Cinedebate: “Feliz Natal” e a confraternização de soldados nas trincheiras

No sábado, dia 13 de dezembro, militantes da Organização Comunista Internacionalista (OCI) de São Paulo se reuniram para um cinedebate sobre o filme Feliz Natal (Joyeux Noël, 2005), dirigido por Christian Carion.

Baseado em fatos, Feliz Natal retrata a célebre trégua de Natal de dezembro de 1914, durante a Primeira Guerra Mundial. Na véspera do Natal, soldados franceses, escoceses e alemães deixaram suas trincheiras e armas de lado para confraternizar com aqueles que, até poucas horas antes, eram considerados seus “inimigos”. O cessar-fogo espontâneo permitiu que trabalhadores de uniformes diferentes apertassem mãos, jogassem futebol e celebrassem juntos a data.

A narrativa acompanha personagens como um padre anglicano, um tenente francês, um tenor alemão — inspirado no cantor Walter Kirchhoff (1879–1951) — e sua companheira, uma soprano dinamarquesa interpretada por Diane Kruger. O elenco internacional inclui ainda Benno Fürmann, Guillaume Canet, Daniel Brühl e Gary Lewis.

O diretor Christian Carion descobriu essa história silenciada por acaso, em 1993, através do livro Battles of Flanders and Artois 1914–1918. O exército francês suprimiu os relatos sobre a trégua por décadas, considerando-os “atos de desobediência”. Os soldados que participaram da confraternização foram posteriormente punidos por seus superiores — um “crime” imperdoável aos olhos da elite militarista que precisava manter a máquina de guerra funcionando.

Após a sessão, foi realizada uma roda de conversa em que camaradas contextualizaram a situação mundial apresentada no filme, com destaque para o alinhamento criminoso da 2ª Internacional com as burguesias nacionais no início da 1ª Guerra Mundial. O Partido Social-Democrata Alemão (SPD), o principal partido da 2ª Internacional, votou pelos créditos de guerra no Reichstag, traindo os princípios internacionalistas e abandonando a classe trabalhadora alemã à carnificina imperialista. O único deputado social-democrata a contrariar o partido e votar contra os créditos de guerra foi Karl Liebknecht.

Após a sessão, foi realizada uma roda de conversa em que camaradas contextualizaram a situação mundial apresentada no filme, com destaque para o alinhamento criminoso da 2ª Internacional com as burguesias nacionais no início da 1ª Guerra Mundial / Imagem: OCI SP

Entre os comentários, destacou-se a evidência que o filme apresenta: enquanto as elites no poder maquinavam a guerra em uma disputa entre países imperialistas, nas trincheiras trabalhadores de diversas origens lutavam por um conflito cujos motivos reais lhes eram escusos. Operários, pais de família, camponeses, artistas — todos ali estavam com receio de perder suas vidas em nome de interesses que não eram os seus.

Essa pequena trégua demonstrou aos soldados que, na realidade, todos ali eram semelhantes. O inimigo verdadeiro não estava do outro lado da fronteira, mas nos palácios e gabinetes de suas próprias capitais.

O capitalismo necessita das guerras. A guerra na Ucrânia se arrasta há mais de três anos. O massacre de palestinos prossegue, com seguidas violações do cessar-fogo. Trump faz novas ameaças contra a América Latina, em particular à Venezuela e à Colômbia.

A máquina de mentiras da burguesia continua operando com força total. O paralelo com o genocídio do povo palestino promovido pelo Estado sionista de Israel é inescapável: a mesma lógica imperialista, a mesma desumanização do “inimigo”, os mesmos interesses econômicos travestidos de conflito civilizacional.

A atividade foi excelente, trazendo um contexto histórico fundamental para a compreensão do atual estágio do capitalismo. A Primeira Guerra Mundial representou a passagem definitiva do capitalismo para sua fase imperialista — a fase da decadência, das guerras de rapina e da barbárie. Compreender as lições daquele período é essencial para os revolucionários de hoje.

O filme Feliz Natal nos lembra que, por baixo dos uniformes e das bandeiras, existem trabalhadores. E que a única guerra que vale a pena ser travada é a guerra de classes — não entre povos, mas contra os exploradores de todas as nacionalidades.

Construa a Organização Comunista Internacionalista!