O candidato a vereador pelo PSOL em Duque de Caxias (RJ), Wesley Teixeira, recebeu doação para sua campanha de Armínio Fraga (ex-diretor de várias entidades pertencentes a George Soros, fundador de bancos de investimentos vendidos ao JP Morgan, hoje sócio da Gávea Investimentos e ex-presidente do Banco Central no governo FHC), de João Moreira Salles (um dos herdeiros do Banco Itaú e integrante de seu conselho administrativo) e de Beatriz Bracher (também da família dos donos do Itaú). As doações foram realizadas a partir de uma reunião organizada pela Open Society Foundation, fundada por Soros, em parceria com a Geledés – Instituto da Mulher Negra.
A tendência interna do PSOL que Wesley fazia parte, a Insurgência, posicionou-se contra a candidatura aceitar este tipo de financiamento. Wesley decidiu então ficar com os R$ 75 mil doados para a campanha pelos banqueiros e abandonar sua corrente. A discussão tomou uma projeção nacional a partir da intervenção do deputado federal Marcelo Freixo. Chantageando o partido, Freixo declarou que se o PSOL impugnasse a candidatura de Wesley, ele mesmo deixaria o PSOL.
Wesley Teixeira, que se diz “anticapitalista”, argumentou:
“Esse é o momento de unir todos contra o fascismo. Existe escala de aliança, sim. Existem aqueles que são mais parecidos com o que eu penso, e existem alguns que são aliados próximos, e existem aqueles até que eu divirjo, mas que em momentos estratégicos são aliados contra (os que são) nossos adversários mais ainda”
“Nesse processo, nós não rebaixamos o nosso programa. A gente não negociou nada. Nós dissemos (aos doadores) exatamente o que nós acreditamos. Eu acredito que é possível transformar o mundo e o sistema que nós estamos vivendo. Eu acredito que é possível superar o capitalismo” (R7.com)
O caso expressa, mais uma vez, aonde leva a tática da frente ampla com setores da burguesia para supostamente defender a democracia. Boulos, Freixo e dirigentes do PSOL já assinaram manifesto junto com FHC em defesa “da lei e da ordem”. Freixo abandonou a candidatura para a prefeitura do Rio de Janeiro por não ter conseguido formar uma “frente” que abarcasse muito além do PT (que já tinha decidido apoiá-lo). O PSOL fechou alianças eleitorais com PT e PCdoB, partidos operários que traíram os trabalhadores, e também com partidos burgueses como Rede, PDT, PSB etc. Agora, o mesmo argumento é usado para justificar receber dinheiro direto do capital financeiro.
Nas redes sociais, Teixeira ganhou apoio de algumas personalidades. Anielle Franco, irmã de Marielle Franco, e dos humoristas Gregorio Duvivier e Marcelo Adnet.
Duvivier escreveu: “Todo apoio a @wesleyteixeiras. Bizarro o ataque de setores do PSOL a suas candidaturas jovens e negras – disfarçado de compromisso com a ética, é um compromisso com a derrota, com a irrelevância”. Já Adnet declarou: “Eu sou team @wesleyteixeiras! Poder à periferia e a quem esteve silenciado por séculos. Que a grana que isola agora possa ajudar a incluir”.
É uma ilusão que banqueiros fazem caridade com seu dinheiro. Eles fazem investimentos. No caso, a tentativa de comprar lideranças do movimento negro para defender a sua política. Isso é o que a Fundação Ford faz há décadas, patrocinando o racialismo e as políticas de ações afirmativas para desviar a luta contra o racismo da luta de classes, da luta contra o capitalismo.
Armínio Fraga, quando questionado sobre ter financiado Wesley Teixeira, respondeu: “Essa declaração (anticapitalista) é forte, eu obviamente não concordo com ela, mas eu também sempre entendi que o mercado faz muita coisa, mas não faz tudo. Ele requer uma regulação, uma certa supervisão. Acho que ele (Teixeira) está formando as ideias dele e, se eu mais adiante tiver oportunidade com ele, vou me aprofundar um pouco nessa ideia.”
Não nos enganemos, “aprofundar um pouco nessa ideia” é cobrar o “investimento” e pressionar para que Wesley deixe para trás o antiquado discurso anticapitalista para abraçar a propaganda do capitalismo com face humana, a utopia de um mercado regulado.
O candidato Wesley Teixeira contrariou os estatutos do PSOL e um princípio básico do movimento operário: a independência financeira. Não há como aceitar dinheiro de banqueiros e defender os trabalhadores massacrados pelos interesses mesquinhos destes mesmos banqueiros. “Quem paga a banda escolhe a música”, diz o velho ditado. Por aceitar o dinheiro dos banqueiros em sua campanha Wesley deve ser expulso do PSOL. Marcelo Freixo, com sua chantagem ao partido, se não retira o que disse, deveria seguir o mesmo caminho.
O PSOL, infelizmente, trilha rápido os passos que levaram o PT à degeneração, à adaptação à democracia burguesa, à conciliação com a burguesia. Deixar passar este caso, ceder à pressão de Freixo ou de personalidades ilustres, será um precendente perigoso para acelerar os passos para que o PSOL se converta em mais um partido da ordem vigente. Contra isso, os filiados e simpatizantes do PSOL no Rio de Janeiro e no Brasil, devem se levantar.