Caso Empiricus, Bettina e a farsa dos cursos de investimento em ações

Em seu trabalho “Situação da classe trabalhadora da Inglaterra”, Friedrich Engels explica que, além da mais-valia extraída todos os dias dos trabalhadores assalariados, a burguesia sempre desenvolve formas adicionais de explorar a classe trabalhadora, como vender leite com sódio (caso Parmalat) para baratear a produção. Contudo, há outras formas atualmente utilizadas de extrair o pouco dinheiro que sobra ao trabalhador e colocá-lo diretamente nas mãos da burguesia.

Nos últimos anos temos visto uma avalanche de propagandas na internet apresentando soluções individuais para tirar as pessoas da pobreza gerada pelo capitalismo. Especialmente impulsionadas pela crise de 2008, empresas começam a oferecer cursos que prometem ensinar como ganhar dinheiro em casa, e a multiplicar seu orçamento. E a bola da vez desse tipo de tática são os cursos de investimentos em ações da bolsa de valores.

Atualmente, ao abrir um vídeo no Youtube, é provável que você se depare com uma propaganda da Empiricus. Esta empresa ficou conhecida por suas promessas de ensinar a investir e a ganhar muito dinheiro num prazo curto, utilizando o método de investimento em Bolsas de Valores. Sendo hoje a mais conhecida, a utilizaremos para exemplificar o que táticas desse tipo tem feito contra os trabalhadores, aproveitando-se da situação trágica vivida por nós.

O que é a Empiricus?

De acordo com o site da Empiricus, essa é uma empresa que ajudará o “brasileiro comum”, do “varejo”, a conquistar sua “independência financeira”. Seu funcionamento se dá basicamente pela realização de assinaturas: cada pessoa compra uma assinatura. Há valores diferenciados, de R$ 159 a mais de R$ 3.500 mil e você é obrigado a mantê-la por pelo menos 12 meses. Cada assinatura, de acordo com relato de usuários, resulta, de acordo o valor, em mais ou menos conteúdo, em dicas de investimento melhores ou piores. Após isso a pessoa deve investir pelo menos R$ 1.500 na plataforma indicada pela empresa e passa a receber notícias sobre aonde deve ser destinado esse capital inicial. Algumas das propagandas falam em transformar R$ 1500 em R$ 227.000 em 30 dias. Muito bom não é mesmo? Na verdade, não. A não ser para aqueles que lucram com a Empiricus e com o dinheiro pago por seus assinantes.

Ensinar o brasileiro comum a investir?

Em primeiro lugar, a promessa da Empiricus de que a empresa pode ensinar o brasileiro comum a investir na bolsa de valores é falsa. Afinal, quem é essa pessoa? Um brasileiro comum vive com uma renda familiar de R$ 1.258, trabalha pelo menos 44 horas semanais, e hoje ainda mais por conta da reforma trabalhista. Um brasileiro comum carrega as marcas de um desenvolvimento educacional defasado: em 2018 apontou-se que a cada dez alunos, sete têm rendimento insuficiente em português e matemática (3).

O brasileiro comum não tem R$ 1.500 nem para sobreviver, quanto mais para investir. E mesmo se tivesse, não teria tempo de estudar para aplicar da melhor forma seu dinheiro. Isso é fruto de uma educação pública falha que não permitiria a maioria dos brasileiros assimilar tais conteúdos nem que fossem válidos, o que não é o caso. Portanto, a promessa da empresa é, via de regra, falsa.

Fica claro o que dizemos ao constatar que a Empiricus teve que indicar como garota propaganda da empresa “Betina”, uma mulher de 22 anos que por um suposto “esforço próprio” no investimento em ações alcançou um patrimônio de R$ 1,42 milhões de reais em três anos. Foram necessários alguns dias para a farsa: ela se chama na verdade Bettina Dick Rudolph, herdeira de família rica, que detém, dentre outras, a fábrica de usinagem RUDOLPH como o principal meio de produção da família. Ou seja, o suor e tempo de todos os trabalhadores que ali que deixaram uma parte de si para enriquecer a família Rudolph resultou para Bettina em uma vida de luxo, tempo de investir e de ajudar a enganar centenas de milhares de trabalhadores Brasil afora em mais uma fraude. Um exemplo clássico da moral burguesa!

E outra coisa a salientar: a taxa de lucro divulgada por Bettina é impossível de ser conquistada. Nenhum investimento dentre os registrados pela própria bolsa de valores rendeu tanto quanto a Empiricus afirma, e não há nenhum registro que comprove, mesmo em termos especulativos, a veracidade disso. Inclusive, nenhum dos maiores investidores do planeta tem registrada uma taxa de lucro desta.

Como vemos, o projeto da Empiricus, assim como das demais empresas que prometem ensinar os trabalhadores a investir corretamente, só tem um fim: extrair mais dinheiro e suor da já tão sofrida classe trabalhadora. Prometem saídas individuais que via de regra não serão cumpridas, e no processo arrecadam dezenas milhões de reais. Hoje a Empiricus tem 330 mil assinantes. Se cada um optar pelo pacote mínimo de 159 reais, isso resultado em R$ 52,47 milhões faturados explorando o sofrimento e busca por uma vida melhor da classe trabalhadora. E sabemos que a média assina pacotes e paga valores muito mais altos. Vale ressaltar também que a fonte principal da receita da Empiricus não é o mercado de ações, mas o dinheiro dos assinantes.

Outro fato importante a considerar: Marcos Elias, um dos fundadores da Empiricus foi preso em 2018 pelo FBI por conspiração contra instituições financeiras. Ele era considerado inclusive um prodígio da área de investimento e certamente é um dos exemplos sem nome mencionados pela empresa daqueles que conseguiram, com pouco investimento, faturar centenas de milhares.

Uma última constatação é quanto às reclamações dos usuários. A nota dos consumidores pelo site do Reclameaqui é de 4.13/10. Os principais problemas apresentados por quem assinou os relatórios da Empiricus são: impossibilidade de cancelamento, não estorno do valor pago e propaganda enganosa.

A fraude promovida pela Empiricus não é um caso isolado. Corretoras em todo o mundo estimulam cursos e assinaturas, como as da Empiricus. A ideia vendida é a mesma: lucro rápido investindo e especulando na bolsa de valores. O resultado também é quase sempre o mesmo: enquanto corretoras e o governo lucram com a compra de ativos pelo “brasileiro comum”, este quase sempre perde o dinheiro investido. No fim das contas, assim como no caso da Empiricus, o investimento do “brasileiro comum” só serviu para enriquecer ainda mais a classe dominante.

Qual a saída?

Desde os primórdios do capitalismo, a burguesia utiliza de todo seu aparato para tentar iludir o conjunto dos trabalhadores. Busca disseminar delírios sobre grandeza e riqueza que poderiam ser alcançadas por esforço ou vontade próprias.  O que faz a Empiricus e empresas similares a ela não passa de um novo formato desse mesmo bicentenário engodo. E o resultado continua o mesmo: uma maioria mais empobrecida em prol de uma minoria que lucra com seu suor, sofrimento e sonhos.

Não existe saída individual para o conjunto da classe trabalhadora. Enquanto um ou outro consegue vez ou outra se desvencilhar de sua classe, a maioria absoluta segue na miséria e sendo esmagada pela opressão capitalista. E assim, será até a derrocada final do capitalismo.

A história mostra e nós reforçamos: só existe uma saída à classe trabalhadora e ela é coletiva. Todos os nossos direitos e o nível atual de vida alcançado se deu pelas lutas operárias que reduziram a jornada de trabalho, conquistaram o direito às férias remuneradas, ao 13º etc. Assim, é só por meio de nossa organização livre e independente, contra a classe capitalista, que poderemos prover uma solução real e superar os males sociais que nos afligem cotidianamente. É só por meio do socialismo que conseguiremos construir um mundo justo, livre e digno para todos.