Campinas-SP: Lições da Greve

O fim da greve arrancou um reajuste muito pequeno e foi causado principalmente pela traição da direção do sindicato. Mas aos poucos e pela base, estamos avançando.

A greve dos servidores municipais de Campinas que começou com ampla adesão e muita combatividade, encerrou-se depois de 20 dias numa assembléia dividida e com a sensação de que algo melhor poderia ser conquistado.

Entender por que isso aconteceu é importante para que os próximos combates se desenvolvam da melhor forma possível para a categoria. Logo no começo da greve, nós, marxistas, explicávamos:

“Há dois perigos para o movimento grevista hoje: o espontaneísmo e o esquerdismo. O primeiro implica em rebaixar as tarefas políticas do movimento ao âmbito meramente econômico-sindical e em acreditar que não é necessário piquetes e nem comando para manter o movimento fortalecido.

O segundo implica em querer resolver todos os problemas numa única ação bem radical e de impacto midiático. Ambas as posições acabam sendo irresponsáveis com os trabalhadores em greve.

É preciso trabalhar para que a adesão quase espontânea dos trabalhadores não acabe na semana seguinte por falta de uma direção clara sobre o que fazer e como fazer, pensando inclusive em estender a greve por mais tempo, se a Prefeitura não ceder (que é o que tudo indica)”.

As idéias esquerdistas não fizeram eco na categoria, mas o espontaneísmo prevaleceu. Os trabalhadores contavam com uma grande vontade de lutar pelos 18% de reposição salarial e outras reivindicações, porém, a direção sindical não soube dar uma resposta política ao movimento: ora deixava a categoria sem um norte, fingindo-se de “democrática”, para não tomar posições nos momentos mais importantes e ora discursava tecnicamente sobre os limites orçamentários da Prefeitura, capitulando frente à Lei de Responsabilidade Fiscal.

Trata-se de um claro exemplo de como atuam os reformistas nos casos em que a luta avança para além do que eles gostariam. Seguem o movimento, ao invés de dirigí-lo. Ao invés de agruparem e tornarem o movimento mais sólido, deixam as forças se dissiparem.

É claro que se houvesse uma direção sindical consciente desse perigo, o movimento se manteria fortalecido por mais tempo e poderia arrancar melhores resultados, mas o grande responsável pelo arrocho salarial dos servidores e pelo descaso com os serviços públicos é o governo municipal, comandado pelo Dr. Hélio (PDT).

A categoria foi duramente reprimida, moral e fisicamente. A GM (Guarda Municipal) e a PM (Polícia Militar) iniciaram um confronto com os servidores, quando os trabalhadores tentavam se manifestar no Paço Municipal. Houve agressões e muito gás de pimenta. Três trabalhadores foram levados para a delegacia e depois liberados.
O governo veiculou propagandas anti-sindicais e fascistas no horário nobre das principais emisoras de TV e nos jornais impressos, assediando os grevistas com ameaças de desconto nos dias parados e com contratações de pessoal para furar a greve. Ordenou publicamente o retorno ao trabalho, encerrando as negociações, e intimou a PM a agir para evitar piquetes e passeatas.

O Dr. Hélio pediu também a intermediação da justiça, mas avisou que só negociaria se o sindicato tivesse poderes para assinar um acordo na Junta de Conciliação, sem precisar discutir nada na assembléia.

E não é que o sindicato foi pedir para os trabalhadores uma carta branca para negociar com o governo?

A proposta dividiu a categoria: muitos perceberam a manobra do governo, que queria ditar a forma de organização da categoria, para impedir que a assembléia decidisse os rumos do movimento. Muitos, porém, confiaram na direção do sindicato, frente ao impasse instalado e ao esvaziamento da greve.

Os trabalhadores se sentiram acuados pelo governo extremamente anti-sindical e fascista e, por outro lado, não vendo um direcionamento eficaz da entidade sindical, foram se cansando e retornando aos seus locais de trabalho.

A direção sindical, por sua vez, conseguiu aprovar numa assembléia tumultuada a carta branca e aceitou a proposta do governo (3% no salário agora, mais 2,79% em Dezembro e R$ 28,00 no vale-alimentação), encerrando o movimento grevista.

Papel do PT e dos marxistas

Os servidores petistas estiveram na linha de frente da greve. Estavam na liderança dos
principais setores públicos, educação e saúde, e no comando de greve. Organizaram comandos regionais e atividades que deram sustentação à greve. Outros militantes de base e alguns membros do Diretório Municipal, incluindo o presidente do PT local, estiveram presentes, o que na prática coloca em contradição a aliança que se mantém entre o próprio PT e o atual governo.

Os marxistas se destacaram na organização dos trabalhadores da Saúde e no trabalho paciente com os guardas municipais, onde muitos estavam a favor da greve, queriam participar e chamavam o Sindicato para realizar conversas nas bases da GM (para enfrentar os chefes, que agem como se fossem coronéis da PM).

Os camaradas da Flaskô, fábrica ocupada de Sumaré – próximo a Campinas -, por diversas vezes estiveram presentes para prestar solidariedade e dar força para nossa intervenção na greve.

Além disso, conforme dissemos no início da greve, buscamos explicar que “é preciso avançar e aprofundar a discussão política. Elevar a batalha pelas reivindicações para o terreno político significa explicar pacientemente à população trabalhadora que a greve não é a responsável pela péssima qualidade da saúde e da educação e sim o governo – para desgastá-lo e isolá-lo, forçando o PT e o PCdoB a romperem a aliança que mantêm na cidade com PDT, PMDB e DEM! Significa também explicar que as condições de vida dos trabalhadores só melhoram com greve, com luta, porque senão o capitalismo e sua crise mundial vão arrastar a humanidade para a barbárie. E enfim, significa explicar que o movimento grevista é pela unidade dos trabalhadores e por uma greve geral no país contra a crise e pelo socialismo!”

Assim, com essa discussão, estamos agrupando os servidores e os petistas de Campinas que se mantêm fiéis à luta pela emancipação dos trabalhadores!

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