Editorial da edição nº 29 do Jornal Luta de Classes.
Todos os analistas concordam: a diferença entre a tragédia do Haiti e a do Chile é que por ser o Chile um país mais desenvolvido as condições para enfrentar o desastre natural são maiores. Verdade? Em parte. Todos nós lembramos a tragédia que se abateu sobre São Francisco (EUA) quando do furacão. E, interessante, o mesmo furacão passou em Cuba e poucas mortes causou.
Em outras palavras, assim como nos terremotos econômicos, dependeu da luta da classe operária contra a burguesia para que se impusessem normas e regras que permitiram à população de uma cidade ou de um país resistir mais ou menos aos furacões e terremotos naturais.
A verdadeira tragédia é que os senhores do poder, economistas, sociólogos e governantes burgueses e outros, querem nos convencer, mentirosamente, que assim como os terremotos e furacões são causados pela natureza, também os terremotos econômicos seriam causados pela natureza. E, como para estes senhores o capitalismo seria eterno, tais crises e problemas também seriam eternos e nunca poderiam ser resolvidos.
Hoje, todos olham para a situação da Grécia, de Portugal, da Irlanda, da Itália e, ao lado de rezarem para que nada saia errado, os abutres que rondam todos os desastres naturais querem o seu naco de carne. A Folha de São Paulo (2/2/10) publica artigo mostrando que um jogo virtual (FarmVille) fez uma campanha de ajuda ao Haiti e ficou com mais de 50% do valor doado! Assim foi na Grécia onde receitas alfandegárias foram dadas como garantia para empréstimos tomados a um banco privado e hoje o país não consegue fechar suas contas.
A velha palavra de ordem que tanto era gritada na America Latina nos anos 70 e 80, cedo ou tarde deve voltar a ser agitada nos países como Grécia e Itália: Não vamos pagar não, a dívida externa é coisa de ladrão. Há poucos dias o diretor geral do FMI alertou que pode estar se formando uma nova “bolha” em países como o Brasil e outros da América Latina. Por quê? O crédito cada vez aumenta mais, a classe operária endivida-se para poder sobreviver com dignidade e cada vez mais arrochada, o estado aumenta a sua dívida.
O crédito é necessário para a sobrevivência do capitalismo? Sim, é necessário. Mas é necessário que o capitalismo sobreviva? Sim, nos repetem todos os que um dia foram socialistas, que um dia combateram contra a dívida externa, que um dia combateram pela estatização dos bancos, que um dia combateram para reestatizar tudo o que foi privatizado, que um dia combateram pela reforma agrária.
Sim, alguns podem deixar esta luta e serem convencidos que o socialismo não é mais possível, que é necessário desenvolver o mercado interno como forma de prevenir-se e resguardar-se contra a crise, como se no momento em que a tragédia vier será possível construir edifícios que resistam ao terremoto com a mesma areia e barro com que se construíram as casas do Haiti.
É possível acabar com essas crises e com todas as suas consequências? É possível ter um mundo em que as notícias dos jornais não se alternem entre as apostas sobre o dia que a Grécia vai quebrar e os mortos nas tragédias do Haiti e do Chile? Sim, mas para isso é preciso construir edifícios de cimento e aço, é preciso que haja um planejamento da economia, contra as crises, como se planeja um edifício contra um terremoto. Em outras palavras, é necessário acabar com a desordem capitalista e em seu lugar implantar a ordem socialista, o planejamento e o desenvolvimento ordenado de todo o mundo.
E, num mundo onde se possa investir em ciência e técnica, também poderemos avançar até o ponto onde os terremotos e furacões possam, não só serem previstos, mas também prevenidos. Afinal, se o capitalismo pode produzir o monte de lixo que ameaça a vida planetária, por que o socialismo não poderá, com engenho e arte, produzir um mundo mais seguro onde todos possam viver em paz e segurança?