Foto: Rovena Rosa, Agência Brasil

É preciso parar a matança generalizada de negros e pobres

Durante a pandemia, a letalidade da Polícia Militar (PM) de São Paulo cresceu de forma exponencial, assim como o número de contaminados pelo coronavírus. Segundo dados publicados no Diário Oficial, o número de mortes envolvendo a PM subiu 54,6% em abril, já com a quarentena em pleno vigor.

Os dados da violência em 2020 são alarmantes e mostram que a PM paulista se sente livre para ser a lei, o juiz e o executor. A cada seis horas uma pessoa foi assassinada pela PM de São Paulo, totalizando 116 casos. De janeiro a março deste ano, houve um aumento de 28% no total de mortos pela PM. No ano de 2019, um total de 28 pessoas foram mortas sob alegação de resistência por PMs que estavam de folga. Outras 179 foram mortas por policiais que estavam em serviço. O aumento da violência policial já vinha ocorrendo antes da pandemia, e se agravaram.

O último caso de assassinato cometido por policiais militares, em São Paulo,  foi do adolescente negro Guilherme Silva Guedes. Investigações da Polícia Civil chegaram ao sargento do Batalhão de Operações Especiais (BAEP), Adriano Fernandes de Campos, 41, de São Bernardo do Campo, como um dois autores do assassinato. Segundo informações, mesmo proibido, o PM acusado do assassinado e seu pai, outro PM aposentado, são proprietários de uma empresa de segurança privada, a Campos Forte, que não tem registro para atura na área de segurança.

Negros e pobres os alvos prioritários da violência policial

No Brasil, o racismo estrutural é bem evidente. A brutal violência policial que estamos vendo explodir e se generalizar por todo o país integra a costura da vestimenta denominada sociedade brasileira. 

A violência policial é cotidiana e corriqueira. Um exemplo recente foi a tortura realizada por policiais militares do 43º Batalhão da Polícia Militar da capital. Eles foram filmados agredindo um jovem rendido às 4 horas da madrugada do sábado (13/6). A agressão aconteceu na Rua das Flores, no Jardim Fontális, na mesma região. 

Nas imagens do vídeo, é possível ver cinco PMs agredindo um jovem de 27 anos, morador da comunidade, com socos, chutes e golpes de cassetetes. Enquanto é espancado, o jovem fala que é trabalhador, que foi buscar a namorada e que não estava fazendo nada.

O fato lembrou o ocorrido na Favela Naval em Diadema quando 10 policiais militares liderado por Otávio Lourenço Gambra, conhecido como Rambo, comandava o grupo de PMs nas sessões de espancamento e tortura contra quem passasse pela comunidade. A barbárie foi consumada quando Rambo, sem nenhuma razão, atirou duas vezes contra o carro no qual estava o mecânico Mário José Josino. 

Os policiais envolvidos nas torturas e execuções na Favela Naval em 1977 foram expulsos da PM e cumpriram penas curtas no Presídio Romão Gomes. Rambo, o assassino, cumpriu pena de oito anos. Na época, o governado Mário Covas enviou uma PEC ao Congresso para extinguir todas as PMs do Brasil, o que não prosperou.

O Estado Democrático de Direito nega o direito à vida de negros e pobres

A defesa do Estado Democrático de Direito que vem mobilizando setores da esquerda, centro e direita, que assinam manifestos levantando o espantalho do fascismo, como o conteúdo do Manifesto Estamos Juntos, é a defesa do mesmo Estado que, com suas instituições, organiza e sustenta todo o processo de exploração da classe trabalhadora, fazendo com que o Brasil seja um dos países com uma das maiores índices de concentração de renda nas mãos de uma minoria da população, que por sinal é branca.

A população negra representa 54% da população brasileira e 90% desta população está dividida da seguinte forma: 76% estão no grupo cuja renda varia de zero a dois salários mínimos, e os outros 14% estão no grupo onde a renda varia de 2 a 3,5 salários mínimos. Ao longo dos últimos cinco anos a participação dos negros entre os mais pobres vem aumentando.

Se junta à violência policial, a violência do Estado burguês capitalista que aprofunda seus ataques aos direitos dos trabalhadores conquistados com muita luta, como os direitos trabalhistas, a seguridade social, a educação e saúde pública, moradia, violências potencializadas pelo racismo estrutural e institucional, que são pilares constitutivos do sistema capitalista e do regime de exploração.

Hoje, temos duas pandemias atacando de maneira brutal a população pobre e negra, e produzindo vítimas em larga escala. O racismo materializado na violência policial e a Covid-19. Segundo estudo do site Medida SP, divulgado pelo portal G1, 65,9% das pessoas mortas por Covid-19, na grande São Paulo, ganhavam menos de 3 salários mínimos, exatamente onde se situa a grande maioria da população negra. 

As mortes que se espalham por todo país, e que atingem a população mais pobre, são resultado do descaso deste governo que representa os interesses dos capitalistas, do seu Estado e de suas instituições apodrecidas.

É preciso dizer de maneira clara, direta e objetiva, que dentro deste sistema, desta ordem e de seu Estado, não será possível acabar com o racismo e outras formas de opressão e exploração. Os negros devem levantar todas suas reivindicações e lutar por elas aqui e agora. Porém, nossa perspectiva estratégia não deve ser a de alimentar a ilusão de que é possível humanizar o capitalismo e suas instituições assassinadas, como as polícias. Nossa estratégia deve ser a de lutar para derrubar este sistema, nos associando às lutas da classe trabalhadora para construir a revolução a socialista. Conheça o Movimento Negro Socialista e lute conosco.