Uma Federação Socialista da Europa: a única alternativa frente à degradação social e o retrocesso dos direitos democráticos.
Em meados de Abril, uma pesquisa do Eurobarómetro prognosticava uma abstenção recorde para as eleições européias de Junho: somente 34% dos cidadãos europeus previam participar dos comícios. A pesquisa também assinala uma abrupta queda de confiança em instituições como a Comissão Européia, o Parlamento Europeu e o Banco Central Europeu. Isto não é nada estranho: todas estas instituições têm mostrado uma persistente hostilidade para com os interesses dos trabalhadores. Estes dados precisam ser analisados dentro da crescente crise econômica e de credibilidade que sofre o capitalismo e suas instituições.
Os dados das mudanças sociais e trabalhistas na Europa são muito claros. As rendas do trabalho passaram de 68% da renda nacional dos países da UE-15 (15 países mais ricos da União Européia) em 1975, para 58% em 2005, enquanto os lucros empresariais cresceram uma média de 33% no período de 1999-2006. Há é um brutal processo de transferência de riqueza da maioria mais pobre para a minoria mais rica.
Nos últimos anos, também se produziu uma autêntica involução dos direitos democráticos na Europa: campanhas racistas contra imigrantes, detenções indiscriminadas, impunidade de grupos fascistas e a restrição dos direitos mais elementares com a desculpa da “luta contra o terrorismo”. O imperialismo norte-americano tem atuado em solo europeu, com a generalização de seqüestros, torturas e vôos ilegais organizados pela CIA, relatados em informes elaborados pelo próprio Parlamento Europeu, sem que nenhum governo faça nada significativo contra tamanho atropelo. Certamente, diante da perspectiva de uma crise profunda e prolongada, os ataques no terreno social e democrático irão triplicar.
Ascensão da luta de classes na Europa e crises do reformismo
O outro lado da moeda é a ascensão da luta dos trabalhadores. Nos últimos anos assistimos a greves gerais, ou movimentos muito amplos da classe trabalhadora na Grécia, Itália, França, Bélgica, Portugal, no Estado Espanhol, Dinamarca, etc. Pode parecer estranho que este profundo e crescente mal estar da classe operária não tenha sido acompanhado de vitórias da esquerda no terreno eleitoral. Mas isto tem uma explicação clara: o abismo que separa as aspirações das massas do programa real que oferece o reformismo e a social-democracia. Esta tendência ideológica foi a principal defensora de um capitalismo com face humana, mais “social e igualitário” e, no qual os trabalhadores melhorariam suas condições de vida sem a necessidade da luta revolucionária. Isto foi parcialmente possível, de forma muito limitada, durante quatro décadas imediatamente depois da II Guerra Mundial. Mas os fatores políticos e econômicos excepcionais, que propiciaram tal realidade, desapareceram há muito tempo.
Como gestora de um capitalismo em crise, a política social-democrata tem sido cada vez mais incapaz de distinguir-se da direita. Na Alemanha, o SPD se envolveu no governo de coalizão com Merkel, aprofundando ainda mais seu divórcio com os trabalhadores. O mesmo pode-se dizer do PDS italiano, que se envolveu em diferentes governos de coalizão com a burguesia, preparando assim, o caminho de Berlusconi. O Partido Trabalhista Britânico, a frente do giro à direita da social-democracia europeia, conseguiu a façanha de fazer a direita voltar a governar o país. Na França, a crise do PSF e suas enormes dificuldades para vencer a direita, certamente, não estão ligadas à falta de combatividade da classe operária francesa, que tem sido vanguarda dos trabalhadores europeus nos últimos anos. Na Espanha, o governo de Zapateiro, do PSOE, quer evitar a todo custo que a classe operária surja no cenário, de forma generalizada e aberta, e é pressionado a empreender as chamadas “medidas estruturais” exigidas pela burguesia.
Obviamente, uma das maiores preocupações para os trabalhadores e os jovens mais conscientes da Europa é a existência de governos e partidos de direita que podem chegar ao poder. Mas como marxistas, insistimos que a União Europeia capitalista não vai resolver nenhum dos problemas dos trabalhadores. O voto na esquerda é importante, mas não é suficiente. Não basta derrotar eleitoralmente a direita. Devemos lutar para obrigar os dirigentes sindicais a convocar uma greve geral de 24 horas, como um primeiro passo para uma greve geral em escala européia.
A luta comum por uma Federação Socialista da Europa é a única alternativa aos problemas dos trabalhadores de todo o continente. Somente poderemos tornar efetivo o verdadeiro potencial, econômico e cultural da Europa com o estabelecimento de uma Federação Socialista que, sobre a base da expropriação dos bancos, dos monopólios e dos latifúndios, estabeleça os fundamentos de uma economia socialista planificada que acabe com a ferida do desemprego, que defenda e melhore a saúde e a educação pública e que coloque fim ao racismo e à desigualdade. Defender uma alternativa revolucionária frente ao capitalismo é necessário, porque nosso destino só será decidido, efetivamente, com a luta de classes.