Eleições 2016 e a pressão sobre o PSOL

Para o PSOL se desenvolver como uma alternativa de esquerda, precisa manter suas candidaturas e se ligar aos amplos setores da sociedade que rejeitam este velho sistema.

Com a aproximação do 1º turno das eleições municipais, alguns dados das pesquisas chamam atenção.       

O primeiro é o alto número de intenções em votos brancos e nulos, em geral acima dos 10%. No Rio de Janeiro chega a 16% (Ibope de 26/09). Somando às abstenções, aqueles que não vão comparecer às urnas no próximo domingo, a porcentagem dos que não vão votar em nenhum candidato deve crescer bastante. Na última eleição presidencial (2014), no 1º turno, o número de brancos, nulos e abstenções, em todo o Brasil, somou 27,17% dos votantes, 38.798.244 eleitores.

Como analisamos naquele momento, esta é a expressão de um descrédito popular generalizado nos políticos, nas instituições burguesas e no processo eleitoral. Em uma pesquisa do Índice de Confiança Social de 2015, que mede a confiança da população em determinadas instituições, numa variação de 0 a 100 pontos, o sistema eleitoral ficou com 33 pontos, o Congresso Nacional com 22 e os partidos políticos, em última posição, com 17 pontos.

As pesquisas eleitorais também revelam outro dado interessante: a possibilidade do PSOL chegar ao 2º turno em algumas capitais. Rio de Janeiro, com Marcelo Freixo; Belém, com Edmilson Rodrigues; Cuiabá, com procurador Mauro; e em Porto Alegre, com Luciana Genro.

Essas probabilidades se dão apesar do pouco tempo de TV, de esses candidatos terem sido excluído de debates, e da pouca estrutura frente à máquina eleitoral de partidos tradicionais. Isso por si só mostra a existência da busca por alternativas à esquerda entre amplos setores da população, ao contrário dos que avaliam que existe uma “onda conservadora” na sociedade. O que existe, de fato, é um rechaço generalizado ao velho sistema e a busca por uma nova alternativa.

O caso de São Paulo

Na capital paulista, tomando como base a pesquisa IBOPE de 26/09, está na primeira posição o candidato João Doria, do PSDB. Notório empresário e apresentador de TV, aparece nas propagandas como o “João trabalhador”, que teria conseguido chegar à sua posição social à custa de muito esforço pessoal. Apresenta-se como um não político, um administrador, tentando dialogar com a desmoralização dos políticos tradicionais. Pura demagogia e marketing eleitoral, obviamente.

Em segundo está Celso Russomano, do PRB, partido conservador ligado à igreja Universal do Reino de Deus. Em terceiro, Marta, que saiu do PT e foi para o PMDB para, supostamente, ir para um partido sem corrupção.

Na quarta posição, com 12%, está Fernando Haddad, do PT, o atual prefeito. A situação do PT na cidade, seguindo o cenário nacional, é de poucas chances de sucesso. E isso é responsabilidade direta do próprio PT e sua política.

Em 2012, o povo trabalhador votou em Haddad para derrotar José Serra, do PSDB. Mas, em seguida, Haddad, junto com o governador Alckmin, decretou o aumento do transporte público e colaborou com a repressão policial às manifestações. Ou seja, teve participação direta nos elementos que fizeram explodir as manifestações de junho de 2013 que irradiaram para todo o país, e que obrigaram Alckmin, Haddad e diversos outros governantes a revogarem o aumento.

Soma-se a isso a eleição de 2014, em que a esquerda se reagrupou no 2º turno, votou em Dilma para derrotar Aécio, do PSDB. Depois, o que se viu foi um verdadeiro estelionato eleitoral, com Dilma aplicando o programa do candidato derrotado.

O PT parece que nada aprendeu de sua falência política, da ruptura com sua base social. Segue fazendo alianças com partidos burgueses. Em São Paulo, com PR, Pros e PDT, tendo como vice o ex-PMDB e ex-secretário de educação de Alckmin Gabriel Chalita. Em centenas de cidades, segue fazendo alianças com PMDB e até com PSDB e DEM.

O PSOL deve abandonar a disputa?

Surge, nessa reta final, uma pressão para que o PSOL abra mão de suas candidaturas para, em tese, garantir um representante da “esquerda” no segundo turno.

Em Porto Alegre, a candidata do PSOL, Luciana Genro, aparece, em duas pesquisas, tecnicamente empatada em segundo lugar junto com Raul Pont (PT) e Nelson Marchezan (PSDB). Está em curso uma tentativa de apontar o PSOL como o culpado por dividir a esquerda e possibilitar um 2º turno com PMDB e PSDB. Querem, com isso, que Luciana abra mão e apoie o PT.

Em São Paulo, a candidatura de Erundina, na quinta posição, com 4%, é alvo da mesma pressão. Em artigo para a Folha, intitulado “PSOL deveria mirar o exemplo europeu ao tentar fragilizar o PT”, o autor, Mathias de Alencastro, após uma série de confusões e distorções sobre os partidos de outros países, conclui que “Ao pretender cravar o último prego no caixão do PT, o PSOL realiza o sonho da direita: um segundo turno dominado por candidatos conservadores, e uma esquerda confinada à temática das minorias”.

Não defendemos uma campanha sectária, anti-PT, e nem é isso o que o PSOL está fazendo. O que se pretende, de verdade, com essa pressão, é bloquear o surgimento de uma alternativa à esquerda. O que nada tem a ver com a tática da frente única, elaborada e defendida pelos comunistas.

Pra começar, os 12% de Haddad, mais os 4% de Erundina, não chegam nem ao segundo, nem ao terceiro colocado. E pensar em uma mera soma aritmética, nesse caso, seria puro formalismo. É evidentemente que muitos que votam no PSOL, não votariam no PT. Aplicar essa tática só desmoralizaria o PSOL.

Acusação similar o próprio PT sofreu em sua origem. O PCB de então apontava que os construtores de um novo partido estavam rompendo e enfraquecendo a frente democrática contra a ditadura. Como sabemos, não foi isso que ocorreu. O PT se desenvolveu como um forte partido operário, que atraiu e organizou as massas, e foi determinante para enterrar a ditadura.

Para além das eleições

A classe trabalhadora e a juventude, cada vez mais, percebe que o velho não lhe serve mais e está em busca do novo.

Para o PSOL se desenvolver como uma alternativa de esquerda, deve combater todo o pragmatismo eleitoral, a adaptação ao sistema e basear sua intervenção junto às lutas populares, contra o governo Temer, o Congresso Nacional, contra os ataques e pelas reivindicações, apontando que o socialismo é o horizonte.

Os 21 candidatos contra o sistema, que a Esquerda Marxista lança em coligação com o PSOL pelo Brasil, têm esse objetivo: fortalecer a luta e a organização de jovens e trabalhadores para abolir a ordem existente, para construir uma nova sociedade, através de uma Assembleia Popular Nacional Constituinte e um verdadeiro governo dos trabalhadores.

Independente do resultado das urnas, o que seguirá, no terreno da luta de classes, é a instabilidade e a imprevisibilidade. Acontecimentos revolucionários se preparam. Vote nos candidatos contra o sistema, organize-se com a Esquerda Marxista!