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Chuvas no Sul, seca no Norte: rastros de destruição como resultado das mudanças climáticas

“O ser humano vive da natureza significa que a natureza é seu corpo, com o qual ele precisa estar em processo contínuo para não morrer.” (Manuscritos econômico-filosóficos, Karl Marx, 1844)

O ano de 2023 deixou marcas terríveis para 8,5 milhões de brasileiros. De um lado do país, a população sofre com as chuvas e ciclones, que rompem barragens, transbordam rios, inundam e destroem tudo que vem pela frente. Do outro, a seca assola, deixando rios totalmente secos e colocando em risco a vida não só da região Norte, mas até mesmo do globo.

Fortes chuvas e tempestades no Sul

Os principais estados afetados pelas chuvas foram Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Segundo uma reportagem publicada em 9 de outubro pela Defesa Civil, 132 cidades catarinenses foram atingidas, com 67 decretando estado de emergência. Os municípios mais prejudicados estão no Vale do Itajaí, Planalto Norte e Oeste, na fronteira com o Rio Grande do Sul. 

No Rio Grande do Sul, foram 79 cidades atingidas, conforme dados divulgados pela Agência Brasil. Além de deixar mais de 147 mil pessoas afetadas, o ciclone extratropical que assolou parte do Estado, deixou 41 mortos, 46 desaparecidos, 3 mil desabrigados e 8 mil desalojados.

Além de ciclones, enchentes, chuva de pedras, a população enfrenta também o medo dos rompimentos de barragens. No Rio Grande do Sul, ao menos duas barragens romperam, deixando um rastro ainda maior de destruição, com danos em propriedades, plantações, estradas e 56 pontes demolidas

Em Santa Catarina, dados da Defesa Civil trazem o rompimento de uma barragem no Oeste. Porém, existe risco da Barragem Norte, localizada no Vale do Itajaí, inundar e destruir terras dos indígenas da etnia Xokleng. Em 8 de de outubro, o governador Jorginho Mello (PL), autorizou o fechamento das comportas da hidrelétrica. Este ato levou os  Xokleng a se organizarem, já que isso poderia colocar em risco a barragem e, em consequência, suas terras.

A polícia reprimiu a manifestação e, em 14 de outubro, o que era temido aconteceu: pela primeira vez na história a Barragem Norte começou a verter. Ou seja, seu reservatório não conseguiu comportar o grande volume de água, e, agora, bastam que as chuvas continuem para que o desastre anunciado aconteça.

Seca no Norte

Enquanto isso, no Norte do país, Amazonas passa pela maior seca da história, com o menor volume do rio já registrado, com estiagem atingindo 60 dos seus 62 municípios. A fumaça das queimadas transforma os dias em noite, as embarcações não conseguem mais navegar, animais morrem e faltam alimentos e água para moradores de cidades ribeirinhas. Além disso, existe o risco das indústrias pararem de funcionar, caso a seca persista.

Novos governantes, mesmo descaso

Quando situações como essas, de estiagens prolongadas ou tempestades, acontecem, os governantes da vez não perdem tempo em colocar a culpa no clima. Mas convenientemente esquecem de suas responsabilidades.

Não é somente diante de uma tragédia anunciada, como o El Niño, que nada é feito. Especialmente a população mais pobre fica constantemente à mercê do clima, com falta de investimento dos governos em ações básicas, como saneamento, construções em áreas seguras, manutenção em barragens, formas mais seguras de captação de energia. E isso é só o começo do que poderia ser feito.

Mesmo com chuvas gerando vítimas a cada ano, uma das ações foi destinar um orçamento de R$ 25 mil reais para a Defesa Civil para 2023. Além disso, o Painel Informativo do Tribunal de Contas da União, entre 2013 e 2022, demonstrou que, da verba destinada para gestão de riscos e desastres, apenas 31% foi investido em iniciativas de prevenção, enquanto 69% foi usado para recuperação. 

Enquanto Eduardo Leite (PSDB), governador do Rio Grande do Sul, culpa o governo federal pela burocracia em liberar recursos, Jorginho Mello não pensa duas vezes em condenar uma população inteira, mandando fechar comportas da barragem. Novos governos, mesmas táticas de sempre. Enquanto o sistema não mudar, não veremos qualquer melhora para a população.

Desastres naturais ou consequência da destruição desenfreada? 

Quando falamos sobre os desastres de hoje, sejam as secas ou chuvas, sempre aparece alguém para dizer que desde que o mundo é mundo esse tipo de calamidade atinge a população. Sim, é fato que sempre existiram estiagens e enchentes. Mas, o aceleramento das mudanças climáticas coloca em risco a própria existência humana.

Existem saídas? Sim. Podemos reduzir os danos causados ao planeta. Podemos criar ações de prevenção para que esses desastres não deixem tanta destruição e tristeza por onde passam. Mas não em um sistema que coloca o lucro de alguns acima de qualquer custo. 

A solução para esses problemas, assim como tantos outros que hoje assolam a humanidade é se organizar e lutar. Somente derrubando o capitalismo será possível construir um futuro para novas gerações. É comunista e quer ajudar na construção de um partido internacional? Junte-se à Esquerda Marxista!