Foto: Casa Branca/Shealah Craighead

Com possibilidade de EUA ser o novo epicentro da Covid-19, Trump quer “reabrir” o país

Em 24 de março, quando este texto foi escrito, havia 46,5 mil casos confirmados e 593 mortes por Covid-19 nos Estados Unidos. Segundo a Organização Mundial da Saúde, o país pode tornar-se o novo epicentro da doença no mundo. Ainda assim, Trump fala em “reabrir” os EUA. Ele afirmou em seu Twitter que “é absolutamente possível voltar ao normal até a Páscoa”. Isso com os especialistas prevendo que o pior momento americano será em duas ou três semanas. 

O vice-governador texano, Dan Patrick, foi ainda mais longe e defendeu que os avós deveriam se sacrificar para salvar a economia para os netos. O republicano defende o fim do isolamento durante a pandemia do coronavírus, mesmo que a atitude contrarie as orientações das autoridades de saúde norte-americanas e mundiais. 

O que ocorre é que a escolha desses senhores está feita há muito tempo: salvar o capitalismo vale mais do que vidas humanas. Isso não é exatamente uma novidade. Os estragos causados pela Covid-19 em todo o mundo estão intimamente relacionados à destruição dos sistemas de saúde. Nos EUA, a rápida transmissão da doença foi facilitada pela inexistência de um sistema saúde  único e público. Dependendo das seguradoras privadas e da forma diferente como cada estado reporta informações, as respostas à calamidade são dessincronizadas. A simples coleta de dados para entender o tamanho do problema não pode ser feita corretamente, quem dirá o tratamento.

Inicialmente, após mais de uma semana de transmissão comunitária identificada, os Estados Unidos não haviam realizado nem 10 mil testes para identificar infecções por coronavírus. Quando o governo federal começou a correr atrás do prejuízo, houve uma disparada nos gráficos. 

O grande crime é que eles já sabiam. Em 21 de março o site da Esquerda Marxista reproduziu trechos de um artigo de capa do The Washington Post, do dia anterior, sobre como se comportaram as cúpulas quando foram informadas da situação e quais foram suas preocupações. Os governantes, seus políticos e capitalistas foram informados, desde janeiro, sobre o que estava chegando, mas seu interesse central foi conter informações, vender ações que desabariam e manipular a população. 

Agora, o resultado bate à porta. A taxa de infecção está dobrando a cada três dias no Estado de Nova York, o mais afetado. Nessa terça-feira, eram 25.665 infectados e 210 mortos. O governador Andrew Cuomo alertou que os esforços para conter o vírus estão dramaticamente aquém do necessário. “Estávamos olhando para um trem de carga. Agora, para um trem-bala”. Ele criticou o governo federal por enviar uma remessa de 400 ventiladores, enquanto o estado precisa de 30 mil em alguns dias. “Você escolhe os que vão morrer”, disse, referindo-se a Trump. As estimativas é que Nova York precisará de 140 mil leitos hospitalares. Hoje o Estado tem 53 mil leitos e outros 3 mil de unidade de terapia intensiva. 

Trump, por sua vez, deu e continua dando informações precipitadas, erradas e irresponsáveis. Culpou a China (levando a uma crescente onda de xenofobia), falou que a gripe comum mata mais, disse que não estava nem um pouco preocupado, disse que é a TV que está causando pânico, anunciou um remédio ainda sem comprovação e causou uma corrida mundial às farmácias, entre outras atrocidades (a semelhança com os pronunciamentos de Bolsonaro não são mera coincidência). 

Toda essa retórica não é ingenuidade. O coronavírus foi o estopim para um sistema econômico já colapsado, que ainda nem saiu da crise financeira de 2007. O capitalismo não estava preparado para isso. O Deutsche Bank prevê que no segundo trimestre de 2020 a economia dos EUA se contrairá em 12,9%, maior contração em 80 anos. E não é apenas lá. Essa é uma crise internacional do capitalismo sem precedentes, que acomete a todo o mundo. 

Não há saída para o capitalismo e, se para que ele possa ter mais um suspiro moribundo, for necessário ignorar pilhas e pilhas de cadáveres em todos os países, é provável que os governantes e a burguesia tenham que enfrentar a classe trabalhadora. Se tiverem suas vidas colocadas em perigo de volta ao trabalho, o que mais os trabalhadores terão a perder?

A situação mundial de pandemia, colapso financeiro e abandono do povo à morte, faz com que a consciência cresça a passos largos. Fica cada vez mais evidente que somente uma economia socialista planejada – onde os recursos do planeta sejam usados para o benefício de todos e organizados para o que mais se precisa – pode resolver o impasse. Somente a abolição da anarquia capitalista pode salvar a humanidade da barbárie. 

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