Foto: Renato Moura/Voz das Comunidades

É preciso derrotar o capitalismo, o racismo e seus sistemas de repressão!

No último dia 08, aconteceu mais um caso de bala perdida durante operação da Polícia Militar no Rio de Janeiro. A vítima foi a modelo Kathlen Romeu, de 24 anos. Esse tipo de assassinato, infelizmente, faz parte da normalidade do violento Estado burguês que diariamente mata a população negra, mostrando sua face assassina, com o pretexto hipócrita de guerra às drogas e ao crime.

A vítima era designer de interiores e estava grávida. Antes de ser atingida pela “bala perdida” fez postagens nas redes sociais e caminhava para um dia de normalidade. Contudo, a normalidade do Estado racista reserva outros destinos para os negros no Brasil. A população negra vive com os riscos da violência diária que ataca de todos os lados e que tem horário marcado em cada ação da polícia.

É evidente que esses assassinatos não são acidentes, mas uma forma de manutenção do terror do Estado burguês contra a população pobre. Esse tipo de violência acontece em todos os locais em que a classe trabalhadora habita ou frequenta e vai continuar enquanto esse Estado assassino existir.

Não é a primeira vez que acontece um caso de bala perdida que encontra corpos negros e pobres. Em 2020 pelo menos 100 pessoas foram mortas vítimas de bala perdida no Rio de Janeiro. Em sua gritante maioria, essas vítimas são atingidas durante operações da polícia que, junto com a mídia conivente, sempre redireciona a culpa para o crime organizado, se isentando e até ganhando o apoio de seus simpatizantes de extrema direita.

O caso mais recente foi a chacina cometida pela Polícia Civil na favela do Jacarezinho, também no Rio de Janeiro, que causou uma onda de comoção e raiva no país inteiro. Esse tipo de operação policial tem como alvo as habitações mais pobres e o risco de que pessoas sejam mortas dentro de suas casas é comprovado na realidade diária, acontecendo com assustadora frequência.

A guerra ao crime organizado não passa de uma farsa onde o Estado, além de praticar seu terrorismo diário, também direciona os olhares e a culpa para grupos pequenos e casos isolados, afastando a óbvia instabilidade de suas instituições de repressão. O Estado burguês brasileiro criou uma instituição que recebe seu salário assassinando o povo negro. Não podemos cair na ilusão de que a instituição podre da polícia pode ser reformada por dentro ou pode ser humanizada; isso vai contra os seus aspectos básicos.

O Estado burguês é uma entidade política que mantêm a exploração e a opressão da burguesia sobre os trabalhadores. Assim, o judiciário, o legislativo e seus calhamaços de leis atuam nesse sentido, se utilizando do racismo para explorar mais e dividir a classe operária. As polícias, que nesse Estado agem como corpo armado da burguesia para defender a propriedade privada, são grupos de repressão que têm o intuito de fustigar qualquer tentativa do povo de se organizar, de romper com as atrocidades do sistema capitalista e de lutar pelo seu fim.

As instituições públicas se decompõem a cada dia no capitalismo. O Estado é, ao mesmo tempo, omisso e tolerante com o narcotráfico que domina regiões imensas. Também permite as ações das milícias que aterrorizam a população, dominando serviços públicos, cobrando propinas e chefiando o tráfico.

Na verdade, muito das guerras entre as polícias e os traficantes são acertos para ver quem vai controlar determinada área. Os trabalhadores ficam no meio desse fogo cruzado entre as milícias armadas e são assassinados, sendo a justificativa da burguesia a criminalização da cor da pele, ou seja, dos negros e da pobreza.

Desse modo, a única solução é a urgente e incessante exigência do fim da polícia e do Estado em seus moldes atuais. Os trabalhadores organizados devem construir um destacamento armado do povo nos bairros que realmente tenha como objetivo a proteção dos trabalhadores, sem falsos pretextos mascarados que nada mais são que o assassinato velado da classe trabalhadora e da população negra.

Não podemos confiar ou ter ilusão nessas corporações que são a segurança racista da burguesia. São elas que, mesmo em pandemia, cumprem as ordens do Estado na hora de reprimir grevistas e manifestantes e na desocupação de terras e habitações ocupadas pelos trabalhadores. Os movimentos insurrecionais dos trabalhadores negros nos EUA pelo Black Live Matter nos mostraram que é na rua que se combate a violência e o assassinato do povo negro. Exigir compensações, por meio de uma polícia mais amiga, não vai mudar a situação dos negros no Brasil e no mundo.

É preciso dar nome às vítimas e aos culpados dos crimes do Estado, ir além das estatísticas e trazer à luz da população o tamanho da violência diária, sem alimentar as ilusões de que as balas perdidas não têm alvos pré-definidos. A verdadeira justiça virá dos próprios trabalhadores ao derrotarem e pôr abaixo todas as instituições desse sistema burguês, construindo uma sociedade livre de opressão, livre do racismo e de exploração, uma sociedade socialista.

A classe trabalhadora tem seus corpos vendidos até mesmo depois da morte

Somado a tudo isso, ainda tivemos a infame ação da empresa (Farm) em que Kathlen trabalhava, que resolveu criar um cupom com o nome da vítima e doar a comissão dos lucros obtidos para a família, imaginando que esta seria uma ação “reparadora”.[1] O caráter cruel do capitalismo nunca apresenta limites em suas ações. Deve ser rechaçada qualquer tentativa de obtenção de lucro em cima da morte de qualquer pessoa. Essa atitude não passou de oportunismo cruel daqueles que não querem nada mais que manter seus lucros. Qualquer ação humanitária deveria vir no sentido da destruição total do sistema que matou Kathlen. Somente assim será possível pôr fim à matança diária. Não existe capitalismo humanizado e qualquer ação nesse sentido é a mais pura mentira, mentira que enche os bolsos dos beneficiados pelo Estado que matou Kathlen Romeu e mata milhares de outras pessoas diariamente ao preço do aumento de seus lucros.

  • Justiça para Kathlen Romeu
  • Pelo fim do racismo e do capitalismo
  • Pelo fim da polícia militar!
  • Ser negro não é crime!
  • Vidas negras importam!

[1] Após recepção negativa da população, a empresa removeu o cupom.