Alianças com partidos burgueses leva PT a perder referência eleitoral nas grandes capitais.
Uma olhada rápida nas pesquisas eleitorais pode dar a impressão de que nestas eleições, outra vez, o fantasma da direita tenta ressuscitar. Mas não é tão simples assim. Há mais coisas acontecendo e o crescimento eleitoral do PCdoB, até este momento, deveria levar a sérias reflexões, esta gente que colocou o PT nesta situação. Este é o resultado direto do governo de coalizão com a burguesia e dos escândalos que a direção do PT e o governo têm provocado.
Em Belo Horizonte o candidato apoiado pelo PT local, por Aécio Neves (PSDB) e por Lula, tem um ponto a mais nas pesquisas que a candidata do PSTU, Vanessa Portugal. Mario Lacerda (PSB) é o fruto da traição de Fernando Pimentel, atual prefeito petista, num acordo que tem como objetivo viabilizar a candidatura presidencial de Aécio Neves, em 2010. Grande parte dos militantes do PT se recusou a acatar a decisão e está apoiando Jô Morais do PCdoB que está na frente nas pesquisas. As pesquisas mostram, em todo lugar, o PT ressuscitando a direita ou entregando o lugar que ocupava para o PCdoB.
Na Bahia, ressuscita ACM Neto (DEM) e Ambassay (PSDB). O candidato do PT, Walter Pinheiro, dois anos depois da esplêndida vitória do PT para governador é um candidato nanico. Isto é fruto da desilusão das massas que viram suas esperanças frustradas e sua vitória confiscada pela aliança de Wagner e Gedel de Lima (PMDB).
No Rio de Janeiro, um bispo reacionário, Crivela, está na frente das pesquisas e a candidata do PCdoB, Jandira Fegalli, disputa já o 2º lugar com o candidato do governador do PMDB. A mesma coisa acontece em Porto Alegre, onde o PCdoB e o PT estão empatados em 2º lugar atrás do atual prefeito, José Fogaça.
Em Belém, o PT tem 8%, bem atrás do PTB e do DEM. Em Florianópolis, Espiridião Amin, do PP, tem 29% e Berger, do PSDB, tem 22%. O PCdoB é o 3º com 7%. O PT tem 3º, assim como PSOL.
Só em São Paulo, capital, o PT, está na frente com 41% para a coligação PT/PCdoB, Marta e Aldo Rebelo. E a explicação é fácil. O atual governo do estado é PSDB, e a prefeitura é DEM. Contra eles, o povo está votando na Coligação de Esquerda, sem grandes partidos capitalistas, constituída pelo PT e PCdoB!
O fato é que nos grandes centros há um movimento claro de sanção das massas contra a política direitista de Lula e a direção do PT assim como muita desilusão por tudo que se esperava e que não aconteceu. Mas também por muito que aconteceu, como mensalão e outras maracutaias vistas nos últimos anos.
Nos últimos anos, Lula se beneficiou de enormes injeções internacionais de dinheiro, criou uma enorme bolha de crédito, pessoal e empresarial, se beneficiou da alta internacional dos preços de matérias primas, entre elas, do petróleo. Agora tudo isso está sendo posto em cheque, como já se vê com a inflação e com a desaceleração da economia (que é o apelido capitalista para recessão, crise de superprodução e crise financeira). Os que ganham melhor ainda não sentiram muito no bolso, mas os mais pobres já viram o preço do pão ir para R$5,80/kg, subir o azeite, o feijão, o trigo, o milho, tudo muito acima da inflação oficial. Esta inflação que soma TV de plasma com parafusos de cobre e o pão de cada dia não é a mesma daquele que gasta todo seu salário com comida, água, luz, transporte e remédios.
Começa a surgir um sentimento de desconforto naqueles que mais têm ilusão em Lula. Ainda não é uma ruptura, mas é suficiente para fazer naufragar os candidatos do PT e trazer de volta, velhos e novos corruptos da direita. Mas também mostra um movimento do povo de ida à esquerda, que se expressa no crescimento das candidaturas do PCdoB.
O PCdoB está aparecendo como a “ala esquerda do governo”, e o povo acredita estar se deslocando para a esquerda ao apoiar estes candidatos. Afinal o PCdoB é “comunista”, é “o partido do socialismo” segundo seus panfletos. Não foi “manchado” pelo mensalão e outras maracutaias e também não é uma ruptura com Lula. Assim há um movimento de deslocamento popular para ampliar a pressão sobre o governo “pela esquerda”.
Mas, o PCdoB tem exatamente a mesma política da direção do PT e do governo. O PCdoB é o partido que está hoje debilitando a Petrobrás e privatizando todos os campos de petróleo descobertos. Mas uma coisa é o que sabemos nós, militantes. Outra coisa é o que sabe o povo e que relação estabelece com o que vê. Se o povo soubesse “da missa, a metade”, botava fogo na igreja!
Assim, o PCdoB hoje se beneficia diretamente da política entreguista e capituladora do governo Lula e da direção do PT. Se isto vai continuar, o tempo dirá em breve. Só em circunstâncias muito excepcionais o PCdoB poderia vir a ocupar o lugar que o PT ocupa junto à classe operária. Teria que fazer um giro real à esquerda e isto provocaria crises enormes dentro deste engendro estalinista reconvertido ao mercado. Ao mesmo tempo, qualquer movimento sério do PT para a esquerda tiraria a terra debaixo dos pés dos “socialistas de mercado” do PCdoB.
O problema é que a direitização crescente da direção do PT e do governo levam água ao moinho da desmoralização de setores da classe e criam ilusões nos partidos tipo PCdoB, ou dissolvem a idéia de partido de classe e ressuscitam mortos capitalistas putrefatos.
Os marxistas têm a tarefa de reerguer no Brasil a bandeira do socialismo à altura do vento revolucionário que varre a América Latina e prepara um novo e gigantesco maio de 68 em todo o mundo. A construção da Esquerda Marxista é a tarefa mais honrosa que um militante consciente tem nestas eleições, buscando o máximo de votos para os candidatos marxistas e da classe trabalhadora, como expressão do programa de luta revolucionária pelo socialismo.