Apesar da completa falta de evidências contundentes, a imprensa internacional não demorou a publicar manchetes sobre um “ataque russo” contra a “democracia americana”.
Hackers russos “invadiram” as eleições presidenciais dos EUA. Essa grave acusação foi feita em um relatório assinado por seis agências de inteligência dos EUA, poucos dias após o anúncio da vitória de Donald Trump. Apesar da completa falta de evidências contundentes, a imprensa internacional não demorou a publicar manchetes sobre um “ataque russo” contra a “democracia americana”.
Tão logo foi feito o anúncio, os apoiadores da candidata derrotada Hillary Clinton, bem como todo um séquito composto por “liberais”, “progressistas” e até certos elementos da esquerda, se agarraram à notícia com todas as forças. Estaria aí a explicação da derrota do “mal menor”. O próprio Obama, que esteve ao lado de Clinton ao longo de toda a sua campanha, expulsou do país 35 diplomatas de Moscou, mesmo sem poder provar uma única palavra das acusações.
O absurdo é evidente! Trump não virou presidente pela ação de meia dúzia de hackers a soldo do Kremlin, e sim devido à enorme descrença do povo americano com o sistema eleitoral, a ponto de quase metade dos eleitores sequer sair de casa para votar. De fato, se a opção “não votou” fosse um candidato, teria saído vencedora em 45 dos 51 estados americanos, como pode-se ver no mapa abaixo:
De qualquer forma, a denúncia feita no relatório diz explicitamente que os hackers russos não interferiram na votação, como tanto alardeia a imprensa. Agentes do Kremlin teriam invadido e-mails pessoais de Clinton, bem como o sistema de computadores dos democratas, a fim de obter informações que pudessem desequilibrar a eleição em favor de Donald Trump. Mesmo para essas acusações mais “realistas”, nenhuma das agências de inteligência de Washington apresentou sequer uma única prova.
Ainda que as invasões cibernéticas tenham de fato ocorrido, e que sejam mesmo os russos por detrás delas, não foram nem de longe responsáveis pela derrota da fraquíssima campanha de Clinton. Os trabalhadores americanos sabiam dos laços da democrata com Wall Street, o apoio que tem do lobby de Israel e seu envolvimento com toda a corrupção de Washington muito antes de qualquer e-mail ser vazado. Afinal, ela sempre foi uma fiel servidora de sua classe, e nenhuma propaganda “liberal”, nenhum discurso de “mal menor”, faria os trabalhadores aceitarem uma candidata tão genuinamente do sistema.
Não bastassem as acusações sem provas, também se observa a mais descarada hipocrisia na forma como a imprensa trata o “ataque dos hackers”. Por décadas, as mesmas agências de inteligência que produziram o relatório se especializaram em interferir em eleições e derrubar governos eleitos ao redor do mundo. E na maior parte das vezes, empregavam métodos bem mais brutais do que um simples ataque cibernético. Apoio a ditaduras sanguinárias, governos corruptos e invasões militares. Ninguém entende tanto de “ataques contra a democracia” quanto Washington…
A vitória do republicano, que surpreendeu inclusive ele mesmo, foi mais dos sintomas de que a democracia burguesa já não consegue sobreviver como antes. Mesmo no coração do sistema, onde a burguesia exerce um domínio ideológico mais forte do que em qualquer outro país, a farsa do bipartidarismo republicano-democrata já não ilude mais a juventude e os trabalhadores dos EUA. Mas claro, os apoiadores de Clinton jamais admitirão isso. Continuarão a pregar que tudo não passou de travessuras cometidas por um punhado de jovens com computadores…