A situação do movimento sindical argentino é bastante penosa. A CGT está dividida em 3 partes (oficialistas, moyanistas e CGT Azul e Branca de Barrionuevo) e a CTA está dividida em duas (Yasky e Micheli). Tudo é consequência das lutas de camarilhas por seus interesses aparelhistas e pelas intromissões da burguesia e do governo.
Além disso, nas três CGT e na imensa maioria de seus sindicatos afiliados, a ausência de democracia interna é total, neles o controle do aparelho e de seus recursos resultam essenciais para a obtenção de lucros mais descarados. Agora, os sindicatos da direita peronista, Moyano, a CTA de Micheli e os patrões rurais da Federação Agrária, anunciam uma greve geral para 20 de novembro.
Moyano passou para o outro lado
Em julho, apoiamos de modo muito crítico a convocação do Congresso da CGT Azopardo (moyanista). Era a última oportunidade para que Moyano se delimitasse com a direita peronista e estendesse pontes para a base kirchnerista para aparecer como uma referencia à esquerda da direção oficialista. Mas Moyano decidiu preservar seus interesses no aparelho aliando-se com aos direitistas peronistas (Venegas, Barrionuevo, Scioli) e a oligárquica (Macri). Definitivamente recompôs sua relação com o inimigo de classe, com a burguesia. Clarín e A Nação (jornais da burguesia) premiaram-no outorgando-lhe lugar de privilégio em seus diários, rádios, TV e sites para que critique o governo, e só o governo.
Este passo dado por Moyano o desacredita perante a grande maioria da classe trabalhadora e situa-o no campo do inimigo de classe, como a Barrionuevo e ao Momo Venegas.
Na atualidade, parece-nos irrelevante qual setor da CGT ostenta sua verdadeira representatividade e “legalidade”, já que não depositamos nenhuma confiança política e sindical em nenhum deles.
As ‘greves gerais” de Moyano e Micheli
Em uma situação similar localiza-se a CTA opositora dirigida por Pablo Micheli, onde o sectarismo e o ódio doentio de seus dirigentes para com o kirchnerismo os levaram a localizarem-se à direita do oficialismo. Suas referências são a Frente Ampla Progressista (FAP) de Binner e Lozano, uma socialdemocracia sonsa e acovardada, e também um setor da patronal agrária, a Federação Agrária de Eduardo Buzzi, aliada aos latifundiários da Sociedade Rural.
Moyano e Micheli apoiaram os panelaços e mobilizações reacionárias de 13 de setembro e de 8 de novembro. Em 10 de outubro convocaram uma mobilização na Praça de Maio que teve um impacto muito limitado, umas 30.000 pessoas das quais a metade eram filiados ao sindicato dos caminhoneiros. Semanas antes, o mesmo Pablo Micheli tinha falado em “arrebentar” a Praça de Maio com “200.000” trabalhadores. A “greve nacional” da CTA de Micheli ficou reduzida a uma greve parcial de estatais e docentes por reivindicações que afetam apenas uma minoria de trabalhadores (imposto sobre os ganhos) ou que não tinha nada que ver com o governo nacional, senão com os governos das províncias (estados).
A “valentia” de Moyano e Micheli assenta-se no fôlego que lhes dão as entidades patronais, seus meios de comunicação, o arco parlamentar à direita do kirchnerismo (desde Macri até o Projeto Sul, com o aplauso da “esquerda” sectária) e da pequena burguesia reacionária. Agora ameaçam com outra “greve geral” para a segunda quinzena de novembro, concretamente para o 20 de novembro. Desde já prognosticamos para essa greve os mesmos fracassos ocorridos nas “greves gerais” de 27 de julho e 10 de outubro.
É lamentável que se utilizem das legítimas reivindicações da classe trabalhadora e das suas organizações para realizarem manobras políticas escusas que vão contra os interesses da classe, em aliança com setores patronais e políticos reacionários. Por isso não nos a favor da confusão e não apoiamos a dita convocação de greve geral, no caso dela vir a acontecer.
Não dizemos que não tenhamos que lutarmos contra aspectos da política do governo nacional; pelo contrário, temos que lutar contra eles. Mas a luta deve ser convocada de maneira honesta, separando-se das manobras políticas da oposição de direita e tratando de somar e de unir a maior quantidade possível de trabalhadores, e não os dividindo entre kirchneristas e antikirchneristas, como desde o início propuseram Micheli e Moyano. Só confiaremos em Moyano e Micheli quando eles criticarem a oposição de direita com o mesmo vigor que só criticam um governo que hoje está sendo apoiado pela maioria dos trabalhadores e da juventude.
Isto não significa que estejamos absolutamente de acordo com as posições da chamada CTA oficialista, dirigida por Hugo Yasky. Embora consideremos que sustentem posições políticas mais corretas do que as de Moyano e Micheli, damos grande importância para que tenham a maior independência política frente ao oficialismo e por uma posição mais crítica, firme e mobilizadora, frente a determinadas políticas do governo.
As tarefas para a militância antiburocrática
A enorme dispersão do movimento sindical coloca dificuldades para propiciar políticas de unidade no seio da classe, cedo ou tarde, quando o vento da luta de classes voltar a soprar com força a necessidade de coesionar as fileiras da classe, a política de unidade começará a abrir caminho.
Nesta etapa é necessário ajudar a formar correntes antiburocráticas no seio das organizações sindicais e combater a divisão entre trabalhadores kirchneristas e antikirchneristas. Também existem experiências interessantes a considerar, as quais as apoiamos, tais como as do sindicato do Subte (a AGTSyP) ou do SITRAIC (Construção), uma cisão da UOCRA.
Em qualquer caso, um programa geral pela democracia sindical a levantar deveria contemplar, ao menos, os seguintes pontos:
a) Congressos sindicais democráticos, com eleição direta dos delegados pela base, por sindicatos e por empresas. Eleição e revogabilidade imediata do mandato de qualquer dirigente de confederações ou de grêmios de base,
b) Que nenhum cargo sindical receba um salário superior à média do salário de um trabalhador qualificado com base em acordo coletivo de seu setor,
c) Abertura dos livros de finanças das entidades aos militantes,
d) Fortalecimento dos comitês de delegados e comissões internas. Eleição de comitês de luta durante as greves e outros conflitos, como uma forma de garantir a máxima participação e o controle desde a base.