Khadafi caiu após Alan escrever este artigo. No entanto isso não invalida em nada seu conteúdo que além de explicar o desenrolar dos acontecimentos, aponta uma saída revolucionária para a luta do povo líbio.
O final veio subitamente e sem aviso. No momento da verdade, o regime de Khadafi caiu como um castelo de cartas.
Na noite passada, as ruas de Trípoli estavam cheias de júbilo enquanto as forças rebeldes ocupavam a Praça Verde em Trípoli. Os rebeldes líbios ondeavam bandeiras da oposição e atiravam para o ar festivamente depois de alcançarem a praça central da capital nas primeiras horas da segunda-feira. Anteriormente a imensa praça era reservada para manifestações cuidadosamente orquestradas em homenagem a Moammar Kadafi. Agora, ela explodiu em festa depois que as forças rebeldes chegaram ao centro da capital líbia.
Na sexta-feira as forças da oposição capturaram Zlitan, a cerca de 80 km ao oeste da capital. Trípoli foi cercada em um movimento de pinças, com as pontas de lança dos rebeldes avançando do leste e do oeste para cortar Trípoli do restante da Líbia. A queda de Zawiya foi um golpe mortal, suprimindo o abastecimento de combustíveis da capital. Este foi provavelmente o momento decisivo que minou completamente o moral dos homens de Khadafi. Apenas o colapso completo do moral pode explicar a aparente ausência de resistência nos últimos dias e como foi relativamente fácil a entrada dos rebeldes no centro de Trípoli.
Ainda na manhã de ontem, a administração Khadafi insistia que lutaria até o final. O filho mais velho do Coronel Khadafi, Seif al Islam, em um discurso televisionado, prometeu que nunca hastearia a “bandeira branca” em Trípoli. Em seguida, mostrando claros sinais de desespero, o governo de Moammar Khadafi declarou sua disponibilidade para se engajar em negociações imediatas com os rebeldes. Quando alguém se encontra a ponto de ser derrotado militarmente, costuma pedir negociações imediatas – embora nada haja para negociar.
O próprio Coronel Khadafi anunciou sua boa vontade para negociar diretamente com a liderança do Conselho Nacional de Transição rebelde, disse o porta-voz Moussa Ibrahim. Depois de semanas e meses de arrogantes discursos sobre lutar até a morte nas ruas de Trípoli, isto soa irônico. Ainda mais irônico: parece que o governo pediu a OTAN para convencer as forças rebeldes a deter o ataque a Trípoli, de acordo com um porta-voz na televisão estatal na noite passada.
Em resposta a esta oferta, a liderança do Conselho de Transição apressadamente anunciou que as forças rebeldes deteriam sua ofensiva se o Coronel Khadafi anunciasse sua demissão. Mustapha Abd El Jalil acrescentou que as forças rebeldes dariam ao Coronel Khadafi e aos seus filhos passagem livre para fora do país. Esta é mais uma prova de que a liderança do Conselho de Transição esteve tentando durante todo este tempo costurar um compromisso imoral com o velho regime.
Contudo, estes sentimentos não são compartilhados pelas forças rebeldes que estão lutando há meses para derrubar Khadafi. Ignorando as hesitações de seus “líderes”, elas apertaram sua ofensiva, varrendo para os lados a resistência ineficaz do exército de Khadafi. No oeste de Trípoli, os rebeldes invadiram o depósito da 32a brigada, comandada pelo filho do Coronel Khadafi, Khamis. No final da noite passada, as forças rebeldes tomaram vários subúrbios, hasteando sua bandeira tricolor nos prédios públicos.
Com impressionante velocidade, os rebeldes avançaram direto ao coração da cidade, aparentemente sem maiores resistências por parte das tropas leais ao Coronel Khadafi. Enquanto os rebeldes se movem para a capital, seus defensores simplesmente desaparecem. Em questão de horas, os rebeldes anunciaram que já tinham tomado toda a capital, exceto o bunker onde presumivelmente se encontra Khadafi.
As desilusões de Khadafi
A ausência de alguma resistência séria enquanto o governo tinha prometido lutar por cada rua, é eloquente confirmação da falta de qualquer apoio firme para o regime que desmorona. Em vez de sangrentas batalhas de rua, a TV mostra grande número de pessoas caminhando nas ruas de Trípoli para saudar os rebeldes. Um líder rebelde disse que a unidade militar encarregada de proteger Khadafi e Trípoli se rendeu e se juntou à revolta, permitindo que as forças de oposição se movessem livremente.
A agência Reuters informou que o filho e herdeiro de Khadafi, Seif al Islam, tinha sido detido. Parece que Muhammad Khadafi, seu filho mais velho, aderiu às forças rebeldes em Trípoli, de acordo com um informe do governo rebelde. Esta rendição covarde contrasta com as conversas anteriores de lutar e com as promessas de lutar até a morte. Sugere também a completa desmoralização da camarilha governante.
Do próprio Khadafi não há notícias. Em sua última fala através do rádio, ele reconheceu que as forças da oposição estavam se movendo em direção a Trípoli e advertiu que a cidade se tornaria outra Bagdá. “Como se pode permitir que Trípoli, a capital, fique mais uma vez sob ocupação?”, perguntou ele. “Os traidores estão pavimentando o caminho para que forças de ocupação posicionem-se em Trípoli”.
O coronel insistiu em que ele não deixaria a capital e que derrotaria as forças inimigas. Apelou aos seus apoiadores a marchar nas ruas da capital e “purificá-las” das “ratazanas”. Estas palavras revelam que o velho senhor é feito de um estofo mais resistente do que seus mimados filhos playboys.
Pode estar, mentalmente, planejando algum tipo de contra-ataque. Mas seu discurso nos remete às cartas desesperadas enviadas pelo czar Nicolau aos seus generais em fevereiro de 1917. Como ele, Khadafi esteve movimentando exércitos fantasmas que já haviam deixado de existir, exceto em sua imaginação.
A possibilidade de uma reviravolta de último minuto parece remota. Embora Khadafi tenha frequentemente apresentado muitas surpresas, é difícil admitir que ele tenha mais cartas para jogar. Uma possibilidade é que ele possa tentar se reagrupar nas áreas onde mantém apoio entre certas tribos e daí lançar uma guerra de guerrilhas. Mas mesmo que ele tenha algumas tropas dispostas a obedecer as suas ordens, enquanto as horas passam e os rebeldes apertam o cerco em Trípoli, esta possibilidade se torna cada vez mais remota. As cenas de massas populares celebrando a vitória na Praça Verde na última noite contam sua própria história. Este é o local onde os adeptos de Khadafi se reuniam todas as noites, enquanto durou a revolta, para mostrar apoio ao seu líder. A importância simbólica dessas cenas é evidente por si mesma.
O líder líbio não é estúpido, mas esteve durante um longo tempo cercado por uma camarilha de acólitos que nunca o contradiziam e que reforçaram seu senso de onipotência e invulnerabilidade. Por suas palavras e ações ficou óbvio que Khadafi vinha vivendo em um mundo imaginário há algum tempo. Seus discursos eram irreais como os de Hosni Mubarak nos últimos dias de seu regime.
Lord Acton disse: “O poder tende a corromper; o poder absoluto corrompe absolutamente”. É um fato histórico que os monarcas absolutos e os ditadores no final sucumbem a alguma forma de loucura. Quando alguém começa a acreditar que é todo poderoso, a linha que separa a realidade da fantasia se desfaz.
O cinismo imperialista
A Líbia é o único caso em que o imperialismo foi capaz de intervir diretamente nos acontecimentos que varreram o mundo árabe nos últimos oito meses. A experiência de suas tentativas de intervenção no Irã em 1979-80 ensinou aos americanos que não é uma boa idéia intervir militarmente em uma revolução.
Mesmo quando os imperialistas decidiram intervir na Líbia, ficaram divididos. Os americanos hesitaram; particularmente os generais que tiveram uma dolorosa lição no Iraque e no Afeganistão. Foram os franceses e os britânicos os que, por suas próprias razões, estavam mais dispostos a lutar. Contudo, recentemente, eles também expressavam sérias dúvidas sobre seu envolvimento na Líbia. Seus cofres estão vazios; seus exércitos estão demasiado espalhados e seus cidadãos não se entusiasmam por aventuras militares externas.
Para justificar sua aventura na líbia, usaram a desculpa de “prevenção de perdas de vidas civis”. Na base deste argumento, eles obtiveram do Conselho de Segurança da ONU o voto por ações militares limitadas. Este objetivo limitado foi apenas a folha de parreira para camuflar o objetivo real das potências da OTAN – derrubar Khadafi. Os britânicos e os franceses imaginavam que seria suficiente lançar algumas bombas e Khadafi se renderia. Estavam errados.
É desnecessário assinalar que a intervenção da OTAN causou mais mortes de civis. Seu porta-voz (uma mulher, naturalmente!) se gabou na noite passada de que os aviões da OTAN tinham atacado mais de quatro mil alvos desde que começaram as operações há poucos meses. Esses alvos não eram apenas militares, incluíam também alvos civis. Mataram não apenas civis, mas também lutadores rebeldes. Os repetidos incidentes de aviões da OTAN bombardeando posições rebeldes expuseram o vazio de toda a propaganda sobre “bombas inteligentes”, que supostamente garantiriam que não haveria vítimas civis.
A campanha de bombardeio imperialista foi inexorável e brutal. Tentaram matar Khadafi, os membros de sua família e seu séquito. Isto excedeu os objetivos declarados da campanha. A despeito dos raivosos protestos dos russos, os porta-vozes em Washington, Londres e Paris não esconderam que seu objetivo era uma mudança de regime em Trípoli. Essas ações mais uma vez expuseram o cinismo dos imperialistas e o papel reacionário das chamadas Nações Unidas, que proporciona uma cobertura respeitável para que esses bandidos façam seu trabalho sujo por toda parte.
É claro que a intervenção da OTAN desempenhou um papel chave na destruição da capacidade militar de Khadafi através de bombardeios aéreos sem misericórdia. A OTAN vinha cobrindo o avanço dos rebeldes com ataques aéreos sobre Trípoli, o que provocou a destruição de 36 alvos no final da semana. O porta-voz de Khadafi, Moussa Ibrahim declarou que 1,3 mil pessoas tinham morrido na luta em Trípoli ontem. Sem esta cobertura aérea a tarefa dos rebeldes seria bem mais difícil. Contudo, isto não significa que a OTAN ganhou a guerra. A guerra foi lutada e vencida pelos rebeldes em terra. Este é um fato importante e determinará o que acontecerá nas próximas etapas.
De fato, a campanha da OTAN serviu para dar relevo às limitações do poder aéreo unicamente. Meses após ter começado o bombardeio não havia sinal de uma vitória militar decisiva. Os líderes em Paris e Londres temiam que o conflito na Líbia permanecesse inconclusivo por anos. A história das guerras revela que é impossível vencer uma guerra apenas através do poder aéreo.
No final das contas, as guerras são vencidas por tropas em terra. Mas depois do Iraque e do Afeganistão, a última coisa que os imperialistas queriam era serem envolvidos em uma guerra em terra na Líbia. Então, ficaram aliviados (bem como surpresos) pelas notícias de que os rebeldes tinham entrado em Trípoli.
O presidente Obama disse que o regime de Khadafi tinha alcançado seus limites. O governo britânico disse que o final estava próximo para o líder líbio e exigiu que ele se fosse. Mas o regozijo dos imperialistas está misturado a um sentimento de ansiedade. A vitória foi obtida pelos rebeldes em terra, e seus objetivos e intenções reais não são claros. Eles estão armados e se sentirão muito confiantes. Este cenário é um campo minado para os imperialistas, que estão já expressando preocupação sobre um “vácuo de poder” depois da queda de Khadafi.
Na guerra, frequentemente, acontece que exércitos aliados lutem contra um inimigo comum por razões diametralmente opostas. Na Guerra Americana de Independência durante o século XVIII, a França monárquica lutou ao lado dos rebeldes americanos contra as forças da coroa britânica. A intervenção militar francesa sem dúvida ajudou os colonos americanos a obter a vitória. Mas os objetivos de guerra da França nada tinham em comum com os dos rebeldes americanos.
Os franceses se engajaram em uma luta poderosa com a Inglaterra pelo controle de colônias – incluídas as do Novo Mundo. Se, no lugar do domínio de Londres, os colonos americanos tivessem acabado sob o domínio de Versalhes, estariam mais preocupados do que antes. Por felicidade, o equilíbrio internacional de forças – e a Revolução Francesa – evitaram que isto acontecesse.
Nossa atitude em relação à guerra
Nossa atitude em relação à guerra não é ditada por razões sentimentais (falso “humanitarismo”, “democracia” etc., etc.), mas pela análise dos interesses que estão por trás da guerra em cada caso. Neste caso, tanto os imperialistas quanto os rebeldes desejavam a derrubada de Khadafi. Mas eles a desejavam por razões que não eram apenas diferentes como também inteiramente contraditórias.
Os imperialistas querem derrubar Khadafi porque ele era relativamente independente e não queria fazer o que eles desejavam em todas as circunstâncias. Eles queriam (e continuam querendo) substitui-lo por um boneco mais maleável e obediente. Acima de tudo, eles querem ter em suas mãos o rico abastecimento do petróleo líbio. Ambição, não humanitarismo, é o seu motivo real.
O levante contra Khadafi que começou em Benghazi presenteou-os com uma oportunidade que não podiam perder. Eles fingiam simpatizar com o povo revolucionário, exatamente como o rei da França fingia simpatizar com os colonos rebeldes americanos. Mas sua simpatia, como a dos Bourbons, nunca foi genuína. Eles temem a Revolução Árabe como o diabo teme a cruz e farão qualquer coisa em seu poder para destruí-la.
Enquanto continuava a guerra, estas contradições estavam camufladas. Alguns elementos enganados nas fileiras dos rebeldes até mesmo pediram à OTAN para aumentar sua intervenção. Tais ilusões em relação à boa vontade dos imperialistas não são somente um erro; são também extremamente perigosas. Os imperialistas estão seguindo sua própria agenda, e ela não inclui a vitória para o povo revolucionário na Líbia ou em qualquer outro lugar.
Quando a luta terminar, estas contradições emergirão. De fato, elas já se evidenciaram mesmo durante a luta. Não é acidental que a OTAN tenha recusado armar os rebeldes. Se estivessem adequadamente armados e equipados, os rebeldes poderiam ter tomado Trípoli meses atrás. Mas estavam armados unicamente de armas de pequeno alcance que não podiam competir com os tanques de Khadafi e sua artilharia pesada.
Esta foi a razão para a vagarosa ofensiva dos rebeldes, que era repetidamente repelida pelas tropas de Khadafi, que estavam adequadamente armadas e equipadas. Mas esta não foi a única razão.
O autonomeado e não eleito Conselho de Transição que se instalou em Benghazi, e fingia falar em nome da Revolução, embora ninguém tenha lhe dado o direito de fazê-lo, tem desde o início se empenhado por um acordo com Khadafi e por frear a Revolução. Isto não nos deve surpreender, visto que este Conselho contém um significativo número de antigos adeptos de Khadafi em suas fileiras. Os vitoriosos rebeldes são vencedores, não graças a este Conselho, mas apesar dele.
E agora?
Por mais de quarenta anos, Khadafi governou a Líbia com mão de ferro. Agora, seu domínio veio abaixo. A grande questão é: o que virá depois?
Esta vitória vem sendo duramente ganha com o sangue e o sacrifício do povo revolucionário, particularmente da juventude. Ninguém sabe quantos foram mortos nos sangrentos seis meses de guerra civil, mas os números certamente serão de dezenas de milhares. Pode haver o desejo de vingança por parte dos rebeldes, embora a conversa agora seja de reconciliação nacional e de unidade.
Este é um momento perigoso para a Revolução Líbia. Enquanto o povo dança e comemora nas ruas, nuvens negras se assomam no horizonte. O que foi ganho com sangue pode ser eventualmente desfeito com uma canetada. Os frutos da vitória podem ser roubados do povo que os conquistaram na luta.
Por trás das cortinas, os comerciantes estão regateando, os advogados estão trapaceando, os políticos estão manobrando. Essas pessoas não lutaram ou morreram, mas estão rapidamente ganhando o centro do palco.
Os carreiristas e oportunistas – não poucos deles leais adeptos de Khadafi até recentemente – se acotovelarão ao lado da juventude revolucionária que deixou Benghazi em velhos carros, armados com um pouco mais que o fervor revolucionário, para enfrentar os mercenários bem armados de Khadafi. Estes últimos se verão marginalizados na inescrupulosa luta pelo poder que se seguirá.
Os imperialistas estarão circulando o tempo todo como predadores famintos, esperando apanhar o bocado mais suculento. “Vejam”, eles dirão, “somos seus amigos. Lembram-se como os ajudamos?” O povo líbio faria bem em guardar distância de tais “amigos”!
Todas as contradições que estavam submersas no curso do conflito armado agora virão à superfície. Os objetivos de guerra dos imperialistas e seus acólitos do Conselho de Transição são incompatíveis com os objetivos do povo revolucionário. A polarização se aguçará dentro do campo rebelde.
No que diz respeito à reconciliação nacional, os interesses da Revolução não serão satisfeitos com o caça as bruxas de figuras de menor porte do antigo regime. Mas não há nenhuma questão de reconciliação nacional com os que cometeram crimes terríveis contra o povo. O povo líbio é o único juiz autorizado a julgar esses criminosos. Eles não seriam entregues à chamada Corte Internacional de Justiça, mas publicamente julgados pelos tribunais do povo revolucionário.
A Corte Internacional Criminal (CIC), em The Hague, confirmou à BBC News que Seif al Islam estava em custódia dos rebeldes. Em junho, a CIC emitiu ordem de prisão contra Khadafi, seu filho Seif e o chefe da inteligência líbia, Abdullah al-Senussi, sob acusação de crimes contra a humanidade depois que o Conselho de Segurança das Nações Unidas denunciou a situação líbia à Corte em fevereiro.
Este é outro exemplo da hipocrisia e da duplicidade dos imperialistas. Não há nenhuma dúvida de que aqueles homens são tiranos e que suas mãos estão manchadas com o sangue de seu povo. Mas a mesma coisa pode ser dita do sultão de Bahrein, que suprimiu brutalmente o movimento pró-democracia em seu país com a ativa assistência dos carrascos sauditas.
Onde estão as denúncias contra esses cavalheiros? E onde estão as denúncias contra a classe dominante israelense? Da mesma forma, onde estão as denúncias contra Tony Blair e George Bush? Os imperialistas estão interessados em “justiça”, “democracia” e “humanitarismo” somente enquanto servem aos seus interesses.
Devemos nos opor a qualquer tentativa dos imperialistas de interferir nos assuntos do povo líbio. Deixemos que o povo líbio resolva seus próprios problemas sem a interferência dos gangsteres capitalistas! Qualquer ilusão nas boas intenções dos imperialistas seria fatal para o futuro da Revolução Líbia.
Os gangsteres em Paris, Londres e Washington nunca se interessaram pelos problemas do povo líbio. Seu “humanitarismo” é uma brincadeira de muito mau gosto. Eles estão interessados é em por as mãos no petróleo líbio. Eles têm seus tentáculos no Conselho de Transição, que estarão muito desejosos de colocar a riqueza da Líbia nas mãos de seus amigos da OTAN, desde que recebam uma adequada comissão.
Nossa política é: pela completa independência e unidade nacional da Líbia! Esta é a nossa primeira reivindicação. Deter a intervenção imperialista! O povo líbio deve ser livre para decidir seus próprios assuntos sem quaisquer interferências de fora!
Segundo. Exigimos plena democracia agora: por uma Assembleia Constituinte Revolucionária que redija uma nova constituição baseada nos mais plenos direitos para o povo: o direito de greve, de manifestar-se e de se organizar; plena liberdade de expressão e de reunião, e todos os outros direitos que capacitem os trabalhadores líbios a se organizar e a desenvolver a luta de classes em toda sua extensão.
Terceiro. Não se deve depositar nenhuma confiança no Conselho de Transição. O regime de Khadafi foi derrotado pelo povo armado e o poder deve estar nas mãos do povo armado e não usurpado por carreiristas.
Instalar comitês revolucionários em cada centro urbano, cidade e aldeia, em cada fábrica, escola e universidade. Os comitês devem estar ligados em nível local, regional e nacional. Unicamente os comitês revolucionários podem garantir a convocação de uma Assembleia Constituinte genuinamente revolucionária e democrática.
É natural que o povo celebre a vitória. Mas é perigoso celebrá-la tão cedo. O povo revolucionário deve permanecer vigilante para defender o que conquistou, senão a vitória pode escorregar de suas mãos. A Revolução Líbia ainda não terminou. Muitos esforços e dificuldades encontram-se a frente.
Se a Revolução tivesse uma liderança capacitada, isto poderia ser o ponto inicial de um renascimento geral da Revolução Árabe, começando no Maghreb, que poderia proporcionar um poderoso ímpeto à Revolução na Tunísia, na Argélia e em Marrocos, e, acima de tudo, no Egito. Mas a Revolução Egípcia mostra como é fácil, na ausência de uma liderança adequada, a Revolução ser desviada para o lado e sequestrada por elementos alheios.
A Revolução Líbia contém muitos elementos contraditórios, e pode se encaminhar em diferentes direções. Sua maior debilidade, como na Tunísia e no Egito, é a ausência do fator subjetivo: o partido e a liderança revolucionária. A ausência deste fator tornará a Revolução mais complicada e difícil, mas a Revolução também tem grande resistência.
O povo revolucionário, e acima de tudo a juventude, tem revelado tremenda coragem, fortaleza e determinação. Devemos nos basear nisto e lutar para levar a Revolução à vitória. Isto somente acontecerá quando os trabalhadores e camponeses tomarem o poder em suas próprias mãos.
O povo líbio não lutou para remover um bando de gangsteres corruptos somente para substituí-los por outros bandidos, ainda mais rapaces.
Trabalhadores e jovens da Líbia, vocês devem mostrar sua coragem e capacidade através de suas ações! Não permitam a ninguém arrebatar a vitória de suas mãos. Confiem somente em vocês mesmos, em suas próprias forças e em suas próprias organizações revolucionárias!
A derrubada de Khadafi foi somente o primeiro passo. A verdadeira Revolução Líbia começa agora.
Londres, 22 de agosto de 2011.