Com esta crônica, Castro relata os acontecimentos sobre o dia da invervenção federal na Cipla. Confira os links sobre a continuidade da luta da Flaskô no corpo da matéria.
Damos continuidade a publicação das crônicas do camarada Castro sobre a luta dos trabalhadores das Fabricas ocupadas. Este texto trata da invasão das fábricas pela Policia Federal. Queremos lembrar que os trabalhadores da Flaskô continuam a sua resistência e vocês podem acessar os seguintes artigos para entenderem a luta atualmente:
Contra criminalização dos movimentos sociais
Como ajudar os trabalhadores da Flaskô
Esquerda Marxista
O Dia da Intervenção na Cipla e Interfibra
31 de Maio de 2007 – 7 horas da manhã. Lourdete me acorda avisando que há 13 chamadas não atendidas no meu celular. Ligo para Osvaldo me informar o que está havendo. “Castro, ninguém te avisou? A Cipla foi invadida por cento e cinqüenta Policiais Federais. Isso aqui parece um campo de guerra. Corre para cá”. Há caminho da empresa, ligo para Chico Lessa e Serge Goulart. Combinamos de nos encontrar numa confeitaria, no centro, para “tomar pé da situação”. Uma cópia do Mandado Judicial foi providenciada para sabermos os motivos da ocupação militarizada.
Tentando neutralizar a ação, liguei para lideranças estaduais petistas, sindicais e sociais. Informei o absurdo ocorrido e reivindiquei dos mesmos que fizessem contato com o Ministro da Justiça, Tarso Genro, para que retirasse os federais das fábricas. Todos ficaram chocados e se comprometeram a ajudar. Porém o Ministro estava em Genebra e o contato com ele só ocorreu à tarde, quando o estrago já estava feito.
Com o mandato judicial em mãos, ficamos horrorizados com a leitura de cada linha. Tudo estava fundamentado em calunias e com o claro objetivo de eliminar o movimento que defendia os empregos: uma extraordinária experiência de controle da fábrica pelos trabalhadores no país. Em alguns trechos encontramos as seguintes pérolas escritas pelo juiz federal Oziel Francisco de Souza: “poder-se-á notar que o custo social da manutenção desses mil postos de trabalho é excessivamente alto. A partir daí, é possível até se sustentar que o custo para a sociedade é desproporcional ao beneficio social gerado. (…) será que a manutenção do Grupo Cipla pelos trabalhadores (grifo nosso), gera, de fato, o bem à sociedade? Será que sua existência não estaria mais para um mal do que para um bem social?”.
Da confeitaria fomos para o gabinete do vereador Adilson Mariano. De lá Serge aciona lideranças nacionais do PT, da CUT e da Corrente Marxista Internacional (CMI). Em seguida pede para eu me dirigir para o portão da fábrica, articular os sindicalistas de SC e convocá-los a Joinville e também chamar os operários que estavam em casa para que se concentrassem na entrada da fábrica. O objetivo era preparar a resistência. Porém, nem bem eu havia começado a tarefa e nossos celulares foram abruptamente desligados pela operadora. Creio que eles estavam “grampeados” pelos federais.
Num ato de indignação, Onirio, que estava no interior da fábrica, se enfrenta no portão de entrada com dois policiais federais. As imagens podem ser acessadas aqui.
Por volta das 10 horas, uma assembléia foi chamada pelos policiais e por Reinaldo Schoereder, presidente pelego do Sindicato dos Plásticos, com o objetivo de empossar o Interventor Judicial, Rainoldo Uesller, e fazer falsas promessas. Uma operária da fábrica, ao intervir na assembléia se posicionando de forma indignada contra a intervenção, foi arrancada pelos policiais que lhe empurraram até o portão de saída.
A placa na frente da empresa que antes dizia: “Cipla – empresa sob controle dos trabalhadores – em defesa do parque fabril brasileiro” foi tampada pelos policiais com uma lona preta. Era o marco final da experiência do controle operário, após quase cinco anos.
Não me esqueço da traição de um funcionário chamado Caniggia (Edenisio de Aviz), que passou a informar os federais sobre quem era membro da comissão de fábrica e os operários mais próximos. Os federais se encarregaram de colocar todos para fora do portão. Isso custou ao delator, posteriormente, o desprezo dos que ficaram e ainda um choque que inutilizou o braço do dedo duro.
Ao passar do meio dia, os operários do turno vespertino começam a chegar. Articulei uma assembléia com eles alguns minutos antes de entrarem para trabalhar. A esta altura, quase todos já estavam sabendo do ocorrido. Dei um informe sobre os fatos e seus motivos. Todos ouviram atentos. Em seguida orientei para que fossem trabalhar. Alguns resistiram. Expliquei que o mais provável é que seriam demitidos e que não queríamos isso. Assim, todos entraram para trabalhar.
A primeira medida do interventor foi promover uma “caça as bruxas”, demitindo sete dos principais dirigentes da fábrica – todos eleitos em outubro de 2006 com 80% dos votos dos operários; e mais trinta e cinco demissões de trabalhadores, alguns, membros da Comissão de Fábrica. Vários deles tinham mais de trinta anos de empresa. Quase todos os demitidos eram filiados ao PT. As demissões foram por “justa causa”. O Juiz encarregou a DPF para promover o inquérito investigativo. Porém, após quase três anos, nenhuma medida judicial foi executada contra os demitidos, nenhuma prova. Seguiu-se uma violenta campanha de calunias.
Com a anuência de Lula, a pedido do Ministro da Previdência Social, Luiz Marinho, articulada pelo deputado federal, Carlito Merss, e requerida pela ABIPLAST (é possível ler a nota da entidade na página 3 no seguinte documento), sai vitoriosa a operação cirúrgica comandada pela Policia Federal, com cento e cinqüenta homens fortemente armados, contra uma das principais fortalezas do movimento operário brasileiro: as fábricas ocupadas Cipla e Interfibra de Joinville (SC). Mas a bandeira e o exemplo seguem firmes na resistência da Flaskô e na consciência da classe operária.
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Para saber mais sobre a Flaskô, consulte os artigos de Pedro Santinho, coordenador da Fabrica aqui