Áustria: grande encontro de jovens socialistas no Seminário Karl Marx 2018

Jovens camaradas austríacos. Foto: Acervo CMI

No início deste mês de fevereiro, a pequena cidade austríaca de Bregenz foi palco de uma grande reunião de jovens socialistas no Seminário Anual Karl Marx. O evento foi organizado pela Juventude Socialista de Vorarlberg e Der Funke [A Faísca], a seção austríaca da Corrente Marxista Internacional (CMI).

A atual situação na Áustria é um ponto central para a luta de classes europeia. O novo governo, formado em dezembro de 2017, é uma coalizão de partidos de direita: o Partido Popular (ÖVP), que é o tradicional partido conservador, e o Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ), um partido de extrema-direita e anti-imigração. O novo regime não está perdendo tempo no ataque às condições da classe trabalhadora na Áustria, e tem dado todas as vantagens possíveis para os capitalistas. Direitos trabalhistas estão sendo desmantelados, com a semana de trabalho estendendo-se para 60 horas e limites mínimos para fins de semana foram abolidos. Os sindicatos estão sendo apontados como “desnecessários”. Em especial as mudanças estão afetando as mulheres, que estão sendo forçadas a sair do mercado de trabalho e empurradas para a família tradicional, arrancando delas a independência econômica e provendo uma fonte de trabalho não pago para substituir previamente programas sociais estatais. Os reacionários do FPÖ são assombrosamente repulsivos: eles rejeitam os casais do mesmo sexo, falam de “defender nosso território cultural” contra a “islamificação”, e seus pontos de vista sobre os nazistas são pouco claros no mínimo.

Essa nova coalizão está implacavelmente aplicando o programa dos capitalistas austríacos, em uma tentativa desesperada de dar ao país uma vantagem econômica em preparação para a próxima crise financeira. Toda a retórica racista, os ataques a direitos, e os cortes ao estado de bem-estar social são destinados a dividir e enfraquecer a classe trabalhadora, enquanto aumentam a taxa de exploração. No entanto as pessoas, e especialmente a juventude, têm revidado fortemente. Em janeiro 70 mil pessoas tomaram as ruas de Viena para se manifestar contra o governo, e esse movimento de massas está apenas começando.

Auditório repleto no Seminário Karl Marx. Foto: Acervo CMI

Foi sob essas condições que cerca de 100 integrantes da Juventude Socialista de Vorarlberg e Der Funk reuniram-se em Bregenz para um seminário de um fim de semana sobre marxismo. O evento estava lotado, com forte ênfase em educação e discussão política. Onze oficinas foram realizadas, assim como uma plenária de discussão sobre as perspectivas na Áustria.

Precisamente em resposta à natureza opressiva do novo governo para com as mulheres, uma oficina introduziu a questão sexismo para discussão. O fato de que a coalizão ÖVP-FPÖ estar combinando ataques à mulher e aos direitos dos trabalhadores como uma tentativa de fomentar a economia é um reflexo do que Friedrich Engels analisou há muito tempo em “A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado”: que a opressão das mulheres está profundamente enraizada nas fundações da sociedade de classes, e portanto dentro do capitalismo. O capitalismo aposta em todas as formas de sexismo para obter com isso uma grande quantia de trabalho não pago, para manter a classe trabalhadora subjugada, e para assegurar que a riqueza continue nas mãos da burguesia através da herança masculina.

Observamos esse fato em todos os países na forma de desigualdades salariais entre os gêneros e na imensa pressão sobre as mulheres para conceberem e cuidarem dos filhos. Esse governo austríaco, em especial, manifesta claramente essa necessidade de dividir a classe trabalhadora; na verdade esse programa econômico para lucros máximos não pode se manter por uma semana diante da resistência de uma classe trabalhadora unificada. Diante disso, o progresso social alcançado na área das mulheres por meio de incontáveis anos de luta é cortado imediatamente sob a crise orgânica do capitalismo. A solução não é encontrada nas táticas reformistas isoladas, mas na revolução socialista da sociedade. “Não há emancipação das mulheres sem socialismo! Não há socialismo sem emancipação das mulheres!”

Claro, a revolução socialista envolve a revolução mundial, e as oficinas também se concentraram sobre os eventos internacionais em curso que estão agitando o capitalismo. Dois camaradas da seção mexicana da CMI lideraram diferentes oficinas sobre eventos na América Central e de Cuba, para analisar os caminhos e erros da esquerda lá. Nós precisamos estudar porque repúblicas socialistas não dominaram essa área do mundo, apesar de décadas de tradição revolucionária contra o imperialismo norte-americano, particularmente a figura da United Fruit Company que dominou as relações econômicas no século passado.

Camaradas caminhando em Bregenz. Foto: Acervo CMI

Um ponto central das análises é a que Leon Trotsky fez no “Programa de Transição”, em que afirma que “a crise da humanidade é a crise da direção revolucionária”: como os fatos de que os movimentos revolucionários em Honduras, Nicarágua, Guatemala, México e El Salvador terem todos visto suas quotas de banhos de sangue com líderes reformistas falhando em orientar o poder das massas. Nós devemos evitar esses erros com os novos movimentos que se alastram através desses países, mas também na luta em desenvolvimento na Áustria e em todos os outros países do mundo. Como um exemplo dessa necessidade, os atuais eventos em Honduras foram discutidos, onde as massas têm ido às ruas contra uma reeleição claramente fraudulenta do presidente Juan Orlando Hernández, e setores das forças de repressão têm se recusado a seguir as ordens e a reprimir a população.

Apesar da agenda cheia, o grupo todo encontrou tempo para ocupar as ruas da pacífica Bregenz para denunciar o novo governo com uma agitada manifestação. Esse foi o primeiro evento desse tipo em Bregenz e que a região de Vorarlberg tinha visto, e também recebeu ampla atenção midiática. Os slogans eram claros sobre as causas da nova situação política: a crise do capitalismo. Cantando “Quebrar o poder dos bancos e empresas!” e “Luta de classes!” e muitos outros, o grupo publicamente expôs as perspectivas e reivindicações marxistas. Estudantes e trabalhadores marcharam com suas bandeiras vermelhas cantando a letra inspiradora em alemão da Internacional: “Bem unidos façamos, nesta luta final, uma terra sem amos, a Internacional!”

Artigo publicado originalmente em 9 de fevereiro de 2018, no site da Corrente Marxista Internacional (CMI), sob o título “Austria: large meeting of young socialists at Karl Marx seminar 2018”.

Tradução Johannes Halter