“Apartidarismo” e “apolitismo” em ato de Joinville: desvio da luta contra o Estado burguês e a opressão da mulher

Os militantes da Esquerda Marxista de Joinville participaram, no sábado (7/11), da manifestação “Justiça para Mari Ferrer”, organizada por um grupo de estudantes da cidade. O ato, convocado pelas redes sociais, reuniu centenas de jovens e trabalhadores, entre mulheres e homens.

Participamos da atividade manifestando nossa solidariedade a Mariana Ferrer e defendendo a reversão nas ruas da decisão da Justiça burguesa, que absolveu o seu estuprador. No dia anterior, já havíamos participado de uma manifestação pública na praça, chamada pelo Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Santa Catariana –  Regional de Joinville.

Nas duas atividades, empunhamos a bandeira do “Mulheres pelo Socialismo”, que, para nós, é mais do que a agitação do nosso movimento em defesa das mulheres. É também uma palavra de ordem, uma chamada a todas as mulheres trabalhadoras para lutarem por uma transformação radical da sociedade capitalista que as oprime.

Levamos ainda uma faixa com a palavra de ordem “Fora Bolsonaro”. Mas, ao longo da caminhada do ato do dia 7, algumas pessoas exigiram que baixássemos nossas bandeiras. A partir daí, para além de exigir justiça para Mari Ferrer e todas as mulheres diariamente violentadas por este sistema, nós lutávamos pelo direito de nos expressar.

Por que o “apartidarismo” e o “apolítico” parecem corretos, mas não são?

A manifestação do sábado foi chamada, desde o início, como “sem fins partidários”. O clima de “apolítico” estava forte. Algumas das pessoas que nos mandaram recolher as bandeiras eram defensoras de Bolsonaro e visivelmente tentavam desviar o curso da revolta para confundir os mais de 300 jovens ali presentes. Outras, eram estudantes que realmente acreditam que “não envolver política” no assunto é o melhor caminho para impedir que políticos oportunistas se aproveitem do movimento. Outras tantas imediatamente se solidarizaram conosco.

A revolta contra tudo que aí está é justificável em um sistema em que todas as instituições estão apodrecidas. O Estado serve justamente para que a classe dominante subjugue os explorados. Nele, trabalhadores não têm voz nem vez – e, muito pior, se eles forem mulheres, negros, índios, LGBTs… Casos como o de Mari Ferrer, deixam tudo isso muito mais evidente, deixam o capitalismo desnudado.

No entanto, a traição das direções tradicionais da classe trabalhadora –  que se recusam, inclusive, a lutar pelo Fora Bolsonaro –, a ausência de um combate real aos ataques do governo contribuem para esse sentimento de rejeição a tudo.

Estamos no período eleitoral e quase nenhum candidato apresenta alternativas reais para mudar essa situação. Eles não falam nada que extrapole o sistema, que fuja do jogo por cargos e benesses. Por isso, a juventude não encontra nas eleições e nos partidos nenhuma indicação de saída. Ela os enxerga como oportunistas e essa não é uma impressão errada. Além disso, os sindicatos e entidades estudantis se omitem do debate e de organizar suas bases, na tentativa de elevar o discurso de governar para todos, ignorando por completo a luta de classes.

Porém, a tentativa de “despartidarizar” e “despolitizar” as manifestações é, justamente, uma ideologia burguesa. Além de antidemocráticas, ela serve para manter a juventude longe da disputa real de poder na sociedade. Manter ela longe da luta pela derrubada do sistema.

Isso precisa ser combatido, com bandeiras altas e uma explicação paciente.

Por que participamos das eleições?

A eleição não muda mesmo a vida das pessoas. A desesperança nesse processo é justificada. Mas os marxistas a utilizam como espaço de agitação e propaganda, explicando a necessidade de organização e de uma revolução. No capitalismo, ocupamos todos os espaços e brechas do sistema para nos organizarmos.

Há um trecho da “Mensagem ao Comitê Central da Liga Comunista”, escrita por Marx e Engels, em 1850, que resume a política dos marxistas sobre a questão:

“O proletariado deve aqui cuidar de que: […] Por toda a parte, ao lado dos candidatos democráticos burgueses, sejam propostos candidatos operários, na medida do possível de entre os membros da Liga e para cuja eleição se devem acionar todos os meios possíveis. Mesmo onde não existe esperança de sucesso, devem os operários apresentar os seus próprios candidatos, para manterem a sua democracia, para manterem a sua autonomia, contarem as suas forças, trazerem a público a sua posição revolucionária e os pontos de vista do partido.”

É sob essa orientação que a Esquerda Marxista lançou seus candidatos. Em Joinville, eles se apresentam como “Candidatos Contra o Sistema” e são os camaradas: Mayara Colzani, como candidata a prefeita, Chico Aviz, como vice, e Nathália Kons, como vereadora.

Temos candidatos pelo PSOL, porque a EM se organiza como corrente interna deste partido, apontando seus erros e acertos, na tentativa de construir um partido que consiga se libertar do oportunismo eleitoral e se transformar em um verdadeiro partido revolucionário de massas.

Lutar pelo Fora Bolsonaro e pelo socialismo é combater a opressão contra as mulheres

Como explicamos nesse texto, a injustiça contra Mari Ferrer não é um raio em céu azul.  Ela é cotidiana no capitalismo. As duas palavras de ordem que os militantes da EM empunhavam nas manifestações em Joinville estavam não só totalmente contextualizadas, como são as únicas formas de transformar verdadeiramente a sociedade opressora.

O machismo é sistêmico. É uma herança histórica da sociedade de classes e hoje se expressa no modo de produção capitalista, que coloca a mulher em posição de propriedade e de subjugação institucionalizada. A opressão contra as mulheres, assim como o racismo e a homofobia, são alguns dos pilares do capitalismo.

Em Joinville, no dia 22 de outubro, uma jovem trabalhadora foi estuprada em seu local de trabalho, em uma loja no Centro de cidade. Em estado de choque, a vítima relatou que o homem entrou na loja, cometeu o crime e roubou R$ 220 dela. As câmeras de segurança registraram tudo. Os casos dessa jovem joinvilense, de Mari Ferrer e de tantas outras mulheres mundo afora mostram, justamente, a podridão do sistema.

Bolsonaro, por sua vez, é a expressão dessa podridão. Ele é um presidente da República que defende abertamente menores salários às mulheres porque elas engravidam; que declara que só não estupraria a deputada Maria do Rosário porque ela “não merecia” por ser “feia demais”; que fala que sua filha foi uma “fraquejada” e que presta homenagens a torturadores da Ditadura Militar.

Para além disso, ele é o presidente que privatiza descarada e aceleradamente o patrimônio e a saúde pública, que recorta verbas da educação, que brinca com a pandemia e leva à morte centenas de milhares de pessoas. Tudo isso, impacta abertamente na vida de milhões de mulheres – e homens – trabalhadoras do país.

Quando levamos uma faixa como “Fora Bolsonaro” a uma manifestação, estamos propondo a abertura de uma saída revolucionária, nas ruas, contra esse presidente e em defesa da construção de um governo dos trabalhadores, sem patrões nem generais.

Por isso, não baixamos nossas bandeiras! No ato, em Joinville, respondemos às hostilizações e fomos imediatamente apoiados por jovens meninas que presenciaram as cenas.

Logo em seguida, fizemos uma atividade do MPS e dos Candidatos Contra o Sistema no Museu de Arte de Joinville. Explicamos, debatemos e convidamosos contatos presentes a se organizarem para além das eleições.

Seguimos! Na luta pelo fim da violência contra a mulher, contra o Estado capitalista e sua “Justiça”, pelo Fora Bolsonaro, em defesa do socialismo!