Relato do segundo debate da escola de formação da Esquerda Marxista
O segundo tema da Escola de Secretários da Esquerda Marxista, abordado no sábado (28/4), em Barra do Sul, tratou da questão das eleições e do papel dos marxistas nesses processos. O debate ocorre em uma época em que a raiva de jovens e trabalhadores contra o sistema reflete-se diretamente no período eleitoral através de uma rejeição a “tudo o que está aí”. Nos últimos anos, os votos brancos, os nulos e as abstenções chegaram a atingir 50% do apurado nos processos eleitorais no Brasil.
A abertura da discussão foi realizada com um informe do militante da Esquerda Marxista Luiz Bicalho, que fez uma análise histórica da luta pelo sufrágio universal desde o início do século 19 na Europa, passando pelo período pós-Revolução Russa de 1917 e chegando aos dias de hoje.
O ânimo que marcou o debate ocorrido na parte da manhã, sobre a luta contra as idéias alheias à classe trabalhadora, manteve-se e foi uma das características que acompanhou um elevado nível teórico e político.
Um tribuno da classe operária
Na Inglaterra, entre 1830 e 1840, um movimento genuinamente proletário surge para exigir, através de uma carta de reivindicações, medidas como a redução de jornada de trabalho para 12 horas, proibição do trabalho noturno para mulheres e crianças e, entre outras coisas, a participação dos trabalhadores no parlamento burguês. O movimento ficou conhecido como o Partido Cartista e, mesmo sofrendo uma derrota, foi um movimento político da classe trabalhadora e serviu de influência para Karl Marx e Friedrich Engels desenvolverem sua teoria anos mais tarde.
Foi no seio da Primeira Internacional que a posição dos comunistas sobre a participação no parlamento se definiu. Para Engels, a “abstenção absoluta em matéria política é impossível” e tomar uma medida do tipo seria jogar o proletariado nos braços da burguesia. Ao mesmo tempo, os comunistas não participam no parlamento com o objetivo de participar de um balcão de negócios da burguesia. De acordo com Bicalho, um comunista deve ser o tribuno da classe operária. Defender os interesses dessa classe em qualquer lugar, como é colocado no Manifesto do Partido Comunista: “Os comunistas se recusam a esconder suas opiniões e objetivos. Eles declaram abertamente que seus fins só podem ser obtidos pela derrubada violenta de todas as relações sociais existentes.”
O problema do oportunismo e a tarefa dos marxistas hoje
Com o triunfo da Revolução Russa e a fundação da Terceira Internacional, uma massa de jovens e trabalhadores ao redor do mundo reconheceram-se na Internacional Comunista. Com o objetivo de salvarem seus mandatos, parte dos políticos dos velhos partidos socialistas aderiu à nova Internacional, que prontamente criou mecanismos de controle para combater esses elementos oportunistas.
A questão do oportunismo no parlamento nasce com o reformismo clássico do século 20, teorizado por figuras como Eduard Bernstein, que se adaptaram ao regime da burguesia. Entretanto essa é uma questão que ainda não se resolveu e apenas se transformou ao longo dos anos. Na época em que vivemos não há mais um reformismo real, há somente os que alegam defender essa linha, porém não conseguem e não podem conquistar nenhuma reforma concreta. Na verdade, agem como contrarreformistas, que atuam como agentes da burguesia dentro do movimento dos trabalhadores. Para Bicalho, a maioria dos partidos da classe operária está traindo suas bases, e cada vez mais rapidamente.
Assim como fez a Internacional Comunista até o seu quarto congresso, os marxistas precisam usar o parlamento para construir o partido da classe operária que luta para derrubar o regime da propriedade privada dos grandes meios de produção. Esse será o papel dos candidatos da Esquerda Marxista nas eleições deste ano e no parlamento, sobre a base de uma plataforma eleitoral de classe que busca explicar que todas as reivindicações são parte do processo de luta pela transformação revolucionária da sociedade.
A Escola de Secretários da Esquerda Marxista também abordou a luta contra as ideias alheias à classe trabalhadora e a atualidade do bolchevismo para a construção de um partido revolucionário. No domingo à noite (29/4) ocorreu a abertura do 6º Congresso da Esquerda Marxista [confira o relato desse evento aqui], que seguiu seus trabalhos até 1º de maio – histórico Dia Internacional da Luta dos Trabalhadores.