A grande mídia, jornais e TVs, está destacando o fato da aprovação de Bolsonaro ter subido e estar num teto que nunca esteve antes. E toda a imprensa, os partidos, os políticos, analisam que isso se deve ao auxílio emergencial de R$ 600.
Mas essa não é a única estatística que “surpreende” os analistas e a imprensa burguesa. Eles também se assustam com a maioria da população achando que a vida voltou ao normal apesar das quase mil mortes diárias pela Covid-19. Esses dados de pesquisa não nasceram do acaso, foram construídos pela própria imprensa burguesa, pelos políticos burgueses e, muitas vezes, com o auxílio inestimável da maioria da “esquerda”.
As eleições e as “coligações” da esquerda
O ex-ministro José Dirceu, que um dia foi de esquerda, achou que o PT foi longe demais e assinou um manifesto contra a coligação do PT com bolsonaristas feita em Belfort Roxo, cidade do entorno do Rio de Janeiro – o PT apoia o candidato Waguinho (MDB), que é apoiador de Bolsonaro e aliado de Flávio Bolsonaro.
Sim, o PT foi longe demais nesse local, mas em outros locais as coligações também incluem parte da direita. E o PSOL, que antes se colocava como “oposição de esquerda” ao governo do PT, agora faz coligações com o PT em vários locais. E um de seus expoentes, Marcelo Freixo, desiste de ser candidato a prefeito do Rio por achar que o partido não se empenhou em trazer toda “a esquerda” para a sua coligação (o PT tinha aceito, mas PSB e PDT, partidos burgueses, não vinham).
É neste quadro político em que “vale tudo” para derrotar Bolsonaro, até apoiar bolsonaristas, que se reconstruiu a imagem de Bolsonaro. Logo após a prisão do famoso Queiroz, com uma parcela da burguesia flertando abertamente com o impeachment do presidente, com os “manifestos” em defesa da democracia pululando de todos os lados, Bolsonaro corre em direção ao centrão e faz um acordo com este, liberando verbas e cargos para os “partidos” mais oportunistas do Congresso.
A burguesia entendeu a dica, o Bolsonaro “da arminha” se tornou o “Bolsonaro paz e amor” e isso passou a ser divulgado em todos os locais. Claro, como além de abraços e beijos a burguesia quer é um governo que possa chamar de seu, ela mantém a pressão sobre a “família” presidencial, multiplicando as denúncias principalmente contra Flávio Bolsonaro, mas mantendo o nome do presidente discretamente fora dessas “páginas policiais”.
Assim se reconstruiu a imagem do presidente com o concurso da esquerda nas próximas eleições, com o beneplácito dessa esquerda que aceita a discussão sobre os próximos passos do governo – reforma administrativa e reforma tributária. Afinal, essas eram bandeiras dos governos de Dilma e Lula e trata-se agora de retirar os aspectos mais odiosos do pacote do ministro Guedes e não de opor-se diretamente ao governo.
Da mesma forma, os governos estaduais do PT e do PCdoB seguem aplicando planos de “volta à normalidade” e isso é parte de um trabalho geral que está sendo feito em todo o país. Assim, a pilha de mortos ultrapassa 110 mil pessoas e volta “tudo como dantes no quartel de Abrantes”. Mas nada é normal.
A reação heroica dos operários da Renault, apesar de todas as traições da direção do sindicato e da CUT, mostra que uma faísca e o barril todo pode explodir. O corte no orçamento da educação – mais um! – que ameaça levá-lo para o ano de 2021 abaixo do orçamento militar, pode abrir outra explosão.
Sim, agora tudo parece abafado. As ruas não voltaram a vibrar e as direções tradicionais do movimento temem chamar qualquer coisa. Mas, independente da vontade da burguesia que gostaria que tudo seguisse quieto e normal, a eleição de Bolsonaro levou a destampar todo o fedor e o ódio da burguesia contra o proletariado. Os planos de destruição dos direitos seguem, ao lado das manifestações de intolerância e racismo. A juíza que decide em sentença culpar um homem por causa de sua cor de pele. Os fundamentalistas, com apoio das cúpulas da igreja católica, das igrejas evangélicas e de altos cargos nos governos, que atacam uma menina de 10 que foi violentada e engravidada à força. Tudo isso cala fundo na consciência das massas e, como diz a música, “estou me guardando para quando o carnaval chegar” é o sentimento que predomina.
Mas a paciência das massas não é infinita e o nosso trabalho, enquanto marxistas (comunistas), é ajudar a vanguarda a compreender essa situação e continuar a campanha por “Fora Bolsonaro”, denunciando através de campanhas e lutas tudo o que faz a burguesia e seu governo. Junte-se a nós nesse combate!