As verdadeiras prioridades da Whirlpool

Nesta carta, em plena guerra contra a pandemia do novo coronavírus o oportunismo é mais um vírus que nós trabalhadores da Whirlpool temos que enfrentar. 

Coletamos informações comuns entre colegas de trabalho e nos sentimos na responsabilidade de externar para a comunidade o que vem ocorrendo. Com base nessas informações, iremos falar sobre: 1- Os impactos (“melhorias”) no chão de fábrica – o vilão  responsável dessas “melhorias” atende pelo nome de Hajime Yamashina; 2- Qual o sentimento dos operários com relação a essas mudanças? e 3- Finalmente falaremos da atuação do Sinditherme (sindicato da categoria) frente a todas essas transformações que impactam diretamente na vida dos trabalhadores. 

1- Em abril de 2018, o professor Hajime Yamashina, como gosta de ser chamado, dá início às mudanças radicais na Fábrica II, pondo em prática o aperfeiçoamento do programa WCM. Com o objetivo de tornar as operações na linha de montagem simplificada, o sistema de abastecimento de peças na linha sofre alterações colossais, braços mecânicos extinguem dezenas de postos de trabalho e o investimento em treinamentos nos pilares do Programa WCM são massificados ao conjunto dos trabalhadores, sejam especializados ou operadores de linha. Todas essas simplificações tornam as atividades laborais mais fáceis de serem executadas e, portanto, reduzem a zero a necessidade de mão de obra especializada nos postos de trabalho. 

Desnudamos aqui os objetivos reais dos pesadíssimos investimentos em máquinas, equipamentos e treinamentos. Cortes de postos de trabalho, achatamento salarial, redução de custos e aumento nos lucros a médio prazo são os principais motivadores da Whirlpool nessa agenda de destruição e precarização na vida dos trabalhadores. 

Mas qual a ligação desses fatos com a crise do novo coronavírus?

Em 2019, a Whirlpool conquistou a certificação de bronze em WCM, para conquistar a certificação prata, tudo o que foi conquistado deverá ser mantido e aprimorado. Chegamos aqui na cruel ligação dos interesses da corporação, com a transformação tecnológica no parque fabril e com os cortes de centenas de postos de trabalho, as tais “melhorias” revelam o caráter unilateral que beneficia apenas a empresa, em outras palavras a tecnologia não está a serviço dos trabalhadores, mas sim para aumentar o lucro do patrão.

Na carta em solidariedade aos colegas temporários que sofreram demissões é possível explicar perfeitamente que para manter os caríssimos investimentos, a Whirlpool recorre aos pacotes de austeridade do governo. A prova disso foi as medidas adotadas na semana que antecedeu o mês de maio. Todos os trabalhadores tiveram que obrigatoriamente assinar um contrato de redução de jornada e salário, neste contrato o trabalhador passa a ter estabilidade de quatro meses e essa foi a condição para permanecer ligado à empresa.

Outras medidas adotadas foram a suspensão no contrato de trabalho dos aposentados e pessoas em grupo de risco. 

Por fim, para tirar total proveito e se valer oportunamente das benesses dos programas do governo e flexibilização da CLT, foram demitidos centenas de colegas de trabalho temporários e efetivos antes que os contratos entrassem em vigor. 

2- O clima no chão de fábrica é desanimador, todos trabalham preocupados com o coronavírus. Por mais que a empresa tenha “adotado medidas de segurança” para evitar a infecção, há aglomerações nas catracas, tanto na entrada quanto na saída e as lotações nos ônibus não estão sendo respeitadas, vários roteiros estão com lotação acima do permitido pelas regras de distanciamento, conforme a OMS.  

É importante deixar claro aos trabalhadores da Whirlpool e também das demais industrias que a crise que vivemos é por conta de uma pandemia, trata-se de uma crise sanitária, não temos nada a ver com a crise econômica, muito pelo contrário, a crise econômica nada mais é do que a pressão do setor privado e instituições financeiras exigindo do governo alternativas para manterem os seus lucros. 

3- As lideranças da empresa acabam fazendo o papel medíocre e oportunista dos dirigentes do Sinditherme, já que os mesmos são espécimes raríssimos de se encontrar.

Nesta semana os supervisores divulgaram que o dissídio foi postergado por conta da crise econômica. Essa informação é mais uma chibatada no lombo calejado do trabalhador, o pior é receber a informação vinda dos representantes da empresa e não do sindicato. Aliás, em raros episódios onde dirigentes do sindicato foram questionados a respeito, os mesmos tinham a mesma resposta pronta, “Dêem graças por estarem empregados.” 

Na carta anterior, já havíamos falado do caráter traidor dos dirigentes do sindicato, andavam sumidos e agora se sabe o porquê, “negociavam” as escondidas no covil do patrão que daria a amarga informação do dissídio. O que falariam quando questionados a respeito?

Por fim, não resta dúvidas quanto aos reais interesses do patrão e dos pelegos do Sinditherme, precisamos construir um sindicato independente do patrão e que atenda os interesses dos trabalhadores.