Nas últimas semanas foi possível acompanhar o crescente avanço da derrubada de árvores centenárias na rua Sena Madureira, bem como a concretagem da nascente Embuaçu, ambas na Vila Mariana, zona Sul de São Paulo, criminosamente executada por uma empresa privada a mando da prefeitura após desengavetar o projeto de construção de dois túneis no município, solicitada em 2011 e suspensa desde 2013 com o descobrimento de esquemas de corrupção envolvendo as empreiteiras contratadas pela prefeitura.
A proposta do túnel é conectar as ruas Sena Madureira e a Avenida Ricardo Jafet, perpassando com sua extensão a rua Domingos de Morais e paralelamente a esta, a rua Maurício Francisco Klabin, área na qual percorre a nascente, que por lei federal é considerada uma área de preservação permanente, e que também abriga famílias das comunidade Luiz Alves e Souza Ramos, já afetados com a obra em curso segundo relatos dos próprios moradores.
Cresce com isso a revolta por parte dos moradores locais, que protestam contra o avanço do túnel derrubando os tapumes em torno do canteiro onde estão sendo cortadas as árvores, irrompendo as barreiras impostas pela polícia orientada a repressão, formando correntes humanas em torno das árvores com o intuito de defendê-las e permitir seu direito de existirem ali.
Ao contrário do que diz a prefeitura, que vende e qualifica a obra como solução para o problema do congestionamento da região e o trânsito nos horários de pico, sendo uma mudança benéfica a 800 mil pessoas que circulam pela região, o que vemos na verdade são os alagamentos que com a chuva passaram a surgir em algumas partes do bairro, dado a inadequada absorção da água pelo solo que se encontra sem vegetação diante da derrubada das árvores ali localizadas, o que não acontecia antes do início das obras.
A construção do túnel, que já está atraindo mais carros, atrapalhando a mobilização urbana devido o posicionamento dos tapumes, aumentando o trânsito e interferindo de maneira prejudicial na qualidade de vida dos moradores, jogará mais de 150 famílias para fora de suas casas, sem um plano de realocação que passarão a receber os míseros 600 reais do aluguel social da prefeitura. Com tratores em volta de suas casas, causando danos nas construções e acidentes propositais, em nenhum sentido esta obra serve aos interesses da população local. O próprio documento do projeto da construtora diz que apenas 1 mil carros se beneficiarão por dia do túnel, se caso fosse construído um corredor de ônibus, que constava no plano de metas da prefeitura seriam 40 mil pessoas beneficiadas, agora o túnel que será só utilizado por carros torna o corredor de ônibus inviável e mantém a lógica que beneficia os capitalistas da indústria automobilística.
Essa ação está impactando diretamente as nossas vidas, na piora da qualidade do ar, aumento das enchentes, moradia, segurança e o trânsito, ao promover este projeto absurdo que descaradamente promove crimes ambientais em um contexto de mudança climática na qual vivemos.
Nas redes sociais, promotores, deputados estaduais, movimentos ambientais e partidos políticos demonstraram apoio e solidariedade a luta contra o projeto do túnel, com as vigílias organizadas pelos moradores, mas sabemos que isso não será o suficiente para pôr fim ao túnel e a sanha das empreiteiras em lucrar com mais um projeto que não beneficiará em nada a população.
É preciso diante da situação conscientizar e unificar jovens estudantes e trabalhadores da região da real e emergente necessidade de se compor o combate, ultrapassando os limites das redes, indo às ruas em protesto, exigindo de Ricardo Nunes e da prefeitura a paralisação da obra.
Enquanto comunistas, explicamos que uma reivindicação imediata conquistada, mesmo que arrancada pelas mãos de nossa classe, se não levada às últimas consequências do combate no terreno da luta de classes, findando em si mesma, mais cedo ou mais tarde será tirada da classe trabalhadora e a tragédia temporariamente interrompida, novamente irá se repetir. A obra mesmo com promessas de paralisação ou adiamento não levará a uma conquista concreta se não for explicado e combatido com os métodos corretos o sistema responsável pela crise que estamos vivendo, o sistema capitalista.
Devemos levantar a palavra de ordem e a necessidade de lutar pelo “Transporte Público, Gratuito e para todos”, para que se diminua a dependência do carro para se deslocar pela cidade. Que os atos e as vigílias além de conduzir ao combate contra o túnel e a luta pela preservação do meio ambiente, deve mostrar que outros projetos como este virão, se o capitalismo, a raiz da crise climática e o colapso do planeta Terra em nome do lucro, não for, este sim, cortado e arrancado.
Precisamos fundamentalmente nos organizar e transformar com base em um programa comunista as bases da sociedade, levando cada passo de nossas lutas à uma vitória permanente de nossa classe. Isso só poderá acontecer a partir de um movimento nas ruas, utilizando os métodos da classe trabalhadora, que não os de abraçar árvores e criar em torno delas correntes, colocando a vida das pessoas em risco. Mas o de mobilizar os moradores, estudantes, trabalhadores, movimentos, partidos e organizações políticas através da política de frente única, construindo Comitês de Luta contra o túnel da Sena Madureira, nos bairros próximos à construção e por toda a cidade, nas escolas, universidades e postos de trabalho.
Para manter de pé as árvores e pôr fim ao túnel, precisamos cortar pela raiz o problema pondo abaixo o capitalismo.