O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), declarou que rompeu relações pessoais com o líder do governo, deputado Major Vitor Hugo (PSL) e não o convidou para uma reunião de líderes partidários que tratou sobre a votação da Medida Provisória (MP) 870 que alterou os ministérios.
Nessa votação, aliás, o governo Bolsonaro foi derrotado mais uma vez no plenário. O Ministro da Justiça, Sérgio Moro, fez de tudo para ter sob sua pasta o COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), mas a maioria dos deputados deslocou o órgão para o Ministério da Economia. Também devolveu a Fundação Nacional dos Índios para o Ministério da Justiça, tirando-a das mãos da ministra Damares e, além disso, devolveu à FUNAI o controle sobre a política de demarcação de terras indígenas, que havia sido transferida ao Ministério da Agricultura.
Para nós, marxistas, normalmente tais decisões são meras formalidades burocráticas. Trata-se de decidir qual camarilha da classe dominante vai explorar para benefício próprio determinado setor do aparelho do Estado. Mas, numa situação de profunda instabilidade política e social e de crise permanente entre as instituições burguesas, qualquer disputa entre os de cima, por mais mesquinha que seja, abre e alarga rachaduras no edifício do poder. Edifício que queremos por abaixo, para a construção de um novo regime, como obra da própria classe trabalhadora em luta por sua emancipação.
A fissura entre o Executivo e o Legislativo se alarga, por exemplo, quando Bolsonaro declara que “o Brasil é um país maravilhoso, o problema é a nossa classe política”. E no Twitter postou a respeito de “corporações” que “tornam o país ingovernável”. Pra variar, as frases repercutiram muito mal, primeiro porque ele próprio é parte “da classe política”, como ele mesmo disse no dia posterior tentando consertar ou se explicar, mas também não revelou que “corporações” são essas que estragam o Brasil.
Estaria Bolsonaro se referindo aos grandes bancos e empresas multinacionais? Evidentemente, não! Até porque chamou os empresários de “heróis” e prometeu não os atrapalhar. Além disso, a política do governo Bolsonaro é inteiramente dedicada a favorecer as corporações monopolistas do capital. Afinal, os maiores beneficiados com a aprovação da reforma da Previdência serão os bancos, que irão gerir os fundos de pensão dos servidores públicos e o futuro regime de capitalização individual. O ministro da Economia, Paulo Guedes, no patético evento ocorrido em Dallas (EUA), declarou ser favorável a uma fusão entre o Banco do Brasil e o Bank of America, ou seja, pretende entregar de bandeja uma estatal bicentenária a uma corporação americana!
Sem falar nas privatizações de 12 aeroportos, que foram leiloados na Bolsa de Valores e agora serão administrados por corporações! Um bloco de aeroportos do Nordeste será operado por uma companhia espanhola e um bloco no Sudeste por uma empresa suíça, em contratos de concessão que chegam a 30 anos!
A mídia e vários partidos da direita sustentam que falta “articulação política” para o governo. O Vice-Presidente, Mourão, concorda que tem faltado “comunicação”. Já o deputado Sargento Isidório (Avante) se postulou como a melhor pessoa para falar com o Bolsonaro, porque ele é conhecido como doido na Bahia e “pra conversar com um doido, só outro doido”!
Deixando o aspecto cômico de lado, a verdade é que a burguesia não consegue estabelecer um governo minimamente estável e forte o suficiente para aplicar até o fim as reformas, privatizações e cortes que o capitalismo em crise precisa para tentar se salvar. E enquanto isso, a classe trabalhadora e a juventude não foram derrotadas e encontram caminhos para resistir.
A experiência da burguesia com essa caricatura grotesca de bonapartismo chamada Jair Bolsonaro já está dando sinais de saturação. No entanto, ela continua suportando esse governo porque teme a classe trabalhadora e não vê nenhuma solução no horizonte. Já na classe trabalhadora, que não tem nada a perder a não ser seus grilhões, começa a ganhar audiência a luta para pôr pra Fora Bolsonaro! Nessa luta, os marxistas estarão na linha de frente, explicando que a derrubada de Bolsonaro abre caminho para que a própria classe trabalhadora chegue ao poder e passe a governar o país sem essa classe política burguesa e essas corporações capitalistas!