Imagem: Braveheart, Wikimedia Commons

Eleições francesas: nenhum acordo com a direita! Todos em defesa e aprofundamento do programa da Nova Frente Popular!

Os resultados do segundo turno das eleições legislativas francesas trouxeram alegria e, acima de tudo, alívio a milhões de eleitores que temiam uma vitória do bloco de extrema-direita Reunião Nacional (RN).

No dia seguinte ao primeiro turno, a líder do RN, Marine Le Pen, e o presidente do partido, Jordan Bardella, já estavam planejando o seu “futuro” governo, com os nomes dos “futuros” ministros sendo vazados para a imprensa. Estavam tão confiantes na sua vitória que adiaram indefinidamente o seu programa “social”. “Inicialmente”, explicaram, iriam seguir uma política de austeridade orçamentária e de aposentadorias aos 66 anos de idade. Mas ontem à noite, todos os seus planos vieram abaixo. Com 143 deputados, a aliança RN-Ciotti está longe da maioria absoluta.

Com 184 assentos, a Nova Frente Popular (NFP), de esquerda, ficou em primeiro lugar – à frente do grupo macronista (166 assentos). Esta foi, portanto, uma pesada derrota para a “maioria presidencial”, mas não o desastre que parecia se aproximar ao dia seguinte às eleições europeias. Os macronistas (ou ex-macronistas) obtiveram um desempenho melhor do que o que se previa nos últimos dias pelas sondagens, mesmo tendo em conta a desistência dos candidatos da NFP e dos macronistas entre os dois turnos no âmbito da chamada Frente Republicana.

Voltaremos em outra oportunidade para dar detalhes de nossa rejeição categórica à chamada “Frente Republicana contra a extrema direita”: uma política de colaboração de classes que, longe de enfraquecer a direita e a extrema direita, fortalece-as. Aqui, vamos apenas sublinhar que, em termos de assentos conquistados, a “Frente Republicana” beneficiou principalmente a direita macronista – e a tradicional direita de Os Republicanos (LR) que também superou as sondagens. As numerosas desistências de candidatos da NFP salvaram a “maioria” cessante de uma derrota total – e permitiram que o LR ganhassem alguns assentos adicionais.

No final, a “Frente Republicana” teve principalmente o efeito de dar uma vantagem aos macronistas e aos Republicanos, contra o RN. Contudo, seria completamente errado concluir que o RN está enfraquecido politicamente. Não só o RN obteve, no primeiro turno, mais 6 milhões de votos do que em 2022, como também a aliança entre a NFP e a direita, entre os dois turnos, só pode fortalecer a imagem “anti-establishment” de Marine Le Pen e seus capangas, que pretendem colher os frutos, mais cedo ou mais tarde.

A Nova Frente Popular (NFP) ficou em primeiro lugar (184 assentos), mas ficou longe de alcançar a maioria absoluta (289 assentos). Não há, portanto, maioria na Assembleia Nacional para se votar a favor do programa da NFP. Isto significa que, apenas com base na composição da Assembleia Nacional, a constituição de um governo de alguma forma “sólido” é um desafio. Longe de ter terminado, a profunda crise política que começou em 9 de junho está entrando em nova fase.

O líder do França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, pediu a Macron que nomeie um primeiro-ministro da Nova Frente Popular / Imagem: Jean Luc Mélenchon, Twitter

As negociações e arranjos nos bastidores irão se multiplicar nos próximos dias e semanas. Os líderes do Partido Socialista (PS) e dos Verdes já se declaram dispostos a renunciar ao programa da NFP para chegar a um acordo com os macronistas. Quanto à burguesia francesa, exercerá a máxima pressão para forçar o próximo governo – seja ele quem for – a prosseguir uma política “responsável”, isto é, de austeridade.

O líder da França Insubmissa (LFI), Jean-Luc Mélenchon, pediu a Macron que nomeasse um primeiro-ministro da NFP. Pediu também que, quem quer que seja o primeiro-ministro, que o mesmo esteja preparado para formar um governo que aplique todo o programa da NFP, sem negociar nada com os deputados macronistas. Esta posição contrasta fortemente com a de vários líderes da ala direita da NFP. Mas são estes últimos que estarão no centro das negociações e regateios.

Dado o equilíbrio interno de poder na Assembleia Nacional (e dentro da NFP), o que Mélenchon exige não tem hipóteses de ser alcançado na ausência de uma poderosa mobilização extraparlamentar de jovens e trabalhadores. O foco da luta já não está mais na Assembleia Nacional, mas nas ruas, nos locais de trabalho e nos bairros da classe trabalhadora.

É verdade que a NFP não tem maioria absoluta na Assembleia Nacional. Mas os trabalhadores são a grande maioria no país. Constituem, de longe, a força social decisiva. Sem a sua gentil permissão, nenhuma roda gira e nenhuma lâmpada brilha. Nos próximos dias, os líderes da LFI e da confederação sindical CGT – entre outros – deverão colocar mobilizações de massas na agenda, incluindo greves renováveis, para exigir a implementação e o aprofundamento do programa da NFP.

Com base em uma mobilização revolucionária da juventude e dos trabalhadores, seria possível não só aplicar todas as medidas progressistas do programa da NFP, mas até ir muito mais longe – até à expropriação dos grandes capitalistas. Temos de pôr fim ao domínio da economia por um punhado de parasitas gigantescos que impõem austeridade, precariedade, desemprego e muitos outros flagelos à esmagadora maioria da população. Eles devem ser derrubados. Os trabalhadores devem ser levados ao poder e a economia deve ser reorganizada com base no planejamento democrático do aparelho produtivo.

Esta é a única forma de pôr fim à decadência e declínio social permanente – e, no processo, deter verdadeira e definitivamente a ascensão de Reunião Nacional.

TRADUÇÃO DE FABIANO LEITE.