Frente aos ataques profundos do governo de Jair Bolsonaro (PSL) à educação pública superior, estudantes de graduação e de pós-graduação da UFSC se reuniram em assembleias massivas, nos dias 10 e 14 de setembro, e deram início a uma greve estudantil por tempo indeterminado. A contragosto das direções adaptadas que majoritariamente compõe Diretório Central dos Estudantes (DCE), e a Associação de Pós-Graduandos (APG), os estudantes protagonizaram uma importante reação frente à destruição das universidades e da educação pública, recolocando na ordem do dia a necessária e urgente luta pela construção de uma greve geral nacional de estudantes e trabalhadores para colocar abaixo o governo federal e construir uma saída revolucionária no país. Passados mais de trinta dias de início do movimento, cuja nacionalização tem enfrentado diariamente o boicote escancarado da atual direção da União Nacional dos Estudantes (UNE) e da Associação Nacional de Pós-graduandos (ANPG), um balanço se faz necessário.
Por que os estudantes entraram em greve?
A greve estudantil na UFSC começou como um movimento de reação ao anúncio do governo federal de cortes de mais de 40% do orçamento destinado para a universidade, o que inviabilizaria o seu funcionamento já no mês de outubro. Além disso, outro ponto que potencializou a reação dos estudantes foi a tentativa do governo de implementar o Programa Future-se na universidade, apresentado pelo Ministro da Educação Abraham Weintraub. Em uníssono com professores, técnicos administrativos e comunidade universitária, os estudantes da UFSC repudiaram a medida e, de forma brilhante, pressionaram o Conselho Universitário (CUN) a emitir imediatamente um parecer contrário ao projeto. Além disso, os estudantes reivindicam a revogação dos cortes de orçamento da CAPES e CNPQ, bem como a recomposição das bolsas; o reajuste das bolsas de pesquisa; o fim da lista tríplice para eleição de reitores; a revogação da Emenda Constitucional 95, que congela por 20 anos os investimentos em educação e saúde públicas; a readmissão dos funcionários terceirizados, demitidos por conta do corte de verbas; a defesa da autonomia universitária; a construção de uma Greve Nacional da Educação pelo fim do governo Bolsonaro.
E o “tsunami da educação”?
Os ataques anunciados pelo governo de Bolsonaro não atingem somente a UFSC, mas representa, em seu conjunto, a destruição da educação pública em todos os seus níveis. Somente a luta unificada de todos os estudantes, organizados a partir dos instrumentos históricos de combate da juventude, é capaz de frear e reverter o retrocesso que está em andamento. Apesar do ânimo e da disposição de enfrentamento dos milhares de estudantes que recentemente se colocaram em movimento no país (UFFS, UFPR, UFRGS, UNESP, UFMT, IFs etc.), é preciso enfrentar com afinco e disposição a paralisia e o aparelhamento que atualmente engessa os instrumentos de luta da juventude, em especial, a UNE.
A reivindicação exposta na Carta de Greve dos Estudantes da UFSC, exigindo da UNE a construção nacional de uma greve da educação por tempo indeterminado, foi completamente ignorada, deixando explícita a fenda que hoje separa os seus dirigentes das suas bases, ocupados ora na manutenção dos aparelhos (DCEs, CAs etc.), ora nas próximas eleições burguesas. A greve estudantil da UFSC apenas foi reconhecida pela UNE mais de dez dias após o seu início, isolando de forma traidora o movimento organizado dos estudantes na universidade.
Além disso, o ânimo e a disposição de luta dos estudantes no Brasil foram abafados pela convocação da UNE de mais um “tsunami da educação” nos dias 2 e 3 de outubro, que manobrou a necessária nacionalização da greve geral por tempo indeterminado para dar por encerrada a luta contra os cortes na educação que estão sendo aplicados dia a dia. O resultado de tamanha traição foram atos isolados, muitos deles esvaziados, sem um direcionamento político que organizasse os estudantes no sentido de uma luta efetiva em defesa da educação pública.
Em Florianópolis, aproximadamente 4.000 jovens, estudantes e trabalhadores foram às ruas dizer não aos cortes na educação e aos ataques do Governo Federal. Ultrapassando a ausência de um direcionamento sério para a luta, os estudantes deixaram claro que já não se sentem representados por tais direções traidoras – o caminhão de som destinado a levar os dirigentes da UNE, da CUT, da CNTE ficou completamente isolado da massa de jovens e trabalhadores, que deram uma grande demonstração de disposição para tomar as rédeas de seu próprio destino.
Quais os próximos passos?
Apesar do isolamento da greve na UFSC, fruto da traição das atuais direções do movimento estudantil, a disposição de luta é visível em todos os centros de ensino e programas pós-graduação. Ainda que uma parcela de estudantes tenha retornado às aulas mantendo o estado de greve, as assembleias estudantis de graduação e pós-graduação aprovaram, por ampla maioria, a continuidade da greve – uma nova assembleia está marcada para o dia 17 de outubro. A atual direção do DCE da UFSC, alinhada politicamente à UNE, está sendo empurrada por um movimento sobre o qual não tem mais controle.
Por um lado, há quem avalie que a greve estudantil na UFSC se mantém por conta do comportamento esquerdista de um grupo minoritário e encontra-se, nesse momento, restrita a apenas alguns cursos – tais são os indispostos a organizar hoje a luta necessária ou a desesperada direção do movimento estudantil que não sabe por onde começar a frear essa onda de reação. Por outro, é importante não fechar os olhos para o fato de que apenas a construção de uma greve nacional por tempo indeterminado é capaz de reverter toda a barbárie que está sendo colocada em andamento pelo governo de Bolsonaro. A greve protagonizada pelos estudantes da UFSC foi, de forma criminosa, isolada pelas direções nacionais do movimento estudantil. Ela deve servir de inspiração para o conjunto de milhares e milhares de estudantes tomarem as rédeas de seus próprios destinos e ultrapassarem as direções incapazes de dar uma saída revolucionária para os nossos problemas.