No último dia 29 os militantes da OCI no Amazonas organizaram uma plenária para discutir as eleições em Manaus. Após análise sobre a situação política e os principais candidatos, os militantes presentes votaram e aprovaram o voto nulo para os cargos de prefeito e vereador.
Os comunistas nas eleições
Como um partido revolucionário, lutamos pela derrubada do sistema político burguês, inclusive sua suposta democracia. No entanto, compreendemos que a intervenção no processo eleitoral pode ser uma ferramenta de diálogo e contato com jovens e trabalhadores que observam a situação mundial e tiram conclusões revolucionárias.
Nesse sentido, a OCI apoia em algumas cidades candidaturas que se mostram capazes de mobilizar essas camadas e ponham em questão a própria legitimidade do sistema. É o caso, por exemplo, da candidata Clarice Chacon (PSOL), no Rio de Janeiro, e de Glauber Braga (PSOL), quando disputou o cargo de deputado federal em 2022.
Quando a situação permite, lançamos também candidaturas próprias que têm como objetivo denunciar o sistema e apontar para a necessidade da construção de uma organização revolucionária. Fizemos isso nos últimos pleitos estaduais e municipais em São Paulo, Rio de Janeiro, Florianópolis, Joinville e outras cidades.
O que não faz sentido para nós é lançar ou apoiar candidaturas que defendam, direta ou indiretamente, a manutenção do sistema político burguês ou mesmo encarem mandatos legislativos e executivos por si sós como ferramentas para mudar a realidade.
As candidaturas majoritárias em Manaus
Ao analisar os candidatos a prefeito da capital amazonense, observamos um enfrentamento entre o atual prefeito David Almeida (Avante), primeiro colocado, e outros três que disutam o segundo lugar: Roberto Cidade (União Brasil), Capitão Alberto Neto (PL) e Amom Mandel (Cidadania). É importante destacar que os números variam bastante de uma pesquisa para outra.
É desnecessário mencionar que essas são candidaturas de partidos da direita e representam de uma forma ou de outra os interesses da classe dominante. No entanto, acreditamos que é preciso analisar de forma mais aprofundada a candidatura de Amom Mandel.
Com forte presença nas redes sociais, Amom atrai o voto de uma parcela da juventude que vê com descrédito as figuras já consolidadas da política local e quer de expressar sua insatisfação e revolta. Ao contrário de Bolsonaro e seus imitadores, Amom fala em “inclusão”, “respeito à diversidade” e outros chavões que têm o objetivo de esconder a real natureza de seu programa.
No documento apresentado em seu site oficial, Amom coloca como inspiração o Programa Municipal de Desestatização de São Paulo, que entregou parques, clínicas, escolas, terminais, iluminação pública e até cemitérios à iniciativa privada. O programa fala em fomentar as Parcerias Público-Privadas (PPP) e coloca como proposta a concessão dos terminais de ônibus da cidade. Esse é o Amom que a campanha de TV não mostra.
Embora não esteja na disputa pelo segundo turno, é importante destacar também a candidatura de Marcelo Ramos (PT). Oriundo do PCdoB, Ramos saiu do partido em 2009 e iniciou uma longa peregrinação pela direita, passando pelo PSB, PL e PSD. Sua filiação ao PT aconteceu somente este ano, às vésperas do pleito municipal.
Marcelo Ramos adotou uma política contrária a Bolsonaro no Congresso e abandonou o PL quando o ex-presidente se filiou ao partido. No mesmo período se aproximou de Lula e chegou a subir ao lado do atual presidente no palanque do senador Eduardo Braga (MDB) quando este se candidatou a governador do Amazonas em 2022.
Ao observar sua trajetória, fica claro que Marcelo Ramos não pode ser considerado um político de esquerda e sua entrada no PT é apenas uma demonstração da política degenerada do partido de frente amplíssima em defesa do Estado e do sistema político burguês. A presença de partidos como o Solidariedade, o PDT, o PV e a Rede demonstram isso.
Como se não fosse suficiente, o projeto de Marcelo Ramos propõe a presença da Guarda Municipal nas escolas, não menciona concurso público para professores nem vagas para todos nas escolas e creches municipais e defende a “fiscalização” da concessionária de água, sem uma única palavra sobre sua reestatização.
Por fim, o PSTU lançou como candidato o Prof. Gilberto Mendes. Compreendemos que os companheiros têm total direito de realizar sua intervenção da maneira que consideram mais adequada. No entanto, para nós, não há sentido em apoiar uma candidatura que não se mostra capaz de mobilizar uma camada maior que suas próprias fileiras nem atrair jovens e trabalhadores em busca de uma alternativa ao sistema atual.
Candidaturas à Câmara Municipal de Manaus
Nas candidaturas legislativas, a tônica é a mesma observada nas majoritárias. À direita, defensores mais ou menos abertos do capital e do sistema burguês. À esquerda, programas rebaixados e que legitimam as instituições burguesas e seu suposto papel progressista.
Algumas candidaturas, como a de Zé Ricardo (PT), desperdiçam um imenso potencial de organização e mobilização, preferindo realizar uma campanha inteiramente adaptada e que em nenhum momento questiona o sistema. Independente de suas intenções, na prática isso essa apenas alimenta ilusões.
Votar nulo e organizar a luta
Manaus ocupa o 5º lugar entre as cidades com o maior PIB do Brasil, mas 41,8% da população vive na pobreza. Defendemos que toda a riqueza produzida pelos manauaras seja utilizada não para entupir os bolsos dos capitalistas no Brasil e no mundo, mas para garantir saúde, educação, transporte, moradia, emprego, cultura, lazer e uma vida digna para todos.
Para que isso aconteça é preciso romper com o capitalismo, o que passa necessariamente pela construção de um partido revolucionário à altura dessa tarefa. Convidamos todos os jovens e trabalhadores que, assim como nós, se revoltam com o que veem ao seu redor e acreditam que seus sonhos não cabem nas urnas a se organizarem.
Participe da Organização Comunista Internacionalista, seção brasileira da ICR, para construirmos juntos uma sociedade sem explorados nem exploradores, uma sociedade comunista.