uma liderança comunista. Não lemos Lênin para sermos jactantes ou meramente eruditos. Para Lênin, a erudição é um objetivo real dos comunistas, mas com a razão de utilizar todo o conhecimento produzido pela humanidade para a única arma que possuímos diante do poder burguês: a organização independente e revolucionária.

Leia Lênin!

Você é Comunista? Então organize-se!