Sob o impacto dos ventos chilenos e de uma onda revolucionária que faz estremecer as classes dominantes do Líbano ao Equador, da Catalunha a Hong Kong, o Diretório Nacional do PSOL se reuniu em São Paulo neste fim de semana de 26 e 27 de outubro. Na pauta, a situação internacional e nacional, além de tática eleitoral para 2020 e a convocação do 7º Congresso do partido.
No início da discussão internacional, vários dirigentes do partido, principalmente ligados ao campo majoritário “Aliança” (que conta com Boulos, alguns parlamentares, como Ivan Valente, e algumas correntes do partido, como Primavera, Fortalecer, Insurgência, Resistência, LSR) tentaram relativizar o que está acontecendo no Chile e outros lugares, combatendo a tese de que o Brasil pode ser afetado por esses processos. Essas correntes de pensamento dentro do PSOL se unem em torno da tese de que há uma “onda conservadora” que varre o Brasil e o mundo. Para eles, vivemos uma época onde as ideias progressistas não têm espaço e é necessário resistir ao conservadorismo defendendo a democracia burguesa, buscando pontos de apoio onde quer que haja um resquício de progressismo, mesmo que isso signifique submeter-se a alianças não somente com PT e PCdoB, mas até mesmo partidos burgueses e figuras notáveis da direita brasileira. Vale tudo “em defesa da democracia”. Quando a realidade mostra processos como o do Equador, Haiti, Honduras, Sudão, Argélia, Hong Kong, Líbano, Catalunha, Chile e não pode ser explicada pela concepção de mundo que eles criaram, tendem a negar a realidade.
Representando a Esquerda Marxista, como pode ser conferido no vídeo abaixo, fizemos uma intervenção deixando claro que o que está acontecendo no Chile e em outros países são revoluções. Que a revolução no Chile ainda não está com o seu destino selado. Tudo pode acontecer! Não só é possível derrubar Piñera, como é possível que o povo trabalhador chileno assuma o poder em suas mãos. Hoje isso não é o mais provável, pela ausência de organização revolucionária com influência de massas no Chile. Mas não é impossível. Não está dado que essa organização que a história exige não possa ser construída pelas massas revolucionárias chilenas no fogo do combate. O fato de não existir previamente uma direção revolucionária com influência de massas pode levar esse processo a ser mais lento. As massas terão que aprender com sua própria experiência, testando ferramentas, métodos, táticas, formas e podem ser derrotadas. Revolução e contrarrevolução estão em combate em terreno aberto.
Mas, seja qual for o desfecho da revolução aberta no Chile, já está impactando a consciência de milhares de trabalhadores e jovens brasileiros, que estão vendo aqui Bolsonaro e Guedes aplicando ataques inspirados no modelo chileno. O Chile de hoje cada vez mais pode ser o Brasil de amanhã. E o PSOL? Vai esperar abrir uma crise revolucionária no Brasil para só então dizer “Fora Bolsonaro”?
As crises revolucionárias abertas em outubro, a começar pelo Equador e continuando agora com o Chile, exercem uma pressão gigantesca sobre as organizações de esquerda no Brasil. A Esquerda Marxista está desde março praticamente sozinha agitando nas ruas o “Fora Bolsonaro”. Praticamente sozinha entre as outras organizações de esquerda, mas não estamos nem um pouco sozinhos entre a juventude que vai para as ruas. Vimos o grito “Fora Bolsonaro” ecoar em todos os cantos do Brasil, a começar pelo carnaval, mas principalmente a partir de 15 de maio, nas grandes manifestações contra o corte de verbas da educação.
Agora, com os ventos chilenos batendo em seus rostos, várias correntes do PSOL começam a perceber que já passa da hora de dizer “Fora Bolsonaro”. E esta foi a grande polêmica na reunião do Diretório Nacional do partido.
Uma das correntes que compõem a “Aliança” (campo majoritário na direção do partido), o Fortalecer, chegou na reunião do Diretório já disposta a romper o imobilismo imposto pela “Aliança” e votar a favor do “Fora Bolsonaro”. Isso é resultado dos ventos revolucionários internacionais, mas também das bases dessas correntes do PSOL. Cada vez mais se torna difícil para esses dirigentes explicar para suas bases porque o PSOL não sai na rua dizendo “Fora Bolsonaro”.
Com o deslocamento do Fortalecer da “Aliança” para um posicionamento mais à esquerda, isso pressionou todos os membros do DN a se posicionarem. Representando a Esquerda Marxista, fizemos a intervenção que pode ser vista neste vídeo:
Quando a discussão terminou, fizemos uma sondagem e contamos que se fosse a voto naquele momento, dos 60 membros presentes do DN, havia 30 que votariam contra o “Fora Bolsonaro”, 29 que votariam a favor e 1 que não havia se definido (Nildo Ouriques, da “Revolução Brasileira”). Com o Diretório Nacional literalmente dividido, a votação só ocorreria no final do dia. Muitas conversações tomaram lugar e aparentemente, alguns membros do “Fortalecer” foram persuadidos pelos membros da “Aliança”. Um deles decidiu mudar de posição e outros 3 decidiram se abster na votação.
Na hora da votação, a proposta de resolução apresentada pela “Aliança” que se negava a levantar a palavra de ordem “Fora Bolsonaro”, obteve 31 votos. A proposta que colocava o “Fora Bolsonaro” como consigna a ser agitada pelo PSOL, defendida e apoiada pela Esquerda Marxista, obteve 21 votos (MES, TLS, Comuna, 1º de Maio e 3 votos do “Fortalecer”, encabeçados pela Berna Menezes). As correntes CST, LS e LC, apoiadas pelo Plínio de Arruda Sampaio Jr. e pelo Renato Cinco, só teriam votado na proposta “Fora Bolsonaro” se esta tivesse chance de ganhar. Quando viram que a Aliança havia garantido uma maioria de 31 membros, recuaram e apresentaram uma outra proposta à esquerda da proposta de texto da “Aliança”, mas que não propunha a consigna “Fora Bolsonaro”. Esta proposta obteve 4 votos. Ainda houve 3 abstenções de membros ligados ao “Fortalecer” e o representante da “Revolução Brasileira”, Nildo Ouriques, se ausentou do plenário no momento da votação, não se posicionando.
Ressalta-se uma contradição flagrante na postura dos companheiros da CST, LS e LC que não deram consequência aos seus discursos durante a reunião, bem como o apoio a essa posição por parte do mandato do Renato Cinco, vereador do Rio, que já havia convocado um ato de rua “Fora Bolsonaro” junto com a Esquerda Marxista.
De qualquer forma, a palavra de ordem pela qual nós éramos acusados de “vanguardistas”, “belakuninistas”, etc., agora divide o Diretório Nacional do PSOL no meio. Isso é reflexo de que os ventos estão mudando por aqui também. E independente dos ritmos que a luta de classes no Brasil vai tomar, o PSOL, se quer ser um partido de referência para os setores mais combativos da juventude e da classe trabalhadora, deveria assumir seu papel de orientador, de guia, apontando o caminho e levantando a palavra de ordem “Fora Bolsonaro” do Oiapoque ao Chuí.
Damos as boas vindas aos companheiros do PSOL que agora se somam ao coro de “Fora Bolsonaro”. Agora é amplificar o volume deste grito, ligando-o a cada luta concreta da juventude e da classe trabalhadora. Esse é o caminho para derrubarmos Bolsonaro e abrirmos uma crise revolucionária no Brasil.