No ano em que a Covid-19 atingiu mais de 45 mil indígenas no Brasil, os yanomami do estado de Roraima viram a invasão de suas terras por garimpeiros crescer 30%. São 2.400 hectares de destruídos e um rastro de devastação, doença e morte que são a marca do capitalismo por onde quer que passe.
Um relatório divulgado pela Hutukara Associação Yanomami (HAY) e Associação Wanasseduume Ye’kwana (Seduume) aponta que somente o rio Uraricoera concentra 52% de toda a área devastada pelo garimpo. Diversas novas rotas pela floresta foram mapeadas e 35 pistas de pouso clandestino localizadas, o que deixa os invasores cada vez mais próximos das comunidades indígenas.
Além das consequências ambientais, que por si só afetam o equilíbrio e podem significar a fome para quem depende da floresta, o garimpo ilegal leva doenças como malária e a própria Covid-19. Com uma estrutura de atendimento médico praticamente inexistente, os indígenas que vivem em comunidades distantes dos grandes centros têm ainda mais dificuldade para receber atendimento e socorro médico.
A violência também se espalha junto com o garimpo. Em junho do ano passado, um grupo de cinco jovens indígenas foi atacado por garimpeiros quando se deparam com uma pista de pouso no meio da floresta. Dois deles, de 20 e 24 anos, foram assassinados com armas de fogo.
A invasão acontece com a complacência do Estado. Em 2019 o ouro se tornou o segundo maior produto de exportação de Roraima sem que haja uma única mina operando legalmente no estado.
No último dia 24 foi desmontada pela Polícia Federal uma “minicidade” com boates, bingos, acesso a wi-fi e 2 mil habitantes. Foram apreendidos GPSs, celulares, armas, munições, drogas, ouro e mercúrio. Estranhamento ninguém foi preso.
Em fevereiro, o governador de Roraima aprovou uma lei que liberava o garimpo de todos os tipos de minérios no estado com uso de mercúrio. A substância ajuda na depuração do ouro, mas tem um efeito extremamente nocivo uma vez que é rejeitado nas águas dos rios e afeta toda a cadeia alimentar. Um estudo realizado em 2019 pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz) constatou presença de mercúrio em 56% das mulheres e crianças yanomami da região de Maturacá, no Amazonas.
O ministro do STF Alexandre de Moraes suspendeu a lei, mas com uma justificativa meramente formalista. É competência da União legislar sobre a mineração e o governo estadual, portanto, não teria prerrogativa para tanto. Isso significa que se Bolsonaro decidir liberar a mineração com mercúrio, dificilmente a justiça ficará ao lado dos povos indígenas afetados.
Sem qualquer apoio do Estado, as lideranças indígenas que se articulam para defender suas terras são ameaçadas, perseguidas e mortas. Com a eleição de Bolsonaro, a violência aumentou à semelhança do que aconteceu no sul do Pará e outras áreas de avanço de latifúndios igualmente ilegais.
A verdade é que o capitalismo, principalmente em países dominados como o Brasil, não tem nenhuma capacidade de realizar uma exploração racional dos recursos naturais. Manter o equilíbrio natural e respeitar os direitos dos povos ribeirinhos, indígenas e camponeses que vivem na Amazônia é incompatível com um sistema econômico em que as necessidades humanas são submetidas à busca insana por lucro a qualquer custo.
É preciso derrubar esse sistema podre e construir um governo dos trabalhadores, sem patrões nem generais, que abra caminho para o socialismo e para uma economia planificada sob controle operário que seja capaz de suprir as necessidades básicas de todos sem destruir suas terras e seu modo de vida.