Foto: Marcelo Camargo, Agência Brasil

Balanço das eleições capixabas e nossa posição de classe para o 2º turno

A interpretação marxista e a reflexão sobre o resultado das eleições é fundamental para evitar os impressionismos, e pra isso é preciso partir da compreensão de que o terreno eleitoral representa de modo deformado a luta de classes. Em Vitória-ES, a disputa para a prefeitura terá o segundo turno entre o Delegado Pazolini (Republicanos), que obteve 30,95% dos votos, e João Coser (PT), que ficou com 21,82% dos votos. Em Cariacica, outro município da região metropolitana, também haverá segundo turno com a presença de uma candidatura petista, da Celia Tavares, que obteve 14,04% dos votos, contra o candidato Euclério Sampaio (DEM), que largou na frente com 18,81% dos votos. Outro elemento importante para nossa análise é a eleição de Camila Valadão na capital do Estado, a primeira candidatura do PSOL no Espírito Santo que terá um mandato numa câmara municipal, sendo a segunda candidatura mais votada, com 5.625 votos.

Um dado que chama a atenção é a quantidade de votos nulos, brancos e abstenções. Em Vitória são 80.156 eleitores que não votaram em nenhum candidato, isto é mais do que o dobro de pessoas que votaram no candidato do PT e 27.142 pessoas a mais do que as que votaram no candidato delegado do Republicanos. Em Cariacica foram 97.972 votos brancos, nulos e abstenções, o que significa três vezes a quantidade de votos que recebeu o candidato do Democratas no primeiro turno, que obteve 30.934 votos.

Existe uma evidente descrença com o sistema político. Os candidatos bolsonaristas, que utilizaram demagogicamente um discurso antissistema nas eleições de 2018, tiveram resultados fracos pelo país nas eleições deste ano, a partir da experiência concreta das massas em quase dois anos do desastroso governo Bolsonaro. E mesmo o PT, que é visto por boa parte da população – em particular a juventude – como um partido igual aos outros, fruto de sua adaptação ao capitalismo, teve uma queda geral em seus resultados pelo país, mesmo tendo chegado ao 2º turno em duas cidades importantes no Espírito Santo.

O caso é que não existe onda conservadora, nem tampouco estamos à beira do fascismo ou neofascismo como afirma a nota de orientação conjunta da executiva estadual e municipal do PSOL de Vitória e Cariacica. O que temos é a busca da juventude trabalhadora por saídas radicais diante da impossibilidade de respirar dentro do capitalismo. E isso se expressa também em resultados positivos do PSOL em diferentes cidades, a eleição de Camila Valadão em Vitória, ou a chegada de Guilherme Boulos ao segundo turno em São Paulo. Combatemos a política da direção do PSOL, um reformismo pequeno burguês que não pode servir à luta revolucionária do proletariado, porém é preciso compreender como a maioria das pessoas enxerga o PSOL (um partido à esquerda do PT) e o que expressa politicamente seu resultado nessas eleições.

A tese de que o capixaba é conservador esconde o conservadorismo dos partidos que não rompem com a burguesia (PT e PCdoB) e os que aprofundam a linha de alianças com setores da burguesia (PSOL). Para dialogar com o ódio ao sistema presente na base da sociedade e construir uma saída para os trabalhadores, uma candidatura de esquerda deveria utilizar o terreno eleitoral para defender os interesses imediatos e históricos do conjunto da classe trabalhadora, sem alianças com a burguesia, sem semear ilusões na democracia burguesa.

O caminho da derrota nós já experimentamos nas últimas eleições presidenciais com a tese de que estamos numa ditadura fascista ou neofascista, e que a hora é de defesa da democracia e das atuais instituições democráticas, alianças com setores democráticos da burguesia, do embate pela construção de uma “narrativa empoderadora” cuja representatividade reflita a complexidade e desigualdade social. Esse discurso acadêmico e elitista, fundado nas ideias alheias ao marxismo e alheias à acumulação de conhecimento da classe trabalhadora com suas experiências de governos operários, já demonstrou sua ineficácia teórica e prática diante dos avanços do capitalismo contra as liberdades democráticas conquistadas com muita luta por homens e mulheres de nossa classe.

A desconfiança dos trabalhadores com o PT não é infundada, nem é fruto apenas de uma alienação ou moralismo/conservadorismo. A desconfiança é de quem observa a liderança do PT trair a classe trabalhadora seguidamente, como é o caso da maioria dos sindicatos dirigidos pela CUT no país, e em nosso caso, um dos mais escandalosos é o do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Espírito Santo (Sindiupes) que se furtou à luta pelo não retorno das aulas presenciais, pois é evidente que se chamassem uma assembleia que pautasse a greve, a direção seria obrigada a cumprir o seu papel. Além disso, os ataques durante os governos Lula e Dilma, o bloqueio do PT ao “Fora Bolsonaro”, a entrega da previdência sem qualquer resistência, as inúmeras sabotagens às manifestações de 2019 (o tsunami da educação que reuniu mais de 30 mil pessoas nas ruas da capital capixaba) perpetradas pelas direções demonstram sua capitulação diante dos acontecimentos históricos.

Por que afirmamos que os partidos de esquerda é que têm sido conservadores? Porque semeiam a ilusão de que é possível alcançar de fato um mundo justo, menos racista, machista e homofóbico dentro da democracia burguesa. Isso se expressa na ideia de que o sistema precisa representar a diversidade e de que, portanto, devemos defender essas instituições apodrecidas contra o espantalho do fascismo ou do neofascismo. Essa é a maior utopia contra a qual apresentamos a ciência do proletariado, o marxismo.

Para de fato enterrarmos todo esse lixo da história que emerge dos bueiros da sociedade capitalista, toda a escória representada pelos elementos mais degradados, como Delegado Pazolini e Euclério Sampaio, é necessário que os trabalhadores e sua juventude se organizem para lutar contra o capitalismo e, neste combate, superem as velhas direções conciliadoras e construam uma nova direção, verdadeiramente comprometida com a luta pelo socialismo.

A defesa das liberdades democráticas, a luta por qualquer melhoria nas condições de vida dos trabalhadores, é uma forma de aliarmos cada luta parcial à luta pelo socialismo, na medida em que demonstramos sua contradição com o regime da propriedade privada dos meios de produção. Portanto, ser conservador e defender esta palavra vazia: “democracia”, aliar-se à Rede Globo e aos grandes empresários é não apenas o caminho da derrota para o PT nas eleições atuais como para a construção do PSOL como uma alternativa à esquerda do PT, bloqueando seu caminho para ganhar a confiança da classe trabalhadora.

Neste segundo turno, a Esquerda Marxista do Espírito Santo adota uma posição de classe, para derrotar os candidatos da burguesia nós chamamos voto em João Coser e Célia Tavares, os candidatos do PT para as prefeituras de Vitória e Cariacica, respectivamente. Ao mesmo tempo, criticamos a linha política conciliadora do PT, não iludimos os trabalhadores com estes candidatos e não confundimos nossos métodos e programa com o deles. Convidamos a todos que não veem as eleições como o fim da luta política, mas como um meio para intervir buscando ajudar a classe trabalhadora a avançar em sua consciência e organização no combate à burguesia e seu sistema, que se juntem à Esquerda Marxista na construção da revolução socialista que venha a acabar com toda forma de exploração e opressão.