Os militantes da Organização Comunista Internacionalista (OCI) participaram das diversas discussões realizadas na Escola Mundial do Comunismo, evento que aconteceu na Itália de 10 a 15 de junho e marcou a fundação da Internacional Comunista Revolucionária (ICR). Durante a escola, o camarada Evandro Colzani falou na mesa “Como o Partido Bolchevique foi construído”. Confira a transcrição.
Olá, camaradas. Gostaria de começar a minha fala utilizando uma citação de Trotsky, publicada em seu livro “Stalin: uma análise do homem e de sua influência”, sobre como os bolcheviques enxergavam a juventude. Ela diz o seguinte:
“‘Lênin está rodeado de garotos’, os liquidacionistas costumavam dizer com desprezo. Mas, precisamente naquilo, Lênin via a grande vantagem de seu partido. A revolução, assim como a guerra, coloca necessariamente a principal parte de seu fardo sobre os ombros da juventude. O partido socialista que for incapaz de atrair a juventude não tem futuro.”
Trotsky também dedica parte de sua obra à questão da juventude e explica no “Programa de Transição” que “apenas o fresco entusiasmo e o espírito ofensivo da juventude podem oferecer os primeiros sucessos na luta” e complementa afirmando que esse entusiasmo pode também atrair para o combate novamente os velhos quadros operários desanimados.
Esses são breves exemplos que nos permitem compreender que os revolucionários, ao longo da história, e principalmente os bolcheviques, não só tentaram entender a juventude, como sempre buscaram ganhá-la para o lado da classe trabalhadora.
Lênin, desde os tempos do Iskra, defendia que a classe operária deveria se dirigir aos jovens e orientou os bolcheviques sobre a necessidade de ganhar os estudantes.
Ganhar a juventude para as fileiras da revolução socialista é tarefa essencial dos revolucionários, o que só pode ser feito se compreenderem a real importância desse estrato da sociedade que não é parte da classe operária, mas que dará um importante impulso na luta pela libertação dessa classe.
Essa é uma importante lição deixada pelo Partido Bolchevique, e ao analisarmos a história do partido, do nascimento da classe operária russa e a origem dos quadros bolcheviques, podemos observar porque eles conseguiram chegar à essa conclusão.
A Rússia chegava na segunda metade do século XIX sem ter desenvolvido o capitalismo, mas a economia do país se tornava cada vez mais entrelaçada com o capitalismo existente no restante do mundo.
Nesse contexto é que uma camada de jovens começa a se mobilizar na Rússia, primeiro por meio do terrorismo individual e táticas equivocadas de organizações como narodiniks. Depois, por meio da construção de organizações ligadas verdadeiramente ao marxismo.
Em 1893, Lênin efetivamente inicia sua militância revolucionária, aos 23 anos. Em 1898, o Partido Operário Social Democrata Russo (POSDR) é fundado.
Em 1901, uma onda de greves iniciam em Rostov do Don mobilizando trabalhadores e jovens.
Nessa onda de greves, manifestações e grande efervescência revolucionária são ganhos os futuros quadros bolcheviques para a luta. Para citar alguns exemplos: Sverdlov, em 1901, já é um destacado quadro social democrata com apenas 16 anos; Zinoviev filia-se ao POSDR aos 18 anos, em 1902 e, no mesmo ano, Kamenev é preso e ao fugir para o exterior torna-se um revolucionário profissional com 19 anos; Bukharin inicia sua vida militante aos 16 anos e Trotsky aos 17.
Todos esses revolucionários se aproximam do POSDR nesse período e estão intimamente conectados com as explosões sociais de sua época. Os revolucionários passam por extremas dificuldades e constantemente são presos pela polícia czarista, muitos são exilados. As ondas sucessivas de jovens que entram no partido coincidem com as greves e momentos de agudização da luta de classes. A geração de Trotsky, Kamenev, Zinoviev, Sverdlov e os demais, que entra a partir de 1898, é a mais antiga. Depois vem a geração de 1905 e dos anos seguintes e por último a geração de 1911 e 1912.
Os anos de experiência militando ainda jovens e depois buscando construir nas organizações de juventude foram fundamentais para os bolcheviques entenderem o papel da juventude na luta revolucionária. Também, com a vitória da revolução em 1917, eles começaram a discutir e pensar nas tarefas das novas gerações na construção de uma nova sociedade. A maior expressão desse pensamento pode ser encontrado no discurso de Lênin de 1920, no 3º Congresso de toda a Rússia da União da Juventude Comunista.
Nele, Lênin explica que a maior tarefa de um jovem consiste em aprender. Um jovem, segundo Lênin, deve aprender o comunismo, para então construir uma sociedade comunista.
Como, então, podemos aprender a ser comunistas? Adquirindo o conhecimento de tudo o que a humanidade acumulou, inclusive a burguesia. Essa é uma questão crucial para a juventude, pois se trata de aprender a absorver criticamente o que a humanidade produziu até o momento e saber utilizar tudo o que é necessário para a construção de uma nova sociedade, para derrubar o regime da propriedade privada dos grandes meios de produção.
Não sabemos como será uma sociedade comunista, mas sabemos que a ciência produzida pela sociedade burguesa não será descartada. Apenas que a utilizaremos de maneira que ela não atenda a necessidade do “mercado”, nem da guerra, mas sim da sociedade e que vamos desenvolvê-la ainda mais, possibilitando a descoberta de cura para as doenças, novas tecnologias que nos permitam viajar mais rápido ou a ir a lugares mais distantes.
Mas Lênin, Marx, Engels, Trotsky e tantos outros não aprenderam apenas com os livros. Como demonstrado anteriormente, os quadros bolcheviques vinham da luta prática, dos embates nas escolas, nas fábricas, no dia a dia da luta de classes. Só é possível se tornar um comunista quando o estudo aprofundado do mundo em que vivemos é conectado com a luta dos trabalhadores contra a sociedade capitalista. Essa foi, como dizem os marxistas, a “escola do bolchevismo”.
A única classe verdadeiramente revolucionária na sociedade burguesa é a classe trabalhadora. As contradições do regime burguês transformaram a camada mais explorada da sociedade na única capaz de destruir o próprio regime. Nenhuma lâmpada acende, nenhuma roda gira sem as mãos da classe trabalhadora. E será na juventude que essa classe encontrará um forte ponto de apoio, cheio de vivacidade, coragem e disposição de luta.