Capitão América: o fim do sonho americano- Parte II

Uma análise marxista sobre o filme e a história do herói- segunda parte

Veja a Primeira parte aqui

O fim da segunda guerra mundial e a metamorfose do capitão América

O capitão America tem 70 anos de existência e vem se adaptando a cada momento histórico. Cada autor acrescenta um pouco de si e de seu tempo ao herói. O que o deixa sempre atual. Isso é uma das características da Marvel.

Dividi a história do Capitão América em três fases essenciais para entender o sentinela da liberdade nas HQs: o pós-guerra, a criação dos vingadores e a atual, sobre a qual falarei mais abaixo.

Na primeira fase, que começa após o fim da guerra, o capitão retornou para casa. Ele trabalharia agora na luta contra o crime, mas isso não fez muito sucesso e a revista foi cancelada. Em 1954, foram tentando ressuscitar o herói. O mundo vivia em plena guerra fria e os inimigos agora eram os comunistas. O Capitão caçava os espiões soviéticos, mas isso também não deu certo e após três anos a revista foi novamente cancelada.

Na década de 60 Stan Lee traz o Capitão América de volta. Ele e Kirb colocam o capitão junto ao Homem de Ferro, Thor, Homem Formiga e Vespa e formam assim, os vingadores, em 1964. É daí que surge a versão que após o fim da guerra mundial o Capitão teria sido congelado, o que explica ele não haver envelhecido. Enquanto que a fase marcarthista do herói foi apagada. Mais a guerra fria, ainda estava viva na década de 60, isso significa que ele apagou os comunistas?

Não, só que como o próprio Stan Lee afirmava a guerra fria não era uma simples luta do “bem” contra o “mau”. Logo, eles resolveram trazer os nazistas de volta, mas claro que isso não impedia o Capitão de cruzar com um ou outro espião comunista.

Os esforços dos editores da Marvel nos últimos tempos foram para mostrar o herói como alguém que transcende as cores de seu uniforme e que seus verdadeiros poderes não são sua força, mas sua coragem e seu caráter. O problema é que para todo o herói existe um vilão. E os vilões que o capitão enfrenta são normalmente ligados a algo político.

Assim, por mais que ele enfrente terroristas na conjuntura atual e não mencione nada sobre o Iraque ou os países árabes é claro para nós de quem a revista fala. É como os grandes meios de comunicações, se dizem imparciais e neutros, quando na verdade defendem o capital.

O fim do sonho americano

O sistema capitalista em ruínas impõe aos trabalhadores a exploração para garantir seus lucros. Todos os dias rios de dinheiro vão parar nos bolsos de algum banqueiro ou empresário para manutenção de seus privilégios. Enquanto que a saúde, educação emprego e os direitos dos trabalhadores se vêm ameaçados todos os dias!

O estado tem gastado trilhões com a crise para ajudar os capitalistas, mas nenhum centavo em benefício dos trabalhadores. Tudo que os trabalhadores vêem é a miséria se aproximando junto à crise. Está se privatizando os lucros e estatizando as dívidas. Enquanto a grande maioria sofre, os burgueses vivem tranquilamente. Esses são os verdadeiros vilões. Acredito que Joe Simon, um dos criadores do Capitão América, está certo quando afirma:

“Hoje, o mundo é um lugar muito mais perigoso do que era durante a 2.ª Guerra. Todos precisamos mais do que nunca de um herói como o Capitão América. Acho que é por isso que ele está recebendo tanta atenção de novo”.

Nesse contexto de “perigo”, como afirma Simon, não existe lugar onde os ideais universais do Capitão possam ser aplicados. Mesmo assim a Marvel, que agora faz parte dos estúdios Disney, irá aproveitar o período de crise e tentar estimular a imaginação da juventude. Afinal, quanto pior as coisas ficarem mais as pessoas desejarão um herói que as inspire como na segunda guerra.

Os trabalhadores derrotaram os nazistas, eles podem derrotar o capitalismo

No dia 1° de setembro de 1939 os nazistas invadiram a polônia e sucessivamente foram avançando. Em junho de 1941 o exército alemão invadiu a união soviética e durante 3 meses avançou em direção a Moscou, Leningrado e Stalingrado.

Hitler era apoiado pelos exércitos italiano, Húngaro e Romeno. Após não conseguir entrar em moscou, nem em Leningrado os nazistas foram em direção ao sul para ocupar Stalingrado e o Cáucaso. A intenção era dominar os centros industriais e a produção de cereais, petróleo, ferro e carvão, reforçando suas posições para derrotar o Estado Socialista.

A guerra, em 1942 parecia favorecer os nazistas, que iriam derrotar os soviéticos e posteriormente vencer a guerra. Em 16 de setembro o exército alemão consegue penetrar na cidade de Stalingrado. A guerra agora era rua a rua e casa a casa.

A cidade ardeu em chamas durante meses e virou ruínas. Era realmente o inferno na terra. Houve muitas baixas dos dois lados, mas mesmo com a superioridade do exercito alemão, os soviéticos mantiveram algumas áreas de Stalingrado. Mais de um milhão de soldados lutaram nesta batalha.

A URSS se encontrava sozinha diante do exercito nazista. Toda a ajuda dos britânicos foi suspensa durante a o auge da guerra. Foram 200 dias e noites de guerra, que no dia 2 de fevereiro de 1943 terminou com cerca de 90 mil soldados e 20 generais se rendendo aos soviéticos. Sendo essa a primeira derrota importante do exército alemão.

A derrota em stalingrado foi uma vitória dos trabalhadores soviéticos, que após vencerem os nazistas marcharam até Berlim e só não avançaram além porque Stálin os impediu. A luta contra os nazistas, que tinham um exército muito mais poderoso, pode ser comparada a luta dos povos árabes contra seus ditadores.

Como na segunda guerra, não foram os heróis, como mostra nos filmes Bastardos inglórios e Capitão América, nem os aliados que infligiram as derrotas importantes aos nazistas, mas os trabalhadores soviéticos.

O futuro do Capitão America e a crise atual


Diferente da década de 1940, nós estamos em uma crise muito pior. E é cada vez mais claro que os princípios abstratos de liberdade, verdade e justiça que o Capitão América defende o levariam a dois caminhos: se voltar contra seu estado ou agir de acordo com ele. Nas HQs atuais o que tem acontecido é a segunda opção, mesmo que de forma dissimulada.

Podem vir aparecer HQs em que o capitão, como na HQ guerra civil de 2007, seja morto por não aceitar medidas do governo americano provocando uma guerra civil entre os heróis. Isso é possível, pois os artistas escrevem como já disse sobre o que conhecem e vivem, em um contexto de guerra, crises e revoluções poderão ser contagiados por isso.
Enquanto isso nós vemos o estado capitalista como o maior vilão. Ele arranca nossos direitos e tira nossas liberdades por meio de leis ou pela força. É em épocas de crises que vemos que a toda a vilania de nossa sociedade está no capitalismo e em seu estado.

Só que para esse mal, não cabem heróis como capitão América, mas a ação das massas. A verdadeira força e os heróis tem sido os trabalhadores dos países Árabes que varreram as ditaduras de seus países. Eles foram heróicos, ao mostrar ao mundo que o exército pode ser forte, mas não para enfrentar a vontade do povo.

Seu exemplo serviu aos gregos, espanhóis, americanos e agora aos chilenos, que há mais de dois meses lutam pela educação pública gratuita para todos. Essas ações são heróicas e servem de exemplo ao mundo. É gente comum, jovens e trabalhadores, sem super poderes, que estão mudando a história da humanidade. Chegou ao fim o sonho americano de liberdade e propriedade sobre as bases do capitalismo, os sonhos agora são para outra sociedade que ponha fim ao estado e a sociedade capitalista.

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