O banqueiro Guillermo Lasso foi eleito no domingo (11) presidente do Equador. Representante da oligarquia capitalista que domina o país, Lasso venceu em disputa acirrada com o economista de esquerda Andrés Arauz, que havia largado na frente no primeiro turno. O presidente eleito é ultraliberal e buscará atacar direitos trabalhistas e privatização dos serviços públicos.
A votação foi apertada, com 94,6% dos votos apurados, Guillermo Lasso registrava 52,5% dos votos contra 47,5% de seu concorrente. Com o país mergulhado em uma crise econômica e política — que parece não ter fim — o processo eleitoral foi tumultuado desde o começo.
No primeiro turno quem havia vencido era Andrés Arauz, do partido União pela Esperança (Unes), carregado pelo apoio do ex-presidente Rafael Correa e por boa parte de lideranças da esquerda. O candidato do correísmo havia obtido 32,72% dos votos e tinha boa vantagem frente aos demais presidenciáveis.
Guillermo Lasso disputou voto a voto com o líder indígena Yaku Pérez para chegar ao segundo turno. Candidato pelo Partido Social Cristiano (PSC) e representante do movimento de direita Criando Oportunidades (CREO), Lasso atingiu 19,74% dos votos. Já o representante do movimento Pachakutik (PK), Yaku atingiu 19,39% dos votos.
A diferença de apenas 0,35% entre Lasso e Yaku levou a suspensão da contagem automática e recontagem manual das cédulas – o que atrasou o anúncio em duas semanas e gerou protestos do movimento Pachakutik.
A situação já era convulsiva
O atual presidente Lenín Moreno é odiado pelas massas e deixará o governo com rejeição recorde. Eleito em 2017 – após 10 anos do governo Rafael Correa – Moreno aplicou fielmente os planos do Fundo Monetário Internacional (FMI), com volumosos cortes de recursos dos serviços públicos e retirada de direitos e subsídios sociais.
A política de Lenín Moreno resultou em uma farra especulativa que aumentou o lucro dos banqueiros e afundou a nação na miséria e desemprego. A dívida pública saltou de 15 bilhões de dólares para cerca de US$ 70 bilhões, somente no período. As medidas aprovadas, visando garantir os compromissos com o mercado financeiro, atacaram brutalmente a soberania do país.
A catástrofe do governo Lenín Moreno levou a uma revolta popular em 2019, após anúncio de mais um pacote econômico e retirada do subsídio a combustíveis. Sob gritos de “Fora, Moreno!”, uma onda de greves e protestos chegou a cercar o Palácio Presidencial, sede do governo na capital Quito. O presidente e todo alto escalão do poder teve que fugir para a cidade de Guayaquil, de onde decretou estado de exceção durante 60 dias. O governo só não foi derrubado por uma revolução porque a direção da Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie) — ligado ao movimento Pachakutik —, que dirigia o movimento, fez um acordo com o governo de recuo diante de algumas concessões parciais.
A situação seguiu convulsiva e foi interrompida com a pandemia. No entanto, embora a Covid-19 tenha suspendido por um tempo o movimento que se iniciou em 2019 — e não foi resolvido —, a doença afundou as principais regiões metropolitanas do Equador (Quito e Guaiaquil) em uma crise sanitária com impactos sociais e morais sem precedentes. As imagens de pessoas morrendo nas casas e sendo abandonadas nas ruas por falta de caixões e vagas em cemitérios, rodaram o planeta.
Como Lasso virou o jogo
Apesar de enormes ilusões em um capitalismo humano, o programa apresentado por Andrés Arauz no primeiro turno defendia certas medidas progressistas, como, por exemplo, recuperar os serviços públicos de saúde e educação, medidas de combate à fome e de “justiça social”. Essas ações, mesmo no marco do capitalismo, eram inaceitáveis para a burguesia equatoriana, que busca reduzir o custo do trabalho ao valor mínimo possível e assaltar os cofres públicos.
Com a possibilidade de vitória de Arauz, a mídia burguesa e o aparato estatal se unificaram em uma verdadeira campanha de calúnias e acusações contra o candidato do correísmo. O Ministério Público colombiano chegou a expor acusações (sem provas) de ligação de Andrés Arauz com a guerrilha colombiana e com escândalos de corrupção.
Guillermo Lasso se apresentava como alguém que não era político, no sentido pejorativo. Frente às acusações de corrupção atribuídas ao correísmo, dizia que não estava se candidatando para acumular riquezas.
Após ser confirmado estar fora do segundo turno, o líder indígena Yaku Pérez passou a fazer campanha pelo voto nulo. Yaku sabia que seus 19,39% de votos seriam decisivos e a postura de neutralidade, frente a uma ofensiva burguesa, beneficiou evidentemente o banqueiro Guillermo Lasso.
Contudo, soma-se que a linha política de Arauz — de reformar o sistema opressor ao invés de destruí-lo e avançar rumo ao socialismo — não se conectava com uma parte da população radicalizada e cansada de promessas. Um programa que apresentasse a perspectiva de enterrar de vez os privilégios de uma elite colonial, cancelando a dívida pública e colocando todos os recursos para emprego, saúde e educação, certamente dialogaria com o sentimento de revolta que se expressou nas lutas de 2019.
Um governo de ataques
Guillermo Lasso será um governo de ataque aos trabalhadores e povos indígenas. Sua política de livre comércio pretende dizimar qualquer presença estatal nos serviços públicos e na assistência social e previdenciária.
Por outro lado, os trabalhadores, os povos indígenas e a juventude possuem disposição de luta. O grande problema é a falta de uma direção revolucionária que aponte o caminho da tomada do poder e expropriação da oligarquia equatoriana.
Os vacilos da Conaie geram uma série de contestações e divisões na base dessa organização — que é o principal agrupamento indígena do país. O aprendizado com as lutas de 2019; a conclusão de que a elite é incapaz de gerir a atual crise; e a lição tirada do governo Rafael Correa — que concedeu algumas conquistas no momento em que a economia global permitia, mas tudo foi retirado quando a situação se modificou — estão frescas na memória e forjam novos dirigentes dispostos a ir além dos atuais. O certo, é que para cada ação do novo presidente Lasso haverá uma reação proletária.