Hoje, começa no Brasil uma mega-liquidação geral que há muito tempo faz sucesso nos EUA: a Black Friday, um dia onde tudo é vendido a menor preço, para delírio de todos. Mas nestes tempos de crise, onde cada vez menos gente, tanto no Brasil quanto nos EUA, tem condições de gastar dinheiro em compras festivas, este dia ganha um significado um tanto irônico.
Hoje, começa no Brasil uma mega-liquidação geral que há muito tempo faz sucesso nos EUA: a Black Friday, um dia onde tudo é vendido a menor preço, para delírio de todos. Mas nestes tempos de crise, onde cada vez menos gente, tanto no Brasil quanto nos EUA, tem condições de gastar dinheiro em compras festivas, este dia ganha um significado um tanto irônico.
Já há muito tempo a sociedade em que vivemos mergulhou em uma crise estrutural da qual não consegue sair. Convertida em freio para o desenvolvimento humano, o capitalismo sitia a humanidade com suas contradições. A fome predomina onde há fartura de comida, onde o esplendor é possível, a barbárie persiste, os que poderiam ser enormes avanços tecnológicos em benefício da saúde e do lazer da humanidade são convertidos em máquinas e bombas cada vez mais poderosas, que dizimam um gigantesco número de pessoas inocentes em diversos países.
Diante deste cenário internacional de barbárie e violência crescentes, esta data não deixa de representar uma ironia. Introduzida pela primeira vez no Brasil em 2010, a Black Friday é um feriado que sucede o Dia de Ação de Graças, que junto com o 4 de Julho e o natal, são os três feriados mais importantes dos EUA. No Brasil, por outro lado, essa data não provocava filas quilométricas de clientes, que esperam de pé na porta das lojas na madrugada, como ocorre nos EUA todos os anos. O motivo é simples: as grandes multinacionais de comércio, principais responsáveis pela Black Friday nos EUA, sempre consideraram como os consumidores brasileiros como secundários. De fato, até muito pouco tempo atrás, os gastos dos brasileiros com as festas de fim de ano eram absolutamente irrisórios se comparados ao volume de compras dos cidadãos norte-americanos na mesma época.
Contudo, com o estouro da crise em 2008, a situação internacional sofreu abalos consideráveis. Os trabalhadores norte-americanos estão vendo seus salários serem reduzidos ano a ano, ao ponto de que muitos são obrigados a deixar suas casas e ir morar com parentes, muitas vezes tendo que cruzar o país em direção a estados distantes, onde os custos de vida sejam menores. O desemprego e o subemprego atinge dezenas de milhões de pessoas, inclusive da classe média, que viu milhões de famílias antes prosperas irem para a pobreza.
É devido a esse cenário que, neste ano, as multinacionais decidiram investir em uma Black Friday grande no Brasil. A parte dos lucros que o Wal Mart já não consegue obter no mercado americano será retirada em países como o Brasil. O mesmo farão a Nike, a Hollister, a Microsoft e tantas outras grandes empresas norte-americanas. Muitos ideólogos imbecis do capitalismo já estão utilizando o sucesso da propaganda para apontar um suposto futuro a este sistema: já que as empresas estão deixando de lado os EUA e vindo para o Brasil, é o sinal de que o mundo é cada vez mais “multipolarizado”, o que indica que estamos entrando em uma “nova era” mais democrática e mais próspera.
Na verdade, tanto nos EUA quanto no Brasil os índices de consumo, inclusive os de primeira necessidade, estão caindo vertiginosamente a medida que a crise avança. Nenhuma “teoria” nova pode esconder essa verdade. No desespero para finalmente poder fazer compras sem precisar comprometer o salário dos três meses seguintes com o banco, as pessoas brigam por lugares nas filas, atendimento e até mesmo por descontos maiores. Nos EUA, milhares de trabalhadores do Wal Mart e outras redes de supermercados já foram agredidos por consumidores desesperados. Protestos foram vistos em muitas lojas e já surgiram as primeiras ameaças de greve por parte dos trabalhadores.
Em uma sociedade socialista, o consumo seria baseado nas necessidades materiais, culturais e de lazer da humanidade. Ou seja, os produtos e as lojas estariam a serviço do povo, e não do lucro das grandes holdings. O espetáculo do consumo capitalista, que une a ideologia dominante da ostentação com a realidade cruel da imensa maioria das pessoas, encontra grande expressão na Black Friday. A degeneração cada vez maior do sistema só pode resultar no agravamento das condições materiais dos trabalhadores, que não podem esperar pela Black Friday do ano seguinte. Para enterrar de vez a pobreza material e o sofrimento pessoal da imensa maioria das pessoas, somente lutando para construir um outro mundo, o mundo sem explorados e exploradoes.