Os imigrantes
“Centenas de funcionários da Wayfair, varejista de móveis online, ameaçam deixar seus escritórios em Boston na quarta-feira [26/6] porque a empresa recusava a exigência de cortar relações com empresas do governo que operam centros de detenção de imigrantes.
Os funcionários formaram um grupo chamado Wayfair Walkout na terça-feira [25/6], revelando em um tweet que enviaram uma carta aos executivos da Wayfair, assinada por 547 funcionários, pedindo que deixassem de trabalhar com os contratados” (Huffpost).
A greve acontece no mesmo dia em que a Câmara dos Deputados dos EUA, dirigida pela democrata Nancy Pelosi, aprovou o projeto dos republicanos de verbas “para imigrantes” no valor de 4,6 bilhões de dólares. Sem nenhuma trava no uso, o projeto, na verdade, permite que a política de construção de campos de concentração para imigrantes, inclusive crianças e bebês, aplicada pelo governo Trump, continue e se expanda.
Esta situação é tão explosiva que a burguesia teme pelo seu desfecho. Os argumentos de Trump, de que os imigrantes “tomam” o emprego dos verdadeiros americanos, se mostram falsos. Frente à própria política de Trump de fazer o mundo inteiro pagar pela crise capitalista, os EUA chegaram a uma situação quase que de “pleno emprego” em que a mão de obra imigrante é necessária em diversos setores da economia. A greve dos funcionários da Wayfar mostra que a consciência política cresce nos EUA, apesar dos que se reclamam do socialismo, como o senador Bernie Sanders ou o agrupamento conhecido como “Democratas pelo Socialismo” (DSA) continuarem a integrar o Partido Democrata. Uma maioria de dirigentes sindicais também se recusa a deixar o partido. Mas isto, ao contrário de outras épocas, onde tudo era canalizado e controlado pela direção, ameaça levar a uma radicalização sem precedentes. A greve política de solidariedade aos imigrantes é só a pontinha de um iceberg imenso que começa a vir à tona.
A constelação de pré-candidatos no Partido Democrata
São 24 os nomes que se propõem a disputar com Trump as próximas eleições presidenciais, das mais variadas “tendências” democratas. Desde o homem preferido do aparato do partido, que foi vice de Obama, Joe Binden, até o Senador Bernie Sanders. Bernie, aliás, já deveria ter aprendido da “última” disputa dentro do aparato como se organizam as eleições internas e como o aparato garante seus candidatos. Poderá mudar algo desta vez?
No primeiro debate que houve entre os pré-candidatos, temas como a imigração, saúde pública e perdão das dívidas estudantis nas universidades ocuparam o lugar central. Ainda que estes temas sejam caros para a maioria dos trabalhadores, poderá o Partido Democrata, o partido que representa uma fração da burguesia imperialista, defender os interesses dos trabalhadores? A julgar pela votação no Congresso das verbas para os campos de concentração de imigrantes implantados por Trump, nada mudará se os democratas ganharem as eleições. Ainda que seja deputados democratas que estejam denunciando as condições de imigrantes e que compararam os centros de detenções a campos de concentração (sem direito a banho, água insuficiente, pessoas forçadas a beberem agua de vasos sanitários, sem escovas de dentes, alimentação deficiente e sem roupa para trocar ou local de lavar roupas. Essas condições valem inclusive para bebês separados dos pais).
Uma saída socialista
Os dois maiores partidos nos EUA encontram-se em posições muito diferentes. Enquanto o partido Republicano foi dominado por Trump e encontra-se, bem ou mal, unificado por suas políticas, o Partido Democrata encontra-se fragmentado. A história do movimento operário nos EUA, do século 19 até hoje, mostra que a força dos trabalhadores pode confrontar a burguesia nos EUA. A desigualdade social cresce a olhos vistos, com os “mais ricos” aumentando sua renda e os “mais pobres”, mais de 99% da população, perdendo renda.
As liberdades democráticas conquistadas em dezenas de anos de combate, os direitos sindicais e acordos coletivos, estão cada vez mais questionados. A polícia se torna cada vez mais violenta, na repressão das manifestações e as mortes entre a população negra nas mãos dos policiais aumenta, apesar de todas as denúncias e manifestações.
As greves de professores sacudiram várias cidades e estados, tanto quanto dirigidos por democratas como dirigidos por republicanos. Por exemplo, no Oregon, um dos estados dirigidos pelos democratas, a seção da AFL-CIO do Estado publicou um artigo falando diretamente da “traição dos democratas” ao apoiarem uma reforma da previdência dos servidores públicos que rebaixa a aposentadoria em 8% a 12%!
Isso pode mudar? Pode. Para isso trabalham os marxistas, para ajudar os trabalhadores a romperem as ilusões destiladas pelas direções do movimento no Partido Democrata, a verem que a “constelação” de candidatos não levará a lugar nenhum. Somente uma política independente e socialista, a construção de um novo partido que represente realmente os trabalhadores pode mudar isso.