Cem anos após a Revolução Russa, a burguesia tenta distorcer o seu legado, ligando a reação stalinista como consequência direta da conquista do poder pela classe trabalhadora. Alguns dizem que tudo não passou de um golpe organizado por um pequeno grupo liderado por um ditador (Lenin), enquanto diferentes organizações de esquerda louvam a revolução, mas aplicam uma política contrária àquela que a conduziu à vitória.
É tarefa dos revolucionários marxistas defender a Revolução de Outubro e utilizar suas lições para as lutas atuais.
Uma conclusão importante da Revolução Russa é a confirmação, na prática, da teoria da Revolução Permanente. Trotsky deu fundamentos a essa teoria a partir de escritos de Marx e de seu balanço da revolução de 1905. A Revolução Permanente contraria a ideia comum entre os marxistas da época de que, nos países atrasados, seria necessária uma primeira etapa de revolução democrático-burguesa e de largo período de desenvolvimento do capitalismo, para só depois colocar a perspectiva de uma revolução socialista. Esse pensamento foi requentado pelo stalinismo para realizar alianças com as burguesias nacionais, e continua sendo utilizado por partidos reformistas em todo o mundo, como o PT no Brasil, para justificar alianças com a burguesia. A colaboração de classes deu seguidas demonstrações na história de que só pode preparar o caminho para amargas derrotas. Os bolcheviques em 1917, com uma política independente, compreenderam a partir da defesa das famosas Teses de Abril por Lenin que as tarefas democráticas estão ligadas umbilicalmente à necessidade da tomada do poder pelo proletariado.
Outro ponto relevante a ser analisado é a tática da Frente Única, fundamental para que um partido minoritário no início de 1917 conseguisse ganhar a confiança das massas. Os bolcheviques dialogavam com a necessidade de unidade, lançando consignas com reivindicações dirigidas à direção majoritária do movimento, tais como: “Paz, Pão e Terra”, “Abaixo os 10 ministros capitalistas”, “Todo poder aos Sovietes”. A direção dos sovietes (mencheviques e socialistas revolucionários) recusava-se a atender essas reivindicações, por sua submissão à burguesia e aos países imperialistas. As massas, fartas de vacilação e enrolação, encontraram nos bolcheviques a fração resoluta do movimento que poderia resolver seus problemas.
A Frente Única opõe-se ao esquerdismo infantil. Por isso, na tentativa de golpe de Kornilov em agosto de 1917, os bolcheviques, sem defender o conciliador governo de Kerensky, lançaram-se para derrotar o golpe contrarrevolucionário e foram determinantes para dissolver a reação. Com isso, ganharam maior autoridade e prepararam as condições para a derrubada de Kerensky por uma insurreição proletária.
A Revolução Russa, em contraste com as revoluções derrotadas, mostra a importância decisiva do partido revolucionário para a conquista do poder, um partido disciplinado, centralizado, de revolucionários profissionais, capaz de conquistar a confiança das massas. Esse foi o Partido Bolchevique em 1917. Este é o partido que precisa ser construído hoje.
Trotsky escreveu em 1938, no documento de fundação da 4ª Internacional, que “a crise histórica da humanidade reduz-se à crise da direção revolucionária”. Essa frase segue absolutamente atual. Ventos revolucionários correm o mundo. Fenômenos como Podemos, Syriza, França Insubmissa, o movimento de Corbyn por dentro do Partido Trabalhista, a luta do povo catalão pelo direito à autodeterminação, as mobilizações do primeiro semestre no Brasil, manifestações contra Trump nos EUA, são todas demonstrações da indignação popular contra o sistema vigente, da disposição de luta, e da busca pela reorganização sobre um eixo de independência de classe.
O que faz falta é uma direção capaz de ajudar o proletariado a enterrar o capitalismo. Essa direção só poderá ser formada com militantes que se apropriem da teoria marxista e da história da luta de classes, dos ensinamentos das revoluções vitoriosas e derrotadas, organizando e mobilizando jovens e trabalhadores. Nesse combate está a Esquerda Marxista e a Corrente Marxista Internacional. Viva a Revolução Russa! Viva a luta internacional da classe trabalhadora!
Editorial do jornal Foice&Martelo 110, especial 100 anos da Revolução Russa.