Foto: EPA-EFE/Bagus Indahono

Ativistas da CMI Indonésia presos por protestar contra o líder golpista de Mianmar na cúpula da ASEAN

Vários ativistas, incluindo membros do Perhimpunan Sosialis Revolusioner (PSR), a seção indonésia da CMI, foram presos enquanto se reuniam para protestar contra a presença do líder golpista de Mianmar, general Min Aung Hlaing, em Jacarta para a cúpula da ASEAN neste sábado. Enquanto o presidente da Indonésia, Jokowi, pregava democracia ao general de Mianmar, ordenou que suas próprias forças policiais silenciassem os manifestantes.

Para garantir a estabilidade da cúpula e, em particular, para não embaraçar seus convidados de Mianmar, já que todos os olhos estão fixos neles durante esta reunião, o governo Jokowi mobilizou mais de 4 mil forças de segurança para evitar qualquer manifestação. Grupos de policiais à paisana ficaram a postos ao redor do prédio da secretaria da ASEAN, onde esses líderes se reuniam. Os membros do PSR foram cercados por mais de uma dúzia de policiais e rapidamente presos sem justa causa. Eles foram informados pela polícia de que estavam sendo “protegidos”, o famoso discurso duplo da Era da Nova Ordem para prisão ilegal.

Havia grandes expectativas entre muitas pessoas de que a cúpula da ASEAN pressionaria o regime militar, que até agora ensopou suas mãos no sangue de mais de 700 pessoas. Mas a ASEAN nada mais é que um clube de ladrões, criado para facilitar o saque capitalista do Sudeste Asiático. Mais uma vez, provou ser exatamente isso. Os que têm ilusões em relação à ASEAN fariam bem em lembrar que, ao longo de sua existência, ela nada disse contra o regime assassino de Soeharto. Por que faria algo diferente agora com o golpe militar em Mianmar?

No entanto, em meio a um mundo politicamente polarizado, esses líderes foram aconselhados a dizer algo, para que as pessoas que governam não começassem a ligar os pontos de que, no fundamental, não há diferença entre seus próprios governos e a ditadura militar em Mianmar. As habilidades diplomáticas foram mobilizadas durante este encontro, onde a antiga arte de dizer algo e nada ao mesmo tempo foi plenamente exibida.

Hipocrisia do regime, solidariedade das massas!

A cúpula da ASEAN emitiu um Consenso de Cinco Pontos, que foi apontado como um avanço para a crise em Mianmar. O movimento democrático em Mianmar o condenou e rejeitou com razão.

O primeiro ponto deste Consenso já é um insulto ao povo de Mianmar e a todas as pessoas pensantes: ele clama por uma “cessação imediata da violência” e que “todas as partes [!] devem exercer o maior controle”. Mas quem está matando quem? De quem é a violência responsável pelo massacre de mais de 700 homens, mulheres e crianças? O comentário do primeiro-ministro da Malásia, Muhyiddin Yassin, resumiu o espírito por trás desse consenso quando disse: “tentamos não acusar muito seu lado porque não nos importamos com quem o está causando”.

Mas as massas trabalhadoras de Mianmar se preocupam muito com quem está causando a violência: a saber, os militares. Este consenso cumpriu o seu propósito diplomático: condenar a violência, sem apontar quem é o responsável por ela. Como Trump disse uma vez sobre o comício de extrema direita em Charlottesville, no qual um contra-manifestante antirracista foi morto: “há pessoas muito boas em ambos os lados”.

A única solidariedade genuína em que os trabalhadores de Mianmar podem contar é de seus irmãos e irmãs de classe na Indonésia e além – Foto: Front Muda Revolusioner

O segundo ponto exige um “diálogo construtivo entre todas as partes”. Mas há muito que passamos do ponto de qualquer diálogo construtivo quando os generais deram seu golpe e afogaram o povo em sangue. O diálogo é impossível quando um lado está armado até os dentes, enquanto o outro lado está desarmado. Na verdade, o diálogo nunca foi possível quando a constituição é escrita por um lado e só aceita pelo outro sob ameaça de violência. Até mesmo esses generais não podem cumprir as regras que eles próprios escreveram para sua maior vantagem. Os trabalhadores de Mianmar entenderam que os militares só reconhecem uma linguagem: a das ações militantes em massa.

Finalmente, o consenso compromete a ASEAN a fornecer “assistência humanitária”. Mais curativos e antissépticos não irão deter os cassetetes e as balas do exército. A capacidade auto organizacional e os recursos do movimento são mais do que adequados para fornecer os cuidados médicos necessários para atender as milhares e milhares de pessoas que foram brutalizadas pela repressão. Este apelo por ajuda humanitária é mais uma cortina de fumaça, quando o que é necessário agora é uma defesa armada, composta por guardas operários, para enfrentar a brutalidade do exército e acabar com sua ditadura militar.

A única solidariedade genuína com que os trabalhadores de Mianmar podem contar é a de seus irmãos e irmãs de classe na Indonésia e além. Nenhuma confiança deve ser depositada na chamada “Comunidade Internacional”: a ASEAN, a ONU e assim por diante. As detenções ilegais e indiscriminadas de ativistas da solidariedade por Mianmar, pelo governo Jokowi, expõem claramente a hipocrisia deste regime, que prega a democracia e ao mesmo tempo a estrangula. Os revolucionários em Mianmar, Indonésia, Tailândia, Cingapura e no resto da região do Sudeste Asiático enfrentam um inimigo comum: a ditadura do capital.

  • Solidariedade com a Revolução de Mianmar!
  • Por uma derrubada revolucionária da junta!

TRADUÇÃO DE FABIANO LEITE.
PUBLICADO EM MARXIST.COM