Adaptação de texto da Corrente Marxista Revolucionária – seção venezuelana da CMI.
Os resultados das eleições regionais de 23 de Novembro na Venezuela confirmam a vitória do PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela) em 80% das prefeituras do país e em 17 Estados. Entretanto, os Estados de Zulia e Nueva Esparta permanecem nas mãos da direita. Além da perda de dois lugares importantes: a prefeitura da capital Caracas e o estado de Miranda. Finalmente, Carabobo e Táchira, onde o resultado foi muito apertado até o final, foram os Estados que acabaram caindo nas mãos da oposição.
5,3 milhões de votos para o PSUV e 4 milhões para a oposição
No total de votos, a nível nacional, cerca de 5 milhões e 300 mil votos foram para a revolução, o que representa cerca de um milhão de votos recuperados em relação ao referendo constitucional de 2007. Os números apresentam um ligeiro declínio no número de Estados (apesar do aumento de votos), em comparação com as eleições de outubro de 2004, quando a oposição tinha apenas dois governadores e agora possui 5 governadores e o prefeito da capital Caracas. Estes resultados continuam a mostrar os sinais de alarme que os marxistas têm explicado desde a derrota no referendo constitucional no ano passado.
Vários líderes da oposição, como era de se esperar, têm utilizado a vitória na prefeitura de Caracas para aumentar a idéia de que nessa eleição houve uma vitória da oposição e que isso é uma mensagem para o Presidente Chávez de que é necessário construir a Venezuela “Juntos”, “acabar com a polarização”, etc. Até o momento, a resposta de Chávez foi relembrar o passado destes burgueses, e fazer a advertência de que, caso voltem a tentar desestabilizar o país, através das posições que ganharam, não hesitará em agir. Chávez também exigiu que eles reconhecessem que o vencedor da eleição, a nível geral, é o PSUV e destacou que os milhões de votos a mais que recebeu o Partido Socialista, em relação à oposição, foi uma mensagem de que “temos que continuar no caminho do Socialismo bolivariano”.
A abstenção deu a vitória à direita em Estados importantes
O principal fator que impediu que, nesta eleição, pudéssemos voltar a derrotar de forma esmagadora a oposição, pela mesma margem de votos que alcançamos em 2006 nas eleições presidenciais, foi a abstenção de uma parcela da população nos bairros em que está concentrada a base chavista.
A média nacional de abstenção é claramente superada em bairros tradicionalmente chavistas, enquanto em áreas tradicionais da oposição, a abstenção é muito mais baixa. Que a base social da contra-revolução foi mobilizada em massa é evidente, mas a pergunta é: por que razão, algumas das bases sociais da revolução não se mobilizaram, como fizeram em outras ocasiões?
A derrota no referendo constitucional deu todos os sinais de aviso: setores da base revolucionária estavam caindo em apatia e descontentamento diante do resultado de que, após 10 anos da revolução, os principais problemas de habitação, emprego, precariedade, aumentos de preços, e assim por diante, continuem por se resolver. Se esta situação não for corrigida, a tendência é que setores da base da revolução caiam no desânimo e continuem não indo votar. Os problemas fundamentais dos trabalhadores não podem ser resolvidos com base no sistema capitalista e no Estado Burguês. A única saída é estatizar a grande fonte de riqueza: os bancos e as grandes empresas, colocando-os sob controle operário.
Nem rir, nem chorar. Compreender e agir…
Uma coisa é importante notar: apesar de todos os problemas que não foram resolvidos pela revolução, apesar das esperanças frustradas por muitos prefeitos e governadores durante os últimos 4 anos, a consciência revolucionária das massas se sobrepôs e estas voltaram a se mobilizar. Perdemos o referendo sobre a reforma por 300.000 votos e agora passamos nessas eleições a ter 1 milhão de votos a mais do que todos os partidos da oposição juntos.
Que o Presidente Chávez insista que esta eleição representou uma importante vitória, parece-nos correto. No entanto, a insistência do Presidente e de outros dirigentes do PSUV em destacar apenas este aspecto, pode fazer com que entre ativistas e militantes do Partido se difunda um sentimento de impotência e desorientação. Sobretudo em Caracas, é necessário fazer uma avaliação para ajudar os ativistas a entenderem o que aconteceu, o porquê nós perdemos votos e, principalmente, como combater esta tendência. Essa é a única forma de rearmar moral e ideologicamente as bases.
O que as massas pedem não é que continue tudo no mesmo ritmo, mas sim que avance com mais rapidez, os resultados nessa eleição mostram os sinais que já estavam em Dezembro do ano passado, apesar de votos terem sido recuperados, o perigo do ceticismo se propaga na base chavista.
Precisamos de uma profunda transformação da sociedade para resolver os problemas mais urgentes das massas e isso só pode ser conseguido com uma economia planificada e nacionalizada democraticamente. Na base de uma economia mista, de tentar conciliar capitalismo e socialismo sem destruir o aparelho do Estado herdado da IV República, e sem expropriar a burguesia, a oposição vai ganhar espaço. Ainda mais, com a crise na economia mundial capitalista que afeta a Venezuela. Abre-se uma nova etapa da revolução: a polarização se acentua entre a esquerda e a direita, a conquista de importantes governos será usada pela oposição para sabotar a revolução e tentar tombá-la. Este equilíbrio só pode ser quebrado de forma positiva pela entrada em cena da classe trabalhadora, de uma forma organizada, mostrando o caminho do verdadeiro socialismo.