No último domingo (2/7), pela manhã, ocorreu um ato na Vila Operária e Popular, em Sumaré, interior de São Paulo, em comemoração aos 20 anos de ocupação da fábrica Flaskô.
A Flaskô, ocupada em junho de 2003 pelos trabalhadores na defesa de seus postos de trabalho, diante do iminente fechamento da fábrica, manteve a produção sob controle operário até novembro de 2018, quando a eletricidade foi definitivamente cortada pela companhia de energia (CPFL) sob a justificativa das dívidas acumuladas que vinham desde a gestão do antigo patrão. A Flaskô é do mesmo grupo empresarial da Cipla e Interfibra, fábricas localizadas em Joinville (Santa Catarina), que foram as percussoras do Movimento das Fábricas Ocupadas no Brasil, movimento que foi dirigido politicamente pelos militantes da Esquerda Marxista.
A Cipla e a Interfibra foram golpeadas em 2007 por uma intervenção judicial organizada pelo governo Lula, que pôs fim ao controle operário nessas fábricas. As duas plantas foram leiloadas após a decretação da falência. A Interfibra foi arrematada por uma empresa do ramo plástico de Alagoas, a Joplas, em 2015, por R$ 20,7 milhões. Já a Cipla foi arrematada recentemente, em abril deste ano, por R$ 65,6 milhões, pelo Grupo Zonta. A massa falida da Flaskô também aguarda leilão.
A história da Flaskô, da Cipla, da Interfibra e do conjunto das fábricas ocupadas pelo movimento no Brasil e sua relação com a luta internacional da classe trabalhadora, é contada em livros, artigos, vídeos e documentários. Aos que tiverem interesse em conhecer mais sobre essa luta histórica, indicamos a seção de nosso site dedicada aos 20 anos do movimento.
A Vila Operária e Popular faz parte do terreno da Flaskô, uma área que foi deixada ociosa pelo antigo patrão. Com a participação dos operários da fábrica, este terreno foi ocupado em 2005 na luta por moradia. Várias conquistas se desenvolveram desde então, em particular a regularização fundiária conquistada no ano passado junto à prefeitura. Mais de 500 famílias moram hoje na vila.
Como parte do processo de regularização, as ruas, antes apenas numeradas, receberam nomes. Os moradores, em assembleia, decidiram homenagear alguns lutadores do movimento operário e popular que partiram, batizando com seus nomes as ruas do bairro. O ato do último domingo, além de recordar os 20 anos da ocupação da Flaskô, também homenageou os companheiros que deram nomes às vias, com a presença de familiares que receberam uma cópia da placa das ruas. Dentre os homenageados estão militantes da Esquerda Marxista que faleceram e que participaram da luta das fábricas ocupadas, como os camaradas Roque Ferreira e Chico Lessa (membros do Comitê Central da Esquerda Marxista) e os camaradas Luiz Gonzaga de Oliveira, o Caverna, e Arionaldo Ângelo de Menezes, o Seu Ari (trabalhadores da Flaskô).
Uma significativa delegação da Esquerda Marxista, com jovens e trabalhadores, participou do ato. O camarada Rafael Prata fez uma fala em que também recordou de Esteban Volkov, o neto de Trotsky, que faleceu no último 16 de junho, e que quando realizou um giro pelo Brasil em 2011 organizado pela Esquerda Marxista, participou de uma Conferência na Flaskô, declarando um grande entusiasmo com a luta das fábricas ocupadas.
Mesmo que hoje não existam fábricas ocupadas pelos trabalhadores, com a produção sob controle operário e em luta pela estatização, a bandeira do Movimento das Fábricas Ocupadas segue erguida como um exemplo para os futuros combates do proletariado brasileiro e internacional. “Fábrica quebrada é fábrica ocupada! Fábrica ocupada deve ser estatizada!”.