A Conferência Eleitoral do PSOL, ocorrida no último sábado (10/3), definiu a chapa que vai concorrer à presidência da República pelo partido. Temos criticado o método utilizado para essa decisão, uma Conferência onde os delegados foram indicados a partir da proporção das forças no Diretório Nacional, ao invés de eleitos a partir do apoio angariado por cada pré-candidatura na base. Dessa forma, deixou-se de lado a discussão dos programas que cada pré-candidatura apresentou.
As pré-candidaturas inscritas há mais de um mês, aliás, ficaram escondidas nos meios de comunicação do partido. Apenas um debate foi realizado, no dia 7 de março, três dias antes da Conferência.
A Conferência eleitoral antidemocrática serviu para garantir, sem surpresas, a escolha dos candidatos desejados pela maioria da direção: Guilherme Boulos, do MTST, para presidente, e Sônia Guajajara para vice.
Como já expressamos, não consideramos um problema a filiação de Boulos ao PSOL, muito menos a aproximação com o MTST. O problema são os métodos antidemocráticos para alçá-lo a candidato e os objetivos políticos por detrás da busca de sua candidatura, que não é “do PSOL”, mas da aliança do partido com “movimentos sociais, artistas, intelectuais”, como explicado pelo próprio Boulos em sua filiação no dia 5 de março e na Conferência Eleitoral.
A sombra do PT
Um breve fôlego foi proporcionado ao PT com o impeachment de Dilma. O partido foi poupado da inglória tarefa de realizar os ataques mais duros contra a classe trabalhadora (apesar de tudo já estar planejado desde o governo petista) e ainda pôde sair do poder como vítima da direita. Tal situação levou muitas organizações e ativistas a aderir à linha política ditada pelo PT: “conta o golpe”, “defesa da democracia”, “diretas já”, “Lula 2018”. E nesse processo colocar para debaixo do tapete as traições dos governos petistas, falar de belezas inexistentes nesses governos, e abandonar uma política independente.
Essa adaptação se viu tanto no PSOL, quanto na Frente Povo Sem Medo, encabeçada por Boulos e o MTST. A Esquerda Marxista combateu o impeachment sem defender o governo Dilma. Somos contra a Lava Jato e a condenação de Lula sem provas, mas sem deixar de apontar as traições de Lula e do PT, e explica com clareza que o candidato Lula, ou o “plano B” que o PT colocar em seu lugar, não oferece nenhum futuro para a classe trabalhadora, apenas mais submissão à burguesia e ao imperialismo.
A campanha do PSOL não pode ser apenas de contraposição a Alckmin e Bolsonaro e simpática ao PT. Ela deve apresentar-se como alternativa para a reorganização da classe trabalhadora, de luta pelo socialismo e isso não pode ser feito com um discurso de que avanços sociais foram realizados pelos governos petistas e o único problema é que foram limitados. Isso é ilusão e concretamente bloqueia o caminho para o PSOL se construir como alternativa de classe independente.
O manifesto “Unidade para reconstruir o Brasil”, assinado pelas fundações do PSOL, PT, PCdoB e PDT, com a participação do PSB nos debates, é mais um elemento da adaptação do PSOL à política petista, que busca dar a base para uma unidade de apoio a um possível candidato do PT no segundo turno.
O PSOL precisa romper com o rumo em direção à adaptação ao sistema político e eleitoral, ou irá degenerar em uma velocidade muito maior do que o processo que levou o PT à situação atual.
O programa da candidatura e financiamento
A base programática inicial desta aliança PSOL e MTST é a plataforma “Vamos”, impulsionada pela Frente Povo Sem Medo, e que realizou uma série de debates com a presença de dirigentes do PT e do PSOL. A plataforma passa pela defesa do Bolsa Família, orçamento participativo, financiamento público de campanhas eleitorais, cotas nas universidades, além de uma série de propostas para democratizar e regular o capitalismo, sem tocar nas tarefas revolucionárias e socialistas, ou seja, a derrubada do Estado burguês.
A Conferência Eleitoral decidiu que o programa da candidatura de Boulos está baseado no acúmulo programático do PSOL e da plataforma Vamos. Grupos de Trabalho temáticos irão discutir o programa de governo, o que será seguido por debates públicos de cada tema e contribuições virtuais, depois o retorno aos Grupos de Trabalho para a redação final. Tudo parece muito democrático e participativo. Apenas com o “detalhe” de que o programa, no fim das contas, não será aprovado em um Congresso com delegados eleitos na base.
A Conferência Eleitoral encaminhou para a Executiva do partido deliberar sobre a divisão do Fundo Eleitoral, sem questionamentos sobre o PSOL utilizar-se desse dinheiro para suas campanhas. A Esquerda Marxista é contra o fundo partidário e o fundo eleitoral, que são dinheiro público indo para sustentar partidos e campanhas, em grande parte da direita, atrelando os partidos operários ao financiamento do estado burguês, tornando-os dependentes desses recursos. Nós consideramos que o PSOL deveria prezar pela independência financeira para garantir sua independência política, e basear sua arrecadação na contribuição de militantes e simpatizantes do partido, assim como o PT fazia na sua origem, vendendo camisetas, estrelinhas, realizando confraternizações, bingos etc.
Como seguir o combate
A Conferência Eleitoral encerrou os debates sobre a escolha do candidato a presidente pelo PSOL nestas eleições. A Esquerda Marxista defendeu, desde o primeiro momento, a pré-candidatura de Nildo Ouriques, com uma plataforma baseada na luta de classes, que se contrapunha firmemente ao reformismo do PT, e que apontava a necessidade da revolução socialistas para enterrar o decadente sistema capitalista. Veja aqui a intervenção do companheiro Nildo na Conferência Eleitoral.
Comitês de apoio a esta pré-candidatura foram formados pelo país, além de ter trazido novos filiados para o PSOL. Este combate conjunto vai seguir.
A chapa Boulos/Guajajara é a que representará o partido nestas eleições. Não foram os candidatos que defendemos, mas sendo esta a candidatura do partido, nela estaremos em campanha, defendendo as nossas posições e fazendo as críticas necessárias. As candidaturas do PSOL podem ser o canal para jovens e trabalhadores expressarem a vontade de luta e de busca por uma saída política independente.
Foi o que se passou em outros países. Na Grécia com o Syriza, na Espanha com Podemos, na França com a França Insubmissa, na Grã-Bretanha com o Partido Trabalhista a partir da liderança de Jeremy Corbyn. Estes fenômenos expressaram a busca da classe por se reorganizar sobre um novo eixo. Ao mesmo tempo, o exemplo do Syriza mostrou que ao se limitar a um reformismo de esquerda, sem romper com o capitalismo, a consequência inevitável desta política é a traição às aspirações da classe trabalhadora.
Para construir as ideias do marxismo entramos no PSOL, buscando dialogar com a base que olha para este partido como uma alternativa. Para continuar o combate convidamos todos os nossos apoiadores a se filiarem ao PSOL e estarem juntos conosco na batalha por um partido de classe, independente da burguesia, instrumento da luta dos explorados e oprimidos para enterrar o capitalismo e construir o socialismo. Filie-se ao PSOL, junte-se à Esquerda Marxista!