Dia 28 e depois: a linha da derrota e a linha da vitória
Terminado o 1º turno das eleições presidenciais Haddad e o PT desvestem a camisa vermelha usada para reanimar petistas melancólicos e põem respeitáveis ternos com camisas brancas, trocam os símbolos da campanha para as cores da bandeira do Brasil, verde, amarelo e azul, retiram Lula das fotografias e escondem o vermelho do PT.
O objetivo é se apresentar como uma candidatura de “frente política em defesa da democracia” ou para “unir todos os democratas”, como declarou Haddad. Isso significa, segundo essa concepção exótica, unir-se com Marina, Ciro, FHC e qualquer burguês disponível assustado com Bolsonaro. Aliança com PMDB e PSDB são objetivos centrais.
Para isso, Jacques Wagner, comandante de fato da campanha no 2º turno, explica sem nenhum escrúpulo ou vergonha que “É uma coincidência negativa da História que, em vez de ficarem juntos, PT e PSDB tenham polarizado um com o outro. Foram as melhores forças que surgiram no período democrático”.
Já o presidente do PSOL, Juliano Medeiros, tentou sofisticar seu argumento produzindo uma explicação de capitulação ideológica completa: “Agora é partir para a desconstrução, mostrar que ele é um falso nacionalista e não é contra o sistema, ao contrário, é parte do sistema”. Ou seja, eles, Haddad, Juliano etc., são os “verdadeiros” nacionalistas e, obviamente, com esta linha, todos a favor do sistema. Incabíveis palavras para um socialista.
Não satisfeitos com o que fizeram durante seus governos, agora dão um passo mais à direita propondo abertamente um governo de união nacional “para derrotar Bolsonaro”. Destruíram o PT como partido socialista e, agora, para ganhar as eleições, não se importam de transformar o proletariado e a juventude em massa de manobra da burguesia reacionária. A mesma linha política do stalinismo desde os anos 30 até hoje. Foi o PCB até os anos 90 e o PCdoB até hoje.
Os marxistas sempre combateram pela independência de classe e continuam firmes com esta orientação hoje. É a única política para a vitória definitiva da classe trabalhadora. Já a política de Haddad (PT) é suicida, para ir direto à derrota eleitoral no 2º turno. Haddad junto com tudo aquilo que os eleitores rechaçaram completamente (PSDB, PMDB, Rede, PDT, PSB etc.) vai parecer ainda mais “do sistema” do que antes. É o velho” se reapresentando, incapaz de entender a voz das ruas e o ódio que o povo tem deste sistema.
Eles não entenderam por que Bolsonaro teve a votação que teve e o que ela significa. Assim como são completamente incapazes de entender que só a independência de classe e uma luta decidida contra o capitalismo, o “sistema”, é capaz de animar, reunir as forças proletárias e dar uma perspectiva de mudar a vida e enfrentar, de fato, a reação. Com sua política de “frente pela democracia” estão entregando o povo nas mãos do ultrarreacionário aventureiro.
Em 1848, na Alemanha, Engels escreveu em “Revolução e Contrarrevolução na Alemanha” que, naquele momento, a classe operária não tinha a menor chance de levantar suas próprias indicações e que tinha que apoiar com todas as forças os pequenos burgueses e industriais que estavam contra o feudalismo, contra o passado. Tratava-se da luta da democracia burguesa contra o absolutismo feudal.
Explicava Engels, na mesma época em que preparava o futuro escrevendo com Marx o Manifesto Comunista: “O movimento da classe operária nunca será independente, não possuirá nunca um caráter proletário, enquanto as diferentes frações da classe média, e sobretudo a sua parte mais progressista, os grandes manufatureiros, não conquistarem o poder político e refundirem o Estado segundo os seus interesses.”
“As necessidades imediatas e as condições do movimento eram tais que não permitiam lançar nenhuma reivindicação especial do partido proletário”. “Com efeito, enquanto o terreno não estiver limpo para permitir uma ação independente dos operários, enquanto o sufrágio universal e direto não estiver estabelecido, enquanto os 36 estados continuarem a dividir Alemanha em pedaços inúmeros, que podia fazer o partido proletário, senão … lutar ao lado dos pequenos comerciantes para adquirir os direitos que lhes permitissem mais tarde conduzir a sua própria luta?” “Desorganizados, desabusados, os operários apenas despertavam para luta política, sentindo unicamente o simples instinto de sua posição social”.
Já em 1931 e 1933, na mesma Alemanha, quando Hitler se apresentou para estabelecer o governo fascista, esse tempo já tinha passado. Já havia se constituído o governo político da burguesia, os governos dos grandes industriais e dos banqueiros. A burguesia e seu regime não só já reinavam como estavam apodrecendo. O Estado fascista era já expressão da época do imperialismo e da reação em toda linha. Tratava-se, em 1930, não da luta pela democracia, pela república burguesa, mas de luta pelo socialismo. Ou seja, tratava-se do regime extremado do capital financeiro ou da revolução proletária, luta entre capitalismo e revolução proletária, entre fascismo, ditadura, militarismo ou revolução proletária.
É a democracia burguesa e seu Estado no atual estágio do capitalismo que conduzem à Mussolini, Hitler, às ditaduras militares ou a Bolsonaro. Só a luta pela revolução proletária pode defender a classe trabalhadora e resolver essa situação definitivamente.
Na luta contra o fascismo ou qualquer governo burguês, a luta por liberdades democráticas interessa ao proletariado na medida em que lhe permite organizar e mobilizar pela revolução socialista, acuando os reacionários. A luta pelas liberdades democráticas é a luta pela revolução e jamais a defesa da democracia burguesa, do reacionário “Estado democrático de direito” burguês. A defesa das liberdades democráticas é a defesa dos interesses da classe operária em sua luta contra o capital.
Trotsky denunciava Hitler como um reacionário a serviço do capital financeiro, que tinha posições contra a classe operária, contra os trabalhadores, um agente da reação capitalista que pretendia esmagar as organizações operárias e fazer a guerra para destruir a URSS. Nunca perdeu tempo denunciando as posições “antidemocráticas” de Hitler.
Essa política do PT não leva a lugar nenhum. Um violento choque se prepara entre as classes. Nós não precisamos de abaixo-assinado em nome da democracia ou de “unir todos os democratas”. Esta é a linha da derrota eleitoral agora e da derrota social e política depois.
A responsabilidade da direção do PT, da direção dos sindicatos, é organizar um combate de classe contra Bolsonaro. Mas, eles são incapazes de fazer isso. A tarefa dos comunistas é denunciar esta situação e propor a Frente Única de classe contra Bolsonaro e seus cúmplices, é trabalhar para que os trabalhadores e a juventude se separem definitivamente do velho sistema capitalista.
Sem classe operária e juventude organizada e dispostas a combater essa gente na rua, eles vão cada vez mais intimidar e atacar, golpear, ganham confiança e disposição cada vez mais porque veem que não têm reação séria, não há ninguém disposto a pará-los.
Estamos vendo estúpidos bolsonaristas quebrando a placa da Mariele e se vangloriando em público, ameaçando pessoas na rua, ameaçando gente que está com camisetas de esquerda ou contra o Bolsonaro. E um governo Bolsonaro será um governo em escalada de repressão se a classe e suas organizações não o enfrentarem seriamente. E, eles estão numa escalada porque não há nenhuma reação organizada da esquerda, do movimento operário, da juventude. Eles têm que ser enfrentados com métodos proletários, organizadamente, nos sindicatos, nas ruas, nas escolas, nos locais de trabalho.
Os pequeno-burgueses e os reformistas em geral estão desesperados “porque a democracia está em questão”.
Claro que está em questão. Já foi posta em questão há muito tempo, exatamente pelo advento do imperialismo, pela covardia da burguesia que tem pavor das massas e, principalmente, por causa dos reformistas que traíram todas as esperanças da classe operária e empurraram as massas a uma situação de desesperança e de ódio contra todos os partidos e instituições burguesas.
A hora agora é da revolução proletária. A hora da democracia já passou há muito tempo. O PT renunciou à democracia quando decidiu governar para uma minoria de privilegiados e enganar o povo mais pobre distribuindo esmolas como faz o Vaticano.
E o PT, ao renunciar a defender a democracia das maiorias, selou o destino do tal “Estado democrático de direito”. E com seu governo bloqueou uma saída socialista e convenceu a maioria das massas de que, de fato, essa tal democracia só interessa aos poderosos, lançando assim uma enorme massa da população nos braços de um aventureiro ultrarreacionário.
A linha de “unir todos os democratas” ou “todos em defesa da democracia” é a linha de aliar-se com grande parte da burguesia, ou ao menos tentar isso, e aparecer ainda mais aos olhos das massas como parte do “velho” que é preciso varrer.
A única linha política capaz de fazer recuar Bolsonaro e seus cumplices é a frente antifascista proletária, a unidade dos trabalhadores e da juventude com métodos proletários de luta e levantando bem alto todas as reivindicações e necessidades dos trabalhadores, apontando o capital e seus capachos como nossos inimigos de morte.
O melhor exemplo é a Frente Única Antifascista de 1934, que provocou a “Revoada das galinhas verdes”, a dispersão e a liquidação das organizações integralistas (fascistas) no Brasil.
Aqueles que acusam Bolsonaro de incitar o ódio – e ele instila efetivamente ódio de classe permanentemente sem rodeios – esquecem propositalmente ou por cegueira política que nossa defesa e nosso contra-ataque incluem o fato de que a violência é a grande parteira da história e que em nenhuma hipótese a linha de “Lulinha paz e amor “ pode servir aos interesses do proletariado. A classe operária tem direito e dever de ter “ódio de classe” contra os capitalistas e especialmente contra um lixo humano como Bolsonaro.
Nossa orientação é a de explicar e ressaltar que só organizados e armados os batalhões proletários poderão acabar de vez com esta guerra de classes que a burguesia e seus capitães e generais medíocres e violentos movem contra nós.
A linha de Haddad e do PT é um giro ainda mais à direita, é a linha para deixar de ganhar os votos que o PT já perdeu e é totalmente inútil para tentar provocar a confusão e a desmoralização na base dos grupos reacionários de Bolsonaro.
Esta linha de adaptação e de derrota é a mesma linha da direção do PSOL em sua nota sobre o segundo turno, corroborada pelas declarações do presidente nacional do PSOL.
Organizar nos sindicatos, organizar na juventude, discutir como proteger nossa luta e preparar os próximos combates. Isso exige uma ofensiva neste momento lutando pelo voto contra Bolsonaro, pelo voto em Haddad do PT, no dia 28 próximo.
A classe operária ainda não entrou no combate e ela vai ter que fazer isso. E os dirigentes sindicais e políticos reformistas, ao contrário do que pensam os eternos iludidos, não vão organizar e nem entrar em combate. Eles irão ainda mais à direita e vão “exigir” de Bolsonaro que “abra diálogo e negociação”. Eles não vão organizar combates com métodos proletários em defesa dos trabalhadores e da juventude. Eles vão tentar negociar de joelhos.
Esta tarefa estará cada vez mais nas mãos dos comunistas internacionalistas e de todos aqueles que em ruptura com a burguesia, o capital e seus partidos, estiverem realmente decididos a organizar o combate revolucionário do proletariado em defesa de suas organizações, de suas conquistas e pela revolução socialista.
Socialismo ou barbárie!
Reação obscurantista e repressão burguesa ou revolução proletária!