Capitão América 2 – Os bons tempos não voltam mais

Bom, quem não assistiu ao filme e não quer saber o que se passa (isso agora tem até nome chique), por favor, não leia. Mas, se quer ler uma crítica marxista sobre uma das maiores bilheterias dos últimos tempos, é aqui.

Bom, quem não assistiu ao filme e não quer saber o que se passa (isso agora tem até nome chique), por favor, não leia. Mas, se quer ler uma crítica marxista sobre uma das maiores bilheterias dos últimos tempos, é aqui.

Para começar, a estória empolga. Afinal, vemos o herói, o mocinho amado por todos, loiro e bonito, rebelar-se contra o “sistema de segurança” dos EUA. E, quem diria, o bandidão é encarnado por Robert Redford e a mocinha é linda. Nossa, o que mais podemos querer?

Eu poderia gastar um pouco destas linhas falando da atuação do Robert que é sensacional. O típico bandido de filme, com argumentos e gestos, econômico quando necessário, falastrão quando o papel pede, em cada minuto mostrando exatamente o sentimento e a força de expressão que se pode esperar. E que contraste com o restante, em particular com o meu, o seu, o querido Capitão, que provavelmente aprendeu com Silverster Stalone e com Arnold Schwarzenegger a grande arte de expressar o mesmo vazio tanto na alegria quanto na tristeza e até ao ser beijado pela Viúva Negra! Cara, que coisa sensacional. Ser beijado por uma mulher daquela e não sentir nada! É o máximo de interpretação.

Mas, isto pouco quer dizer frente a maioria dos filmes atuais. Então, o que temos de novo? Para os fãs de quadrinhos, que se lembram da morte do Capitão América em “Civil War” sabem que este truque já foi usado antes: colocar o ícone dos EUA contra o sistema. E que sistema. A proposta da SHIELD (uma forma de apresentar a CIA como algo mundial) é ter um sistema de porta-aviões aéreos dotados de armas e drones capazes de identificar todos os “inimigos” pelo seu DNA e então mata-los antes que cometam crimes. A crítica direta ao programa atual de morte aos “prováveis terroristas” pelos drones dos EUA e de Israel, sem direito a julgamento ou contestação, violação direta da Constituição dos EUA e de todas as leis e tratados internacionais salta aos olhos.

Mas, é possível hoje, nos atual EUA, destruir o seu sistema de segurança (NSA e sua espionagem eletrônica, CIA, o programa de drones e muito mais)? A resposta mais direta é “não”! Bem entendido, não pode ser destruído pela burguesia que depende mais e mais deste “sistema” e da “segurança” para impedir que a revolta das massas atinjam seus lucros, seja nos EUA seja no exterior. A verdade é que a justiça dos EUA acabou de decretar que o governo tem o direito de exigir que os dados guardados da Microsoft em outro país devem ser disponibilizados ao governo no momento em que este o exigir.

Por que tudo isso? Porque a burguesia sabe que a desigualdade está aumentando brutalmente e precisa aumentar a repressão. A CIA e a NSA não vão mudar porque um desertor denuncia o que eles fazem ou porque os “congressistas” dos EUA descobrem que eles também foram espionados e inclusive tiveram seus computadores violados e os dados lá guardados corrompidos! O governo dos EUA, através destes métodos, mostra a sua verdadeira face, o Comitê Central da burguesia ianque, um destacamento de homens armados destinados a preservar o poder e os lucros da burguesia.

Resta ao Capitão rebelar-se, criar a ilusão de que a democracia é possível e, quando o inimigo externo, real ou ilusório, apresentar-se, unir-se de novo ao governo para defendê-lo. Este sempre foi o seu papel e assim será nos próximos filmes.

O único que derrubará este sistema será o proletariado organizado. Afinal, como já disseram os que estiveram nas praças dos EUA, “nós somos os 99%” e quando estes estiverem unidos e organizados em um grande partido revolucionário, restará à burguesia apenas a lata de lixo da história.