O Rio de Janeiro já ultrapassou 8 mil mortes e mais de 80 mil contaminações confirmadas por Covid-19, mas certamente esses números são muitos maiores considerando as subnotificações por falta e/ou atraso no resultado de testagem. O estado possui a taxa de letalidade mais alta do país: 9,36%. Com estimativa de 17 milhões de habitantes1, o Rio de Janeiro ultrapassou o número de mortos de países como Rússia, Canadá e China, que contam com uma população muito maior.
É diante desse cenário que se iniciam medidas de reabertura da economia pelo governador Wilson Witzel. Segundo pesquisa do Grupo Covid-192, do qual a PUC-Rio participa, a taxa de contágio no estado está em 2.04, muito distante de países que iniciaram a flexibilização do isolamento com a taxa de transmissão próxima a zero e mesmo assim tiveram novos casos e voltaram ao isolamento. Portanto, não há motivos que justifiquem a flexibilização do isolamento social.
O decreto3 do governador Witzel autoriza a reabertura de shoppings, centros comerciais, pontos turísticos, bares, restaurantes, dentre outros. O governador Witzel – que se apresenta como um crítico de Bolsonaro em relação à forma como o presidente atua frente à pandemia – não se mostra diferente do Governo Federal em termos de ações práticas. Seu discurso caminha num sentido, mas suas ações, em outro. Foi autorizado também o transporte intermunicipal, o que levará ao aumento da contaminação em diversos municípios do estado.
O mesmo governador cuja polícia reprimiu profissionais de saúde que protestavam4 por condições mínimas de trabalho, que foram levados à delegacia sob a justificativa de que estão proibidas as aglomerações, não se importa com aglomerações no transporte público. Witzel se “preocupa” com a manifestação de umas poucas pessoas, mas não dá soluções para as aglomerações nos ônibus convencionais, BRTs, barcas, trens e também nas unidades de saúde repletas de pessoas doentes, que sequer conseguem o atendimento de que precisam. Witzel chama Bolsonaro de ditador, mas reprime trabalhadores que protestavam por condições de trabalho para si e de saúde para a população.
Em meio a essa situação caótica que a classe trabalhadora vive e ao colapso da saúde pública, a burguesia mostra sua total falta de escrúpulos com a vida dos trabalhadores. Há indícios de superfaturamento na compra de respiradores para o combate à pandemia e também na construção dos hospitais de campanha – muitos sequer foram entregues ou concluídos! Por esses e outros motivos foi aceito o pedido de impeachment do governador Witzel.
Esse é o triste retrato da situação da classe trabalhadora e da juventude do Rio de Janeiro. O que fica claro é que o número de contaminações e de mortes irá explodir no estado. Os trabalhadores sofrem com condições de vida precárias: locais sem acesso a água encanada e esgoto tratado, falta de saneamento básico, habitações em condições precárias, com muitas pessoas dividindo poucos cômodos mal ventilados. Na rede de saúde pública faltam leitos de CTI e respiradores, faltam medicamentos essenciais para pacientes em ventilação mecânica. Falta ainda renda para manterem a si e sua família, como é o caso de desempregados e trabalhadores informais, que têm diante de si a “opção” de escolher morrer de fome ou de Covid-19.
Esse descaso em relação à vida da classe trabalhadora acontece porque o Estado de Witzel é um representante de grandes empresários, repassando a riqueza produzida pelos trabalhadores à burguesia enquanto investe migalhas nas políticas sociais, como saúde, habitação, saneamento, acesso à alimentação e garantia de renda para trabalhadores. A riqueza produzida vai para o pagamento da dívida, e o resultado dessa escolha está diante dos nossos olhos e a classe trabalhadora sente na pele.
Não é mais possível ter qualquer ilusão nesse sistema. O Estado é o comitê da burguesia para gerenciar seus interesses, mesmo que isso custe a vida de milhares ou milhões de trabalhadores. O lucro da burguesia está, para ela, acima de qualquer coisa.
Diante disso, os trabalhadores podem tão somente contar consigo mesmos. A organização da classe trabalhadora é cada dia mais urgente, pois o capitalismo mostra o que tem a nos oferecer: a barbárie. Como disse Lenin, a arma da classe trabalhadora está em sua organização. A nossa organização enquanto classe explorada é a arma que nos permite nos defender e atacar pela garantia de sobreviver.
Junte-se a nós! Organize-se!
- Fora Bolsonaro! Por um governo dos trabalhadores sem patrões nem generais!
- Por renda para os trabalhadores manterem o isolamento social!
- Pelo fechamento de todos os serviços não essenciais!
- Pela estatização do transporte público!
Referências
1 <https://cidades.ibge.gov.br/brasil/rj/panorama>