Delegados do Brasil todo se somam à luta

Centenas de militantes brasileiros, trabalhadores, sindicalistas, jovens e sem-terras, vindos de 13 estados diferentes, lotaram o auditório da Cipla, participaram dos Grupos de Discussão e da Plenária Final.

Confira alguns trechos das principais intervenções

Faustão, Sindicato dos Químicos de Pernambuco

O SindQuim-PE sempre esteve presente, desde o início, na luta em defesa dos empregos e direitos nas fábricas ocupadas e pela estatização da Cipla, Interfibra, Flaskô e Flakepet. Desenvolveu uma importante luta pela manutenção dos empregos na empresa JB da Costa. Orientou os trabalhadores a ocuparem a fábrica e, depois da reintegração de posse e das ameaças policiais, acampou com os trabalhadores na porta da fábrica até conseguirem a re-abertura da fábrica, a estabilidade por dois anos e novas negociações para recuperar os direitos atrasados.

“Apesar das dificuldades que tivemos para chegar aqui (70 horas de viagem – NDR), nós cumprimos nosso objetivo de participar desse grande evento. Queremos sair desse encontro com a disposição de tomar todos os meios de produção da burguesia e, para isso, é necessário a união de nós, operários, independentemente de cor, religião ou ideologia”.

Arnaldo, da Federação Nacional Independente
dos Trabalhadores Sobre Trilhos

A FNITST trava uma luta para que o governo Lula decrete a caducidade dos contratos de concessão da malha ferroviária nacional, pois entendem que a privatização foi lesiva à pátria e à categoria e porque as empresas concessionárias não cumpriram com as cláusulas de concessão, investimento e preservação do patrimônio. Por isso, exigem a revitalização-reestatização e sempre marcham com as fábricas ocupadas portando essas bandeiras.

“Os ferroviários brasileiros têm feito uma luta incansável contra o neoliberalismo, principalmente depois das privatizações das ferrovias, pois perdemos 50 mil postos de trabalho e as demissões ocorrem a cada dia. Além disso, a implantação da monocondução e da terceirização – que combatemos – é uma mal para a categoria”.

Paula, da Plascalp e do Sindicato dos
Químicos e Petroleiros da Bahia

A empresa Plascalp está sob controle dos trabalhadores, mas há forte pressão dos patrões pela reintegração de posse e retirada das máquinas e equipamentos. O Encontro decidiu integrar a Plascalp ao Conselho das Fábricas Ocupadas e prestar todo o apoio necessário aos companheiros.

“A ocupação se deu por conta do atraso de 4 meses nos salários e por não recolher o FGTS e o INSS. Somos 1100 trabalhadores, onde 80% é de mulher que sustentam suas famílias. E essas famílias estão passando fome por não receberem corretamente. Juntando isso, com as tentativas de retirada de máquinas, decidimos ocupar a fábrica no dia 02/11”.

“Há uma ação na justiça que visa recuperar a fábrica para os antigos donos, mas esse processo não reconhece a dívida de 3 milhões que os patrões têm conosco”.

Antônio Jardim, Sindicato dos Sapateiros de Franca

Os companheiros estiveram presentes ao Pré-Encontro PanAmericano realizado na Flaskô e enviaram uma delegação para discutir a situação do setor, que tenta jogar a crise da abertura comercial nas costas dos trabalhadores. O Encontro mostrou que se os companheiros ocuparem a Samelo (que anunciou fechar as portas), contarão com total apoio de todos.

“Sou funcionário da Samelo que, em novembro, fechou suas portas e não pagaram nenhum direito sequer. Venho aqui buscar experiência para, se for preciso, fazer como as fábricas ocupadas”.

“As reformas sindical e trabalhista propostas pelo governo, apoiadas pela CUT, não são solução para o emprego. A vitória das ocupações sim, será uma vitória dos trabalhadores para os trabalhadores”.

Verivaldo Mota, Sindicato dos Vidreiros de SP

O representante dos Vidreiros de SP, entidade com 14 mil trabalhadores na base, entende que a experiência das fábricas ocupadas deve ser exemplo a todos os trabalhadores do mundo e demonstrou contrariedade à criação de cooperativas para solucionar o problema.

“É possível reduzir a jornada de trabalho, fazer a reforma agrária e garantir a unidade dos trabalhadores para acabarmos com o capital que nos explora”.

“Tivemos o exemplo em São Paulo de uma cooperativa do nosso ramo que propôs a simples transformação das verbas rescisórias devidas aos trabalhadores em cotas da cooperativa. Assim, trabalhadores com 20, 30 anos de trabalho ficaram sem nada, se quisessem sair da cooperativa, lhes ofereciam os equipamentos ou o parcelamento da dívida em 10 anos, sem qualquer direito trabalhista. Por tudo isso, não é possível defendermos as cooperativas”.

Padre Dúcio, bispo provisório da Igreja Católica de SC

O Padre arrancou aplausos ao fazer uma leitura bíblica adaptada aos tempos atuais do apóstolo Tiago, capítulo 5, versículo de 1 a 6.

“1 E agora, vós ricos, chorai e pranteai, por causa das desgraças que vos sobrevirão.

2 As vossas riquezas estão apodrecidas, e as vossas vestes estão roídas pela traça.

3 O vosso ouro e a vossa prata estão enferrujados; e a sua ferrugem dará testemunho contra vós, e devorará as vossas carnes como fogo. Entesourastes para os últimos dias.

4 Eis que o salário que fraudulentamente retivestes aos trabalhadores que ceifaram os vossos campos clama, e os clamores dos ceifeiros têm chegado aos ouvidos do Senhor dos exércitos.

5 Deliciosamente vivestes sobre a terra, e vos deleitastes; cevastes os vossos corações no dia da matança. ….”

Juruna, Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas – SP

“A única maneira de manter os empregos é fazer a redução da jornada. Sentimos nos metalúrgicos, o avanço da tecnologia, onde numa máquina que necessitava de 10, hoje precisa de 2 trabalhadores. Se não conseguirmos a redução, não conseguiremos recuperar esses postos de trabalho”.

“Precisamos cobrar do governo Lula a estatização das fábricas ocupadas, a reforma agrária e a redução da jornada de trabalho. Para isso, precisamos da CUT ao nosso lado e precisamos dizer não à reforma trabalhista e sindical”.

Ravanelo, MST

“Ao longo dos últimos 4 anos, tivemos uma experiência extraordinária junto com os companheiros da Cipla. Estivemos aqui contra a retirada das máquinas pelo capital, assim como, eles tiveram conosco na Marcha Nacional de 17 dias, rumo à Brasília pela Reforma Agrária. Em cima das ideologias, buscamos a aliança campo e cidade na prática”.

“Aprendemos que só com a luta no campo não conseguiremos derrotar os latifundiários, que são inimigos das fábricas ocupadas, assim como, os capitalistas do sistema financeiro, industrial e comercial são inimigos do MST”.

“Os governos que estão administrando para a burguesia devem ser pressionados. Devemos impor ao governo Lula, a estatização das fábricas ocupadas, a reforma agrária e a Re-estatização da Vale do Rio Doce”.

“Vamos dar um sinal para a direita de que se mexer com a fábrica ocupada, estará mexendo com todos os militantes do MST”.

Márcio, Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Municipal de Florianópolis – SC

O Sintrasem representa os municipais da capital do estado de SC e se mantém como sindicato classista e de luta, que sempre participa das grandes mobilizações dos trabalhadores do país.

“Floripa é um dos poucos municípios onde a Reforma da Previdência de 2003 não foi aplicada até o fim. A responsabilidade pela aposentadoria é do município e não há fundos de pensão privados, como prevê a lei”.

“Também conquistamos no nosso Acordo Coletivo, o aumento da licença-maternidade de 4 para 6 meses, para que a mulher possa amamentar o filho até o tempo recomendado e possa passar mais tempo com a família”.

Madeira, Sindicato dos Químicos de Novo Hamburgo – RS

“Venho de uma região com alto índice de desemprego. Temos um sistema muito repressivo nos locais de trabalho (com câmeras instaladas), muitas ocorrências de doenças ocupacionais e muitas empresas fechando. É necessário levar a experiência de ocupação para nossa região, urgente. De uma pequena chama, podemos reconstruir o movimento dos trabalhadores lá”.

Leandro Spezia, Sindicato dos Bancários de Blumenau

Recentemente, os bancários de todo o Brasil fizeram uma greve que poderia ter conquistado uma maior reposição salarial, se não fosse a pressa da direção nacional em assinar o acordo com os banqueiros. A resistência se expressou nas assembléias e sindicatos de base, como o de Blumenau.

“A frase socialismo ou barbárie deve ser mudada para socialismo ou morte porque não há espaço para os trabalhadores no capitalismo”.

Galvão, Movimento dos Trabalhadores Desempregados (MTD)

“Nós do MTD – presente em 10 estados – achamos que a reivindicação de redução da jornada pode unir os empregados e desempregados. A coordenação também está pensando em fazer um trabalho no sentido da ocupação das fábricas como forma de combater o desemprego”.

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