Diante da intervenção da PF na UFSC, que fazer?

“A reitora quer transformar a universidade numa república de maconheiros” ,”baderneiros”, “É sabido que a universidade é um antro de crimes”, “Não gostaria que alguém chegasse na minha casa pra dizer que está bagunçada, mas, infelizmente, eu preciso dizer que isso aqui está uma bagunça”.

Paulo Cassiano Júnior

Superintendente da Polícia Federal/SC

“A reitora quer transformar a universidade numa república de maconheiros” ,”baderneiros”, “É sabido que a universidade é um antro de crimes”, “Não gostaria que alguém chegasse na minha casa pra dizer que está bagunçada, mas, infelizmente, eu preciso dizer que isso aqui está uma bagunça”.

Paulo Cassiano Júnior

Superintendente da Polícia Federal/SC

Estas são as palavras do superintendente da Polícia Federal. A invasão da PF na Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, é um sinal de alerta para todos os estudantes. Já explicamos a maneira violenta como a PF agiu na UFSC (1). Este não é um caso isolado, mas sim uma face de toda a repressão que estão vivendo os estudantes, trabalhadores, camponeses, indígenas e juventude em geral. No final de janeiro e começo de fevereiro os estudantes saíram às ruas contra o aumento da passagem no Rio de Janeiro. A brutal repressão por parte da polícia não tardou e de maneira suspeita morre o cinegrafista da Band. Como sabemos, no começo vários jornalistas afirmaram que o cinegrafista morreu por uma bomba lançada pela polícia, porém a história não demorou para mudar para justificar que o cinegrafista foi assassinado por dois manifestantes que estavam presentes tal como afirmamos no artigo “Quem matou o cinegrafista?” (2).

A morte do cinegrafista foi a desculpa para que a polícia intensificasse ainda mais a repressão contra os manifestantes e criminalizá-los. Assim mesmo está atuando a mídia burguesa (fundamentalmente o Diário Catarinense e os outros grandes meios de comunicação) ao dizer frequentemente em seus meios que a repressão se justifica pois é uma ação de combate ao tráfico de drogas. Foram rápidos em encontrar alguns cigarros de maconha, porém não sabem de quem são os 445 quilos de cocaína que foi transportada no helicóptero do deputado estadual Gustavo Perrella.

Quem é Paulo Cassiano Júnior?

O próprio Diário Catarinense nos oferece a seguinte informação sobre o superintendente da PF: Foi acusado de partidarismo e sofreu representação encaminhada ao ministro da Justiça. Mandou para a prisão o tio por envolvimento com caça-níqueis. Polêmico, estilo durão nas ações e muitas vezes considerado esquentado entre os próprios colegas” (3). O superintendente não estava preparado só para deter os consumidores de maconha, mas também para reprimir os estudantes como posteriormente vimos. Na verdade estava preparado para reprimir e não para dialogar, como vimos no vídeo onde mostra o professor Paulo Pinheiro Machado, diretor do CFH (Centro de Filosofia e Ciências Humanas), tratando de negociar uma saída e evitar qualquer tipo de conflito. A resposta do delegado foi: “Eu convido o senhor para que nos deixe sair com o preso, porque se for necessário usar a força física, será usada”.

A violência chegou com a tropa de choque. O delegado disse: “Saiam daqui porque o choque (da PM) vai vir aqui a descer o cacete” e assim foi. O Diário Catarinense na publicação de domingo, 30 de março, publicou três páginas sobre o tráfico e distribuição de drogas, roubos, furtos, golpes e assassinatos ao redor da UFSC. Entretanto, a PF não explicou se os estudantes detidos eram os responsáveis por todo o tráfico de drogas que publica o tendencioso artigo para criminalizar os estudantes. É evidente que a ação do delegado Paulo Cassiano Júnior foi premeditada como a maioria das ações repressoras em outros estados. O governo junto com a polícia está se preparando para reprimir a quem se manifeste.

A repressão se espalha e chegou na UFSC

As manifestações de junho do ano passado, que colocaram milhões nas ruas se manifestando contra a falta de transporte, falta de investimentos na saúde e educação, deixaram uma dura lição: os estudantes devem estar organizados. Como sabemos, os estudantes saíram à rua em São Paulo para se manifestar contra o aumento da passagem. A repressão por parte da polícia foi a faísca para que milhares de jovens se mobilizassem e rapidamente o movimento passou a ser de milhões em todo o Brasil. O Movimento Passe Livre desorganizou o movimento com sua “tática” de não haver comando, nem direção ou carro de som, nem orientação alguma, e deixou o movimento totalmente “livre” e como a natureza que odeia o vazio, tratou de enchê-lo com algo.

Rapidamente a Globo entendeu que devia cumprir o papel e conduzir o vazio existente para desviar as palavras de ordem mais reivindicadas pelas massas e substituí-las pela manifestação “contra a corrupção”, sem mencionar a realidade de que a privatização de hospitais, clínicas, centros educativos, empresas públicas, centros públicos e desportivos se entrega ao capital privado de maneira corrupta. Em muitos lugares, setores da classe média diziam o mesmo que os repórteres da Globo: “sem partido!”. Isso permitiu que a polícia e os fascistas se infiltrassem nas manifestações, algo muito perigoso. Até o deputado de extrema direita Jair Bolsonaro expressou apoio às manifestações.

O governo federal, ao invés de escutar a voz de milhões nas ruas, privatizou o campo de Libra no Rio de Janeiro, e ainda se prepara para mais repressão tal como disse Dilma:

 “A Polícia Federal, a Força Nacional de Segurança, a Polícia Rodoviária Federal, todos os órgãos do governo federal estão prontos e orientados para agir dentro de suas competências e, se e quando for necessário, nós mobilizaremos também as Forças Armadas”.

O movimento que respondeu à invasão por parte da PF na UFSC é exemplar, porém deve-se estar alerta. A direita não descansou nem um só momento para dizer publicamente que o problema real da UFSC é o tráfico de drogas e nos culpar por isto. A própria direita da universidade não parou, vimos claramente na manifestação de estudantes e professores de direita. Agora dependerá dos estudantes organizarem-se para evitar os ataques da direita através da criminalização dos estudantes, evitar mais abusos policiais, e evitar que acabem com as conquistas que temos. A única maneira de conseguir nossos objetivos é organizando-se cada vez mais.

NOTAS:

1.      A invasão da Polícia Federal na UFSC e a ocupação da reitoria pelos estudantes. https://www.marxismo.org.br/blog/2014/03/27/invasao-da-policia-federal-na-ufsc-e-ocupacao-da-reitoria-pelos-estudantes

  1. Boletim informativo da Esquerda Marxista: https://www.marxismo.org.br/content/quem-matou-o-cinegrafista
  2. Diario Catarinense. Delegado da PF em SC é colecionador de polêmicas: http://diariocatarinense.clicrbs.com.br/sc/geral/noticia/2014/03/delegado-da-pf-em-sc-e-colecionador-de-polemicas-4458828.html

Vídeos:

Professor Paulo Pinheiro Machado, diretor do CFH (Centro de Filosofia e Ciências Humanas da UFSC) tentando negociar com o delegado da Polícia Federal Paulo Cassiano Jr. http://www.youtube.com/watch?v=UoYI5VN9G80

Invasão na UFSC

http://www.youtube.com/watch?v=gG_CFfc57uo