Até final de maio o Paraná aparecia entre as regiões com menor contaminação pelo novo coronavírus, por isso governos afrouxaram as restrições do programa de combate à pandemia. Curitiba, até então, manteve seu comércio aberto, com frota de ônibus reduzida, fazendo com que a lotação seja regra. Bares e festas públicas não foram proibidos. O prefeito da capital, Rafael Greca (DEM), mantém o discurso de enfrentamento à pandemia e contraditoriamente afirma que “não pode ser babá da cidade inteira”, culpando os indivíduos pelo avanço do vírus e não admitindo sua culpa ao se negar em decretar lockdown real, uma vez que isso seria um enfrentamento direto a grandes empresários e grupos de apelo comercial na cidade.
Além disso, Greca abre espaço para negociatas. Sindicatos denunciaram o esquema milionário de repasse de verbas da prefeitura a empresas de ônibus. Questiona-se a legalidade dos repasses, a falta de um teto para os gastos e a indicação da origem dos recursos que custeariam o acordo. O montante seria de R$ 60 milhões nos próximos três meses, sob o pretexto de compensar as perdas das empresas com a redução de passageiros na pandemia. Quem acompanha os acordos do transporte público de Curitiba conhece as circunstâncias da “licitação” das empresas que monopolizam esse serviço há anos.
O cenário fez grandes fábricas de Curitiba e região voltarem à produção, colocando em risco de contaminação grande número de trabalhadores. Os discursos dos patrões é o da garantia do emprego, da ordem e da economia. O número de subempregados e autônomos é usado para justificar ações de corte de renda: estes continuam suas atividades, por medo de não terem salário mensal.
Em novembro de 2019, o Paraná já contava com 441 mil desempregados. Entre os “empregados” estão 24,6% de autônomos e 25% na informalidade. Após a pandemia o desemprego tende a aumentar, prova disso é o número de solicitações de seguro-desemprego no Paraná no mês de março, início do isolamento social: foram 13.438 pedidos, contra 1.288 em março de 2019.
O governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), teve aparições recentes marcantes na mídia local: a viagem aos EUA com Bolsonaro, quando mais de 20 membros da comitiva testaram positivo para Covid-19, e quando foi à Maringá cumprir agenda política, estabelecendo contato com contaminados e sem ao menos utilizar máscaras ou distanciamento social. Além disso, foi um dos governadores que não assinaram a carta ao Bolsonaro questionando o posicionamento do presidente, justificando que o “Paraná não tem tempo a perder com discussões políticas”, pregando uma neutralidade que não existe.
Ratinho utiliza-se da pandemia para continuar ataques aos trabalhadores, entre estes os servidores públicos. Aproveitando-se da impossibilidade de organização de mobilizações, apresentou projetos de lei em regime de urgência. O primeiro deles aumentou o desconto previdenciário para servidores públicos efetivos de 11% para 14%, o segundo extinguiu mais de 50 funções públicas, principalmente nas áreas da educação e saúde.
Os demais trabalhadores do estado também perdem direitos e condições de trabalho. Nas cidades do interior, casos de aglomeração nos ambientes de trabalho, falta de EPIs, demissão em massa e não liberação de trabalhadores do grupo de risco têm sido denunciados. De acordo com o Ministério Público do Trabalho (MPT), houve aumento de 30% de queixas de violação trabalhista nesse período. Há relatos de surtos e de vários funcionários contaminados em uma mesma empresa. Quando se fala em produção e lucro, não há espaço para prevenção e proteção.
Exemplo disso é a situação dos frigoríficos no interior do Paraná. Foram identificados 477 casos de Covid-19 e óbitos de trabalhadores do setor, pois ficam muito tempo confinados em espaço restrito, sem distanciamento. Ainda há o agravante de que, em geral, nos municípios onde estão esses frigoríficos não há sistema de saúde para atendimento. Isso provoca mais deslocamento e sobrecarrega diferentes regiões, como Cascavel e Paranavaí (que tem o maior número de mortes pela doença no estado, considerando o número de mortes por habitantes).
Outra área que merece atenção são os canteiros de obras. Trabalhadores da construção civil estão expostos à contaminação nas construções, nas viagens entre municípios e nos alojamentos, os quais não têm condições sanitárias mínimas. Em Pato Branco uma construtora teve que interromper suas atividades, pois lá foram detectados 15 trabalhadores infectados.
Nesse contexto de falta de políticas de prevenção e enfrentamento à Covid-19, o Paraná começou a semana com um salto no número de contaminados e mortos, chegando ao “alerta laranja”, situação classificada pelo Protocolo de Responsabilidade Sanitária como merecedora de atenção e política de restrições. Segundo relatório de 16/06, 77% das cidades paranaenses têm casos confirmados e em 27,8% delas há óbitos, somando um total de 10.557 infectados e 364 mortes. Ademais, há as suspeitas de subnotificação, uma vez que “coincidentemente” as mortes por “síndrome respiratória grave” subiram 513% no Paraná em 2020.