Descarrilamento na CPTM paulista expõe necessidade de luta contra privatização

Na madrugada do dia 03/12, um acidente de grandes proporções dificultou a vida dos passageiros das linhas 11 e 12 da CPTM, malha ferroviária metropolitana da região de São Paulo. Próximo à oficina de Hugo Alberto, o descarrilamento de um trem de carga destruiu a infraestrutura das vias em um ponto chave, o final da “Cabine de Rotas” que une os trechos das linhas citadas e se estende da UR 18 até um pouco depois da estação Luz.

Os abutres que têm como missão destruir os serviços públicos, em benefício dos capitalistas, apressaram em comemorar o que para nós, trabalhadores e jovens, é motivo de fúria. No entanto, é importante salientar que o acidente ocorreu com um trem de carga da empresa MRS, empresa privada que usa trechos da malha da CPTM para o transporte de mercadorias. Se você, passageiro, já experimentou uma viagem atipicamente devagar no período da tarde na linha 12, você provavelmente já foi pego em um dos “bloqueios” (ocupação do circuito de via à frente que impõe restrição à velocidade de circulação) desses trens de carga, ainda que não soubesse.

O impacto da circulação desses trens de cargas não reflete apenas na maior lentidão da circulação, em certos períodos do dia. A malha necessária para a circulação de cargas é muito diferente da necessária para o transporte de passageiros. A circulação de cargas pesadas acarreta em um desgaste muito mais rápido do material e da infraestrutura de via, aumentando as despesas de manutenção e – em casos mais graves onde essa manutenção não se dá com a frequência e investimentos que deveria – pode até mesmo causar acidentes.

Agora fica a questão, de quem pagará pelos danos causados? Tivemos recentemente – Via Mobilidade – importantes lições a esse respeito, e, se seguirem o roteiro já estabelecido pela CCR, sem dúvida primeiro irão demitir os trabalhadores apontados como responsáveis, e depois buscarão responsabilizar a própria CPTM pelo acidente. Nessa luta estamos indiscutivelmente em defesa da empresa pública e contra as demissões de qualquer trabalhador responsabilizado pelo acidente!

Contra O Desvio De Função!

Já relatamos em outros boletins a situação precária em que vivem os ASOs, ainda antes da concessão das linhas 8 e 9. Estações de grande porte funcionando com apenas 2 ou 3 funcionários, sobrecarregando os ferroviários e gerando filas, situação que só se agravou depois da adoção do sistema de QRCode.

Enquanto os agentes passam por uma situação desesperadora, Pedro Moro celebra as 1300 adesões ao PDI, ao passo em que centenas de ferroviários seguem trabalhando para Via Mobilidade nas linhas 8 e 9, a despeito de todo marketing, essa é a verdadeira face do presidente auto intitulado “ferroviário”.

Na situação caótica que se seguiu ao acidente causado pela composição da MRS, mais uma vez veio à tona a situação desesperadora que vivemos nas estações: mesmo depois de deslocar funcionários de outras estações, a gerência da CPTM deslocou funcionários de outros setores para atuar na linha de bloqueio na estação Engenheiro Goulart! Um caso flagrante de desvio de função que reflete em última instância o quadro deficitário da empresa.

No último período, passamos por diversos ataques, desde dezenas de mortes de companheiros ferroviários, que eram do grupo de risco e que foram colocados para trabalhar (só se afastou quem ganhou na justiça), o calote da PPR, a subserviência absurda à Via Mobilidade, às custas dos trabalhadores e da melhor gestão da empresa pública, combinada ao défcit estrutural no quadro de funcionários, sentido especialmente pelos agentes de estação, e agora a prática de desvio de função. Lembramos de que não fosse a luta organizada da categoria, poderia se somar a essa lista outro reajuste 0% e a demora ainda maior da vacinação dos trabalhadores,  o que poderia levar a mais mortes ainda!

Todos esses ataques guardam uma conexão clara entre si: trata-se justamente do processo do desmonte da ferrovia levado a cabo pelos governos e pelos seus fiéis representantes que hoje se encontram nos altos postos de direção da empresa. Não devemos aceitar calados nenhuma das ofensivas contra os trabalhadores, de práticas ilegais, como a que denunciamos neste artigo: todos aqueles que têm um dedo no absurdo praticado hoje (03/12) pela gestão da empresa, devem ser identificados e punidos.

A situação em que se encontra os agentes de estação é insustentável. Expõe a necessidade clara de um novo concurso para reposição do quadro de funcionários, mais do que isso, a conexão entre todos esses eventos demonstra claramente a necessidade de se lutar contra a privatização e  o desmonte da ferrovia sobre a base da união de todos os ferroviários em frente única com os passageiros e organizações da classe trabalhadora, e por isso chamamos a todos: de ferroviários a passageiros e sindicatos, que se manifestem contra o desvio de função, ao mesmo tempo em que o denunciam como sintoma de algo muito mais grave: o projeto de destruição da CPTM, enquanto empresa pública, e a crise do quadro de funcionários que decorre disso.